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REPORTAGEM

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Boeing 787 é mais silencioso graças à 'capa do Batman'; veja curiosidades

Boeing 787-10 durante seu lançamento: avião é um dos mais modernos da atualidade - Divulgação/Boeing
Boeing 787-10 durante seu lançamento: avião é um dos mais modernos da atualidade
Imagem: Divulgação/Boeing

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/10/2021 04h00

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O Boeing 787, que completou dez anos de seu primeiro voo comercial nessa terça-feira (26), tem tecnologias inovadoras. Ele é 50% mais silencioso que outros modelos, graças ao desenho do motor, conhecido como "capa do Batman". Além disso, suas janelas funcionam como óculos escuros e o ar interno é mais úmido, o que dá mais conforto aos passageiros.

A reportagem do UOL visitou o Centro de Manutenção de Linha da Latam no aeroporto de Guarulhos (SP) para conhecer de perto esse avião. Veja a seguir detalhes e curiosidades sobre esse que é considerado um dos jatos mais modernos da atualidade.

Só agora foi autorizado no Brasil

O modelo tem mais de mil unidades voando mundo afora. Apesar dos dez anos em operação, apenas no sábado (23) um exemplar do modelo foi certificado para voar com passageiros por uma empresa brasileira.

Operado pela Latam, o 787 decolou de Guarulhos (SP) com destino a Manaus (AM), marcando o fim do processo de certificação no país. Batizado de Dreamliner, o avião conta com diversas inovações para o setor, como o uso de fibra de carbono para compor a fuselagem e a presença de mais sistemas elétricos do que nos antecessores.

Materiais compostos

boeing - Divulgação/Boeing - Divulgação/Boeing
Interior de um 787 na linha de montagem da Boeing: avião é rico em materiais compostos
Imagem: Divulgação/Boeing

Uma das tecnologias mais inovadoras na fabricação do 787 são os materiais compostos, que representam 53% do total da aeronave. Sua fuselagem, por exemplo, é feita de fibra de carbono, material mais leve e resistente que o alumínio, utilizado em outros aviões do mesmo tipo.

Assim, o avião fica mais leve e economiza combustível. Junto a isso, os motores escolhidos para equipar o modelo (GEnx-1B ou Rolls-Royce Trent 1000, no caso da Latam) emitem 25% menos gás carbônico que outros similares.

Mais conforto

Trent 1000 - Divulgação/MilborneOne - Divulgação/MilborneOne
Motor Rolls-Royce Trent 1000, com a saída do ar em formato especial para diminuir o ruído
Imagem: Divulgação/MilborneOne

Os motores usados no 787 fazem 50% menos ruído em comparação com outros modelos segundo a fabricante. Isso diminui a poluição sonora e torna a viagem dentro da cabine de passageiros mais silenciosa, gerando menos incômodo em trajetos de longa distância.

Essa redução no ruído se deve, principalmente, ao desenho da saída de ar do motor. Em formato ondulado, ela dispersa melhor as partículas de ar, e foi apelidada de "capa do Batman" ou "roupa dos Flintstones", devido à sua semelhança com os adereços desses personagens.

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Assentos da cabine Premium Business do 787 da Latam que irá operar a rota entre São Paulo e Madri (Espanha)
Imagem: Alexandre Saconi

A umidade dentro da cabine também é maior que em outros aviões, chegando a 15% frente a 4% de outras aeronaves em geral. Como há o uso de materiais que não são tão suscetíveis à corrosão, como a própria fibra de carbono da fuselagem, é possível manter a umidade levemente mais alta, o que melhora a sensação de conforto a bordo.

O material composto da fuselagem também aguenta melhor a diferença de pressão entre o lado de dentro e o de fora da aeronave. Com isso, o interior da cabine reproduz a pressão atmosférica de um local a uma altitude de 1.800 metros, frente a 2.400 metros de outros aviões. Como resultado, o passageiro sente-se mais confortável devido à sensação de estar um pouco mais próximo do nível do mar.

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Assentos do Boeing 787 da Latam, que foi certificado para voar no Brasil
Imagem: Alexandre Saconi

Janelas são como óculos escuros

As janelas são maiores que a de outros aviões similares, com 46,7 centímetros de altura por 27,2 de largura, e não contam com cortinas (ou persianas) tradicionais. Cada janela tem um controle individual eletrônico para ser escurecida ou clareada de acordo com a vontade do passageiro.

Isso se torna útil em momentos em que o passageiro quer manter a visão do lado de fora, mas a claridade é muito alta, funcionando como óculos escuros. Em voos noturnos, por exemplo, quando o dia nasce e um passageiro esqueceu sua janela "aberta", os comissários podem escurecer cada uma individualmente, evitando que o clarão acorde as pessoas a bordo.

Veja o acionamento da janela do 787:

Pilotagem simples

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Cabine de comando do Boeing 787: semelhanças com o 777 facilitam a adaptação de pilotos ao novo modelo
Imagem: Alexandre Saconi

Pilotar o 787 é quase igual ao 777, requerendo apenas um curso breve sobre as pequenas diferenças entre um modelo e outro para que pilotos e comissários estejam aptos a operar esse avião. Isso economiza em treinamentos teóricos e em simuladores, o que reduz o custo da operação.

O modelo ainda conta com um sistema chamado HUD (Head up Display, ou, monitor de alerta, em tradução livre) de fábrica. Ele ajuda os pilotos a voarem projetando as informações mais importantes bem à frente de suas cabeças, e não apenas nas telas logo abaixo nos painéis do avião.

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HUD projeta informações aos pilotos
Imagem: Alexandre Saconi

Sistemas elétricos

Outra grande inovação do 787 é a utilização ampla de sistemas elétricos no lugar de sistemas pneumáticos, ou seja, aqueles movidos a ar. A partida do motor, por exemplo, é feita com um sistema elétrico, o que agiliza o acionamento.

Além de ser uma partida mais rápida, o mecanismo elétrico é mais eficiente quando comparado com o pneumático, permitindo que os dois motores sejam acionados simultaneamente e não um de cada vez, como no sistema antigo. Isso economiza combustível, já que o piloto não precisa esperar um motor estar pronto para, depois, acionar o outro, como nos aviões com partida pneumática.

O ar-condicionado também passa a ser elétrico, deixando de funcionar com o ar do motor. Essa melhora na potência é similar a um carro, onde o ar-condicionado tira um pouco da potência do motor quando está em funcionamento.

Certificação

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Boeing 787 da Latam no hangar da empresa em Guarulhos (SP): o primeiro com matrícula brasileira
Imagem: Alexandre Saconi

Por ser a primeira empresa a operar o 787 no Brasil, a Latam precisou participar do programa de certificação do modelo na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Inicialmente, a agência tem de analisar todos os manuais do avião, algo que pode levar de seis meses a um ano.

Em seguida, é preciso que a empresa que quer usar aquele modelo passe por todo o processo que demonstre sua capacidade operacional para treinar equipes, operar a aeronave e receber o avião nos aeroportos. No caso da Latam, os comandantes foram treinados em simuladores no Chile, e se formaram para capacitar outros pilotos da companhia.

Além de toda a parte de pilotagem, é preciso, também, verificar se as equipes de comissários de bordo estão adaptadas ao modelo. Um dos exames para garantir a certificação, por exemplo, é uma evacuação de emergência feita à noite, sem iluminação alguma dentro da cabine. Na simulação, é preciso garantir que a escorregadeira (equipamento utilizado para abandonar o avião) seja inflada em até 15 segundos.

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Compartimento utilizado pelos pilotos para descanso enquanto se revezam no comando em voos longos
Imagem: Alexandre Saconi

Apenas após essas etapas (entre outras) é que são realizados os voos de avaliação operacional. No caso da Latam, o voo de certificação foi feito entre os aeroportos de Guarulhos (SP) e Manaus (AM), mas o avaliador da Anac pediu que os pilotos desviassem e pousassem em Belém (PA).

Essa mudança teve a finalidade de garantir que, caso fosse necessário pousar em outro lugar, as equipes (tanto em voo quanto em solo) estariam preparadas para lidar com a situação.

O widebody (nome dado aos aviões de fuselagem larga, com dois corredores) realizará voos dentro do Brasil até estrear sua primeira rota internacional, ligando São Paulo a Madri (Espanha), o que está previsto para acontecer em dezembro.

Ficha Técnica

Boeing 787
Capacidade (duas classes): 248 passageiros (787-8), 296 passageiros (787-9) ou 336 passageiros (787-10)
Altura: 17 metros
Envergadura (distância de ponta a ponta das asas): 60 metros
Comprimento: 57 metros (787-8), 63 metros (787-9) ou 68 metros (787-10)
Distância máxima de voo: 13.530 km (787-8), 13.950 km (787-9) e 11.750 km (787-10)
Peso máximo de decolagem: 254 toneladas (787-10)
Velocidade: cerca de 1.000 km/h