'Varig, Varig, Varig': Você lembra? Reveja campanhas da extinta aérea
"Varig, Varig, Varig". Mesmo quem é mais novo deve se lembrar de já ter ouvido alguma vez na vida um dos jingles mais famosos do Brasil. Mais especificamente, a assinatura sonora da extinta companhia aérea, que voou entre 1927 e 2006.
Após quase 18 anos do fim da operação da empresa, as campanha publicitárias ainda vêm à mente de muitas pessoas. O que algumas não sabem é que essa obra e outras da Varig são criação de José Bonifácio de Oliveira, o Boni, ex-todo poderoso na Globo e que se aposentou da televisão neste ano.
'Papai Noel voando a jato pelo céu'
A campanha de Natal da Varig, a principal da companhia, teve mais de 20 versões gravadas ao longo dos anos. Algumas delas incluíam participações de artistas como Xuxa e Jorge Ben Jor.
A letra original era a seguinte: "Estrela brasileira no céu azul, iluminando de norte a sul. Mensagens de amor e de paz, nasceu Jesus, chegou o Natal. Papai Noel voando a jato pelo céu, trazendo um Natal de felicidade e um Ano-Novo cheio de prosperidade", e terminava com a marca sonora apenas instrumental que fazia referência ao famoso "Varig, Varig, Varig".
Outra campanha que ficou famosa, ainda da década de 1960, foi a que celebrava a rota ligando o Rio de Janeiro a Lisboa (Portugal). A canção era de autoria do compositor Archimedes Messina, e foi interpretada por Ada de Castro, cantora de fado portuguesa.
A peça publicitária cantava: "Sêo Cabral vinha navegando, quando alguém logo foi gritando: 'Terra à vista!' Foi descoberto o Brasil, e a turma gritava: 'Bem-vindo seu Cabral'". A música era, então, interrompida por uma fala da personagem de Pedro Álvares Cabral dizendo "Escreva aí, Caminha, para o nosso querido rei, que esta terra é linda e generosa, e que há gente muito bondosa". A música, então, continuava: "Mas Cabral sentiu no peito uma saudade sem jeito". Cabral, então, concluía: "Volto já pra Portugal. Quero ir pela Varig", seguida pela assinatura musical repetindo o nome da empresa três vezes.
Por fim, outra campanha famosa da aérea promovia os voos ligando o Brasil ao Japão. Nela, era contada a saga de Urashima Taro, uma tradicional lenda japonesa. A versão adaptada pela companhia aérea fala de um pescador que salvou uma tartaruga, que, depois, ficaria sabendo que era filha do imperador do mar.
Como prêmio, ela o levou ao Brasil, mas, depois de anos, ele ficou com saudade de sua terra natal. A princesa, então, lhe deu uma arca. Ao abrir, ali estava uma passagem da Varig para ele voltar para voltar ao Japão.
Humor para promover a empresa
Outra campanha famosa ironizava voos longos, em que eram feitas muitas paradas. Na década de 1990, quando a peça foi ao ar, nem sempre distâncias mais longas eram feitas em voos diretos.
Na propaganda, uma comissária animada puxava um coro com os passageiros batendo palma e cantando: "560 quilômetros. 560 quilômetros. Pare um pouquinho, descanse um pouquinho, 550 quilômetros". Ela continuava, ora pedindo animação, ora dizendo que era para apenas um lado do avião cantar, encerrando com um "everybody", que significa "todo mundo", em inglês.
A abordagem bem-humorada, com a tradicional marca sonora "Varig, Varig, Varig" a final, foi outra campanha que ficou marcada na memória das pessoas.
Versão original foi criação de Boni
Antes dos jingles das campanhas da empresa, em 1958 nascia o "Varig, Varig, Varig", que é a identidade sonora da marca e foi criada por Boni. Antes de entrar para a emissora carioca, o ex-Globo tinha uma agência de publicidade, a BEL (Boni, Edmilson e Laerte), responsável pelas campanhas da Varig desde aquele ano até 1960, ano de lançamento do jingle natalino ("Papai Noel voando a jato pelo céu").
"O 'Varig, Varig, Varig' nasceu na medida em que o Ruben Berta [então presidente da companhia] achava muito sisudo o logotipo da empresa, e ele queria preservar isso. Ele não queria jingle, não queria música em nenhuma campanha da Varig pois ele tinha uma preocupação muito grande de mostrar uma certa segurança, uma certa importância, e ele não queria que isso fosse popularizado", disse Boni em entrevista ao Todos a Bordo em 2020.
Para mexer com esse logo da Varig, que era considerado muito conservador pelo publicitário, Boni conversou com um amigo, Victor Dagô, para que musicasse três letras que ele havia pedido para o seu sócio, Laerte Agnelli. "Ele [Dagô] falou: 'O que que você quer?' Eu disse 'Varig, Varig, Varig' [cantarolando]. E ele respondeu: 'Então está pronto. É só fazer o arranjo", disse Boni sobre como surgiu a identidade da marca para as rádios e TVs.
Após isso, em 1960, o ex-executivo da Globo criou a frase "Papai Noel voando a jato pelo céu", tema da campanha de Natal da empresa naquele ano. Boni havia feito um roteiro para a propaganda e pediu que o compositor Caetano Zamma musicasse o comercial.
"Ele me pediu para usar o 'Varig, Varig, Varig', e eu disse que era obrigatório ele usar. O roteiro do filme é meu, a letra do jingle é minha e a melodia é do Caetano Zamma", afirmou o publicitário.
"Ruben Berta era muito conservador, ele queria o logotipo da Varig conservado. Então, quando nós conseguimos vender para ele o 'Varig, Varig, Varig', ele ficou mais alegre e, aí, aceitou o jingle de Natal. Ele disse 'não me venha com musiquinha aqui que eu não quero'. Quando ele ouviu, topou fazer", disse Boni.
Após deixar de fazer as campanhas da companhia aérea, Boni permitiu que a identidade sonora da empresa continuasse sendo usada por outros publicitários. "[A música] Era patrimônio da Varig. Ainda em 1960, quando eu fui para a [agência] Multi, eu cedi os direitos para a empresa usar como ela quisesse. Não tinha sentido não fazer dessa maneira", disse Boni ao UOL.
O executivo ainda afirmou que "a música foi para sempre, o vídeo é que foi se transformando", pelo fato de que, de tempos em tempos, uma nova versão da campanha era elaborada, mas sempre mantendo o jingle do Papai Noel voando a jato pelo céu e a assinatura sonora ao final remetendo ao "Varig, Varig, Varig".
A campanha de Natal da Varig já contou com gravações de nomes incluindo Xuxa, Jorge Ben Jor e as Meninas Cantoras de Petrópolis.
Reportagem
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