Há 35 anos, Senna quebrava a barreira do som durante voo em caça da FAB
Recentemente, o nome do piloto Ayrton Senna (1960-1994) voltou aos noticiários devido a uma série biográfica lançada pela Netflix. No ano em que a morte do piloto completa 30 anos, outro momento histórico da vida desse brasileiro também faz aniversário. Há 35 anos, Ayrton Senna voava de carona em um caça da FAB (Força Aérea Brasileira).
A preparação
No dia 29 de março de 1989, o piloto de Fórmula 1 voava em seu próprio avião rumo à Base Aérea de Anápolis, em Goiás. Ele foi acompanhado até o momento do pouso por dois caças Mirage III do Esquadrão Jaguar, modelo que ele iria voar logo mais.
No ano anterior, o piloto havia ganhado seu primeiro título mundial na categoria. Antes de embarcar no caça, ele foi preparado pelos militares e manteve uma conversa com o então tenente-coronel Alberto de Paiva Cortes, que pilotaria a aeronave.
"Nós queríamos demonstrar a capacidade do Mirage III, realizar algumas manobras e romper a barreira do som. Senna queria, acima de tudo, sentir a velocidade da aeronave supersônica, porque ele queria sentir a diferença entre pilotar um caça e pilotar um carro de Fórmula 1", disse o militar em entrevista à própria FAB.
Embora tivesse experiência em voos (Senna possuiu diversas aeronaves e já havia voado em um caça F-5 da FAB em 1987), ele queria saber como seria quebrar a barreira do som. O piloto, então, teria pedido para que o avião voasse o mais próximo possível do solo, o que permitiria ter uma sensação melhor da velocidade em que estariam.
O voo
O avião decolou e subiu para uma altitude de cerca de 11 km. Nesse momento, o comandante acelerou o caça até atingir a velocidade de 1.728 km/h, aproximadamente 1,4 vez a velocidade do som.
Nesse momento, pessoas sem treinamento ficariam enjoadas ou se sentiriam mal devido às velocidades extremas para o corpo humano. Entretanto, isso não aconteceu com Senna, que possuía um preparo físico excepcional para aguentar as forças da aceleração do carro de Fórmula 1.
A todo momento, relatam os presentes naquele dia, o piloto se mostrava muito excitado com o voo e falava muito durante a experiência. Em um momento do voo, foram feitas duas passagens rasantes sobre a base aérea a uma velocidade de 1.173 km/h, pouco abaixo da velocidade do som.
Segundo Paiva Cortes, ele deixou que Senna movimentasse os controles do caça e pilotasse a aeronave. Senna fez uma passagem sobre a pista da base e saiu dela girando o avião, momento em que o voo foi encerrado e retornaram para o pouso.
Após o voo, em vez do tradicional banho de água dado aos pilotos em ocasiões especiais, a saudação de Senna foi feita com uma garrafa de champanhe. "Quando um piloto faz o voo solo no Mirage, nós inovamos, e o piloto abria uma garrafa de champanhe. Isso caiu como uma luva para o Senna pois, quando ele ganha uma corrida de Fórmula 1, ele faz exatamente isso", disse o tenente-coronel que pilotou o caça naquele dia.
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Quero receberO Mirage III que Senna voou naquele dia foi desativado em 2005. Desde 2011, ele faz parte do acervo do Musal (Museu Aeroespacial), no Rio de Janeiro, e, em sua fuselagem, constam os nomes daqueles que voaram naquele dia em 1989.
Um outro Mirage recebeu uma pintura especial para homenagear a façanha de Senna, e está disponível para a visitação do público. O caça foi doado pela Aeronáutica ao museu Asas de um Sonho, e foi recentemente transferido de São Carlos (SP) para as novas instalações da instituição em Itu (SP), onde poderá ser visitado. Veja no vídeo a seguir:
Aeronave especial
Em 2019, na celebração dos 30 anos daquele voo histórico, a FAB realizou um voo na mesma base aérea com Leonardo Senna, irmão do piloto. Ele voou em um caça F-5, o mesmo que o tricampeão mundial havia pilotado em 1987, no Rio de Janeiro.
Após o pouso, ele pôde testemunhar uma homenagem feita ao seu irmão: uma aeronave Mirage pintada com a bandeira do Brasil e um jaguar na fuselagem, animal que é uma referência ao esquadrão responsável pela operação dos caças na Base Aérea de Anápolis.
A pintura foi desenvolvida por Raí Caldato e Alan Mosca, filho do designer Sid Mosca, responsável pela arte nos capacetes de Senna.
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