Mariana Grilli

Mariana Grilli

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Como o Brasil, um campeão da produção agrícola, pode ter comida tão cara?

Um levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta segunda-feira (27) aponta que 83% dos brasileiros acham que o preço dos alimentos subiu. Mesmo quem não acompanha dados oficiais sente no bolso a inflação dos alimentos, que foi de 7,7% em 2024 e acumulou 8,7% em dois anos. Carne, leite, óleo de soja, café, laranja, frutas... Praticamente nada escapa da alta.

Em vídeo gravado no meio da horta na Granja do Torto, o presidente Lula (PT) se disse preocupado e afirmou que irá dialogar com produtores e supermercadistas para encontrar uma forma de tornar o alimento mais barato. A fala dele mostra que o governo federal não sabe ao certo se a redução do preço dos alimentos virá das etapas antes ou depois da porteira.

Como um dos maiores países produtores agrícolas do mundo permite que a comida seja tão cara? Para entender isso, é preciso considerar os fatores terra, insumos, exportação, assistência técnica, logística e varejo.

Quem produz itens de exportação, como carne, soja e milho, está preferindo surfar na alta cotação do dólar em vez de comercializar o produto no mercado interno. Já o varejo precisa ser competitivo para manter a compra interna e ainda arcar com a logística. De qualquer forma, o repasse chega ao consumidor.

A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) afirmou que teria uma reunião com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio na segunda-feira (27), mas não esclareceu quais temas seriam tratados.

Soluções de curto prazo cogitadas incluem taxar as exportações ou reduzir as alíquotas das importações. Tais medidas poderiam ter sido pensadas previamente, acompanhando o ciclo da pecuária, o mercado global de grãos e insumos agrícolas, além da tendência de comportamento dos importadores.

Ao mesmo tempo, é importante pensar no doméstico, no arroz, no feijão, nos legumes e na salada, que também são influenciados por preços externos, mas é possível encontrar meios de controle interno.

A orientação de Lula, portanto, tem sido apostar em aumentar a oferta de produtos para reduzir o preço. Até aí, sem novidades, pois é a regra da economia. Para tal, há que se avançar na reforma agrária, no Plano Nacional de Fertilizantes e em políticas pública como o PAA (Programa Nacional de Aquisição de Alimentos), pouco discutidos em meio ao alvoroço da inflação.

Fala-se também em um novo Plano Safra para estimular que chegassem mais alimentos à mesa da população, o que envolveria os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária). A equação é equilibrar o avanço das terras privadas que visam a atender a exportação com a consolidação das terras públicas destinadas a assentamentos de agricultura familiar. Um imbróglio fundiário de décadas.

Continua após a publicidade

Além disso, sem mercado garantidor, o pequeno produtor acaba arcando com altos custos e correndo o risco de ver sua produção ser jogada fora. Se existe a necessidade de tornar o alimento mais barato e de reduzir a fome, garantir a compra de alimentos, portanto, é uma medida lógica.

Teixeira falou em outras ocasiões que, junto ao avanço da reforma agrária, é preciso fornecer pacote completo, o que significa a viabilidade da abertura de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), acesso a crédito, acompanhamento da assistência técnica rural e condições de fornecimento para o PAA e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

Transportar a comida pelas estradas do Brasil também influencia muito a inflação dos alimentos. A Petrobras já avisou o presidente Lula sobre a necessidade de aumentar o preço do diesel, o que pode encarecer ainda mais a conta no mercado. Se houvesse um plano federal robusto para biodiesel — feito de soja —, talvez não houvesse motivo para tanto temor.

Fato é que são mais de 60 milhões de brasileiros em insegurança alimentar entre leve, moderada e grave, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Gente que não sabe se irá comer no país do agronegócio.

Estes dias, em uma feira de rua, ouvi uma pessoa dizendo: "É aquilo, uma mão lava a outra, mas e se acabar a água?". Seja pelo bem da população ou pela popularidade de governo, é urgente evitar essa escassez.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

60 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Luiz Roberto Sannazzaro

A explicação é simples. Oferta e demanda. O governo lulista incompetente está levando o povo à miséria. Sem dinheito a demanda cai, os produtores não conseguem vender e param de produzir. A oferta diminui e o preço sobe. Só militante petista não entendem isso e acreditam nas mentiras do lula.

Denunciar

Ismaarquiteto Alves

Os teóricos são a praga deste país, olha só a autora deste artigo escrevendo um monte de coisas para justificar o fato dos alimentos no Brasil serem tão caros qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sabe que o Brasil é um dos países com os maiores impostos aplicados a tudo,do alimento a habitação e outra os ceasas deveriam ser centros de abastecimento para as grandes cidades e evitar a falta de alimentos, mais em vez disto os ceasas são verdadeiros atravessadores e os grandes responsáveis pelos preços abusivos praticados nos supermercados

Denunciar

Marcello Fransolin

O problema é que não existe nenhum tipo de política no governo. NADA, NENHUMA. Vejam os ministros do governo, faz 2 anos que eles estão aí e ninguém ouve falar deles. A maioria da população só conhece o Haddad.  Para que criar tantos novos ministérios se toda a decisão tem que passar pelo presidente? Se tivesse gente competente no ministério eles saberiam o que fazer com autonomia. O que tem lá é um monte de políticos patetas. Vejam o da casa civil, o do trabalho, o da agricultura( alguém sabe o nome?) etc. Ou seja,  não tem como melhorar!!!! INCOMPETISTAS. 

Denunciar