Agro está de olho na COP30, mas será que entende a complexidade envolvida?
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O embaixador André Corrêa do Lago é o escolhido para presidir a COP30. Com bagagem técnica e capital político acumulados em mais de duas décadas, ele estará à frente das discussões que envolverão os 198 membros da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) ao longo de 2025 e culminarão na cúpula em Belém do Pará, em novembro.
Atores do agro ouvidos pela coluna querem saber o que ele fará para "defender o agro sustentável", mas não é tão simples. Assim como na presidência do G20, quando o governo brasileiro não podia olhar somente para o próprio quintal ao conduzir as discussões, o mesmo acontece na COP30. É preciso lembrar que o evento é no Brasil, e não do Brasil.
Logo abaixo do presidente, como uma espécie de braço direito, Ana Toni, secretária de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, assume o cargo de diretora-executiva da COP30.
Diante da importância da agropecuária no país e da ânsia de posicioná-la como sustentável perante o mundo, representantes de diferentes segmentos vêm defendendo, desde 2023, o nome de Marcello Brito para ser o Campeão Climático de Alto Nível do Brasil. Atual secretário-executivo do Consórcio Amazônia Legal, coordenador do Centro Global Agroambiental da Fundação Dom Cabral e ex-presidente da ABAG (Associação Brasileira de Agronegócio), Brito tem apoios que vão desde Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, até Judiney Carvalho de Souza, presidente da Amaggi.
"Essa função de Champion ou 'paladino do Clima' foi criada na COP-21, em Paris, com o objetivo de melhor conectar as múltiplas ações de empresários e investidores, de entes subnacionais e iniciativas regionais, acadêmicas ou sociais, assim fortalecendo a ação político-diplomática que se desenvolve na dimensão oficial das fases preparatórias e das negociações em si."
O trecho acima está em documento entregue, em novembro de 2024, ao vice-presidente e ministro da Industria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Nele, quase 80 pessoas, entre representantes de entidades públicas e privadas, academia e ex-governantes, indicam Brito para ocupar essa posição. Procurado, ele somente confirmou que seu nome está na mesa para avaliação de Alckmin.
Rodrigo Lima, sócio da Agroicone, acompanha as COPs desde os anos 2000 e está entre os signatários da carta. Ele lembra que, em novembro, serão revisadas as ambições do Acordo de Paris, prestes a completar 10 anos. Com isso, serão discutidas as NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada, em português) para 2031-2035, e a pessoa no cargo de Champion do Brasil talvez precise encarar diálogos sobre desmatamento zero e a reconsideração da Lei do Código Florestal — a qual permite porcentagens de desmate a depender do bioma.
Se os sistemas alimentares forem elencados pela presidência da COP30 como tema prioritário na agenda climática, colocar alguém do agro na posição de Campeão Climático de Alto Nível poderá trazer forças para discutir a produção agropecuária em âmbito global.
Na avaliação de Lima, é preciso uma organização oficial do governo — liderada pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e pela Embrapa — para mostrar ao mundo as "várias agriculturas" sustentáveis.
"Essa é a possibilidade de mostrar ao mundo que temos o biocombustível, incluindo para aviação sustentável. Temos agropecuária de baixo carbono, agricultura familiar, restauração de vegetação nativa, bioeconomia de produtos da floresta. Há uma cesta de soluções climáticas no Brasil, mas que precisa ser ampliada e por isso a discussão sobre financiamento será pertinente de acontecer aqui", diz.
Lima acredita que a agenda de ação do Brasil certamente vai trazer a pauta de sistemas alimentares com agricultura sustentável para a COP30. Para ser visto com seriedade, o país precisa mostrar mais efetividade no Plano Clima, incluindo os planos setoriais de mitigação.
Fontes envolvidas com o setor de carnes e grãos estão vislumbrando, para Belém, apresentações suntuosas, shows de drones e experiências imersivas, para mostrar ao gringo como a produção em comunhão com a floresta é possível. É importante tomar cuidado para que a pauta de produção e acesso sustentáveis ao alimento não se torne um pão e circo elitista.
O que a comunidade internacional envolvida com emergência climática e transição energética espera é que 2025 seja um ano de esforços acelerados coerentes com as metas do Acordo de Paris e do Quadro Global de Biodiversidade. Para tanto, um roteiro de pautas e agendas é preciso estar bem definido. O Brasil, como presidente da COP30, está atrasado nisso.
O Mapa e o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) não comentaram sobre a indicação de Brito. O Mapa e o Ministério do Meio Ambiente também não responderam sobre como os sistemas alimentares serão pautados na COP30.
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