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Culpa do piloto? Falha do avião? O que pode fazer aeronaves baterem em solo

Dois aviões da Latam colidiram durante o taxiamento no pátio do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, nesta terça-feira (3). A asa de um avião atingiu a traseira de outra aeronave. Esse tipo de ocorrência é comum? Por que acontece?

Acontece raramente

Situações de toque entre aviões no solo são eventos raros e, geralmente, não deixam feridos apesar do susto. São operações enquanto as aeronaves estão se movimentando no solo, e não acidentes graves, como aqueles durante o pouso e a decolagem.

Também há um outro tipo de incidente no solo, que ocorre quando um avião é atingido por uma escada de serviço ou um veículo usado no aeroporto, por exemplo. Foram registradas 29 ocorrências do tipo no Brasil desde 2020, índice sete vezes maior do que o das colisões entre aeronaves.

Por que acontece?

Grande parte dessas ocorrências se deve à falta de noção do espaço que o avião está ocupando no solo. De dentro da cabine, é difícil os pilotos acompanharem onde as pontas das asas estão, ainda mais do lado oposto de onde estão sentados.

As pistas de taxiamento e os espaços de manobras dos aeroportos têm linhas desenhadas no solo que servem para orientar a movimentação das aeronaves. Elas são planejadas para que os pilotos possam se deslocar em segurança sem colocar a operação em risco.

Aeroportos também têm cartas que orientam por onde os aviões irão taxiar. Nelas, está descrito qual a envergadura [distância de ponta a ponta da asa] máxima que um avião pode trafegar sem correr o risco de bater em algum obstáculo, como um poste ou outro avião. Os pilotos precisam analisar essa documentação antes de se deslocarem no aeroporto.

Um caso extremo é o dos aviões Airbus A380 e Boeing 747, dois dos maiores modelos em operação no mundo hoje em dia. Devido ao seu tamanho, eles devem seguir rotas de taxiamento pré-determinadas, e não podem se movimentar por qualquer pista sem autorização.

Outra possível causa para um incidente do tipo ocorre é o fato de os pilotos estarem concentrados em outras atividades comuns da cabine no momento da movimentação. Após o pouso, é preciso realizar diversas tarefas enquanto se está taxiando e, ao se abaixar a cabeça ou focar em outro local, é possível que esse tipo de ocorrência aconteça.

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Isso é raro, já que os tripulantes seguem a linha central indicada para a movimentação. Entretanto, pode acontecer de que algum equipamento, como uma escada, seja posicionada em uma dessas áreas de segurança por algum equívoco, podendo vir a causar a colisão.

Outra hipótese seria uma possível falta de coordenação entre os diversos atores envolvidos na operação aeroportuária. Uma aeronave pode ter tido sua movimentação autorizada enquanto outra estaria se movendo equivocadamente, fazendo com que ambas entrassem em rota de contato.

Por fim, ainda há a possibilidade de uma falha mecânica, como um problema com o freio, levando as aeronaves a se deslocarem de maneira errada.

Mundo afora

Em janeiro de 2024, um avião da Korean Air atingiu um da Cathay Pacific enquanto taxiava no aeroporto de New Chitose, na região de Sapporo, no Japão. O avião da Cathay estava vazio no momento. Ainda em janeiro, uma aeronave da All Nippon Airways que se movimentava para decolar do aeroporto Chicago O'Hare, nos EUA, atingiu a parte de trás de uma aeronave da Delta.

Em fevereiro, a ponta da asa de um avião da JetBlue atingiu a traseira de outro da mesma empresa durante movimentação no aeroporto Logan, em Boston (EUA). Eles estavam na área de degelo, local onde os aviões param para receber um "banho" com líquidos especiais para remoção de neve e gelo de suas superfícies. Em todos os casos, ninguém ficou ferido e os aviões foram recuperados posteriormente.

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O que aconteceu

A Latam confirmou o incidente e afirmou que "o evento não colocou em risco nenhum dos passageiros e tripulantes de ambos os aviões". Eles também afirmaram que todos foram desembarcados em segurança.

As duas aeronaves foram retiradas de circulação para serem inspecionadas. "Todos os clientes serão reacomodados em outros voos da companhia", afirmou a Latam.

O acidente será investigado pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). A companhia afirmou que colabora com o órgão para o esclarecimento do evento.

Fonte: Saulo Alves Utempergher, piloto, integrante do grupo Proa Certa, um coletivo de profissionais da aviação que ajuda pilotos a se recolocarem no mercado.

Com informações de reportagem publicada em 31/07/2024

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