Após problemas, como Boeing está atuando para garantir segurança de aviões?
A fabricante de aviões Boeing tem passado por uma série de crises nos últimos anos. Entre os principais problemas, se destacam as quedas de dois Boeings 737 Max em menos de cinco meses entre 2018 e 2019, e que resultaram na morte de 346 pessoas ao todo, o subsequente período de 21 meses sem esse modelo voar e, mais recentemente, uma porta tampão que se soltou de um avião da Alaska Airlines.
A empresa se comprometeu com a FAA (Administração Federal de Aviação, órgão regulador do setor nos EUA) a efetivar mudanças e garantir que novos problemas não ocorram. Para mostrar a evolução destes processos, companhia convocou a imprensa mundial para conhecer suas duas fábricas no estado de Washington (EUA), e o UOL foi um dos convidados.
Veja como a Boeing está trabalhando para evitar novos acidentes.
Treinamento, coaches e mentores
Uma das principais mudanças foi o foco no treinamento de seus funcionários. Após um período de baixa nos negócios devido à pandemia, a mão de obra da Boeing cresceu fortemente nos anos seguintes e milhares de novos empregados foram contratados nos últimos anos
O treinamento deles tem sido uma prioridade para a empresa, diz a Boeing. Elizabeth Lund, vice-presidente sênior de qualidade da empresa, destacou a necessidade de que estes novos funcionários sejam treinados adequadamente, e que os antigos possam passar por reciclagens ou voltarem para o centro de treinamento da empresa caso sua performance seja insuficiente.
O mesmo disse Lance Ball, diretor de produção e segurança da Boeing.
Fizemos grandes melhorias em qualidade e segurança, e estou muito confiante que, cada estudante que deixa o centro de treinamento da empresa e segue para a linha de produção tem o conhecimento e a capacidade necessária para realizar seu trabalho de maneira correta e segura
Lance Ball, diretor da Boeing
Simultaneamente, 160 coaches e mentores passaram a atuar na linha de montagem dos aviões para acompanhar os trabalhadores de perto. Sempre que algum deles tiver alguma dúvida, um desses profissionais deverá ser facilmente encontrado para orientar a melhor forma de resolver o problema.
Ainda, toda semana a produção dos aviões é paralisada para que os funcionários possam se reunir. Nesse momento, são debatidas melhorias de segurança e de qualidade envolvendo a montagem e a fabricação dos aviões.
Sobre os delatores, que apontaram possíveis problemas na linha de produção dos aviões nos últimos meses, a executiva não criticou a postura deles. "Se eles não quiserem falar conosco, está bem irem atrás da FAA. O que nós queremos é fechar essas lacunas existentes na produção", afirma Elizabeth.
Questionada sobre as razões de ainda serem relatados possíveis problemas na produção do 737 Max, a vice-presidente da Boeing foi categórica.
Nossa fábrica está sob controle. Foi preciso diminuir a velocidade do que fazemos para termos certeza do que tudo está sob controle.
Elizabeth Lundo, vice-presidente sênior da Boeing
Outro problema apontado pela executiva é a terminologia que era usada nos processos da fábrica. Anteriormente às mudanças, era um inglês técnico, com termos comuns à engenharia. Hoje, com as alterações, é usado um inglês corriqueiro, aperfeiçoado por meio da utilização de recursos de inteligência artificial. Segundo ela, isso deve melhorar a compreensão dos funcionários sobre os processos. Principalmente entre aqueles que têm o inglês como segunda língua.
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Antes do último incidente envolvendo o avião da Alaska Airlines em janeiro, a empresa ainda não tinha noção de como processos simples precisavam vistos com outro olhar.
Isso levou a outra mudança importante. Antes das fuselagens chegarem para a montagem final na fábrica da Boeing, elas são inspecionadas para identificar qualquer item que não esteja em conformidade com os padrões exigidos. Se houver algum problema, elas não seguem para Renton, no estado de Washington (EUA).
Sem qualidade? Linha vai atrasar montagem
Outro procedimento que passou a ser adotado pode pesar no bolso da Boeing, mas os executivos afirmam que é necessário para garantir a qualidade. Se no avião, durante suas etapas de produção, encontra-se algum item fora do padrão, aquela unidade não segue para a próxima etapa até que o problema esteja resolvido.
Cada 737 demora 10 dias para ser montado por completo e, em cada etapa, que dura um dia geralmente, diversos itens são preparados. Anteriormente, se um desses itens não ficava pronto, a fuselagem do avião poderia avançar para a próxima etapa, momento em que a falha seria corrigida.
Um exemplo hipotético seria a fixação de uma das janelas. Em tese, não haveria nenhum problema em ela ser fixada durante a próxima etapa de montagem. Entretanto, hoje, o avião não continuaria seu processo de montagem antes de ela ser fixada e um profissional diferente realizar a inspeção para saber se o trabalho foi feito adequadamente.
Caso ocorra esse tipo de situação, haverá um buraco na linha de produção, e a entrega da aeronave sofrerá o atraso de ao menos um dia. Entretanto, a Boeing reconhece que isso é necessário para melhorar a segurança de seus aviões e evitar que possa haver algum problema posterior.
No Brasil, a Gol é a principal cliente da Boeing. Todos seus aviões são da fabricante norte-americana, sendo, predominantemente, os 737. Em 2020, após o fim das restrições de voo ao 737 Max, a empresa foi a primeira do mundo a decolar com o modelo novamente.
Azul também opera o 737, mas apenas na versão cargueira e de um modelo diferente do Max. Latam usa, entre outros, os modelos 787 e 777 da Boeing para voos internacionais.
* O colunista viajou a convite da Boeing.
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