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Bolsa tomba 2,75% e tem menor patamar em quase 1 ano; dólar sobe a R$ 5,668

Moeda norte-americana atingiu maior valor ante ao real desde abril deste ano - Getty Images/iStockphoto
Moeda norte-americana atingiu maior valor ante ao real desde abril deste ano Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

21/10/2021 17h22Atualizada em 22/10/2021 18h27

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, tombou 2,75% nesta quinta-feira (21) e fechou a 107.735 pontos, menor patamar em quase um ano, desde 23 de novembro de 2020 (107.378,92), após a confirmação de que o governo fará uma manobra no teto de gastos para viabilizar um auxílio social de R$ 400 até o final de 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentará a reeleição. O dólar comercial subiu 1,92% e terminou o dia cotado a R$ 5,667 na venda, maior valor em mais de seis meses, desde 14 de abril (R$ 5,67). Foi a maior alta diária em mais de um mês, desde 8 de setembro (2,89%).

A Bolsa chegou a registrar queda de 4,5% ao longo do dia, logo depois de sair a notícia de que o governo acertou uma mudança no teto de gastos para abrir um espaço de R$ 83,6 bilhões para despesas adicionais em 2022. A mudança já foi incluída hoje na PEC dos precatórios, que tramita em comissão da Câmara. Investidores avaliam que a manobra no teto abra é populista e abre caminho para o descontrole das contas públicas.

Com o resultado de hoje, o dólar soma valorização de 9,21% em 2021. O Ibovespa, em contrapartida, registra queda de 9,48% desde o início do ano.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

O acordo foi fechado entre as alas política e econômica do governo, ou seja, com a anuência do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Antes, o mercado já reagia a declarações dadas ontem por Guedes, após o fechamento do mercado, quando falou em "licença para gastar R$ 30 bilhões fora do teto" para bancar o benefício de R$ 400. O teto de gastos, que congela os gastos públicos, é uma regra constitucional criada no governo Michel Temer.

Se tem uma coisa que o mercado não gosta é de governo que dá guinadas populistas e flerta com a irresponsabilidade fiscal, ainda mais tratando-se de um país emergente como o Brasil.
Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora

Tesouro Direto suspendeu negociações três vezes

O abalo no mercado também chegou à renda fixa. O Tesouro Direto, plataforma do governo em que são negociados os títulos do Tesouro Nacional, teve as negociações suspensas três vezes por causa da forte oscilação nos preços dos papéis. A interrupções ocorreram entre o fim da manhã e o meio da tarde.

Mesmo quando a plataforma estava aberta para negociações, apenas os títulos pós-fixados corrigidos pela taxa básica de juros Selic, o Tesouro Selic, podiam ser comprados ou vendidos.

A Secretaria do Tesouro Nacional suspende temporariamente as negociações para evitar que o investidor feche negócios com perdas por causa de preços que não refletem corretamente as condições do mercado de títulos públicos.

Dinheiro para auxílio e emendas parlamentares

A proposta que consta na PEC dos precatórios consiste em mudar a fórmula do teto, que hoje é corrigido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses até junho do ano anterior ao de sua vigência.

A ideia é adotar a correção da inflação de janeiro a dezembro. Só essa mudança proporcionaria uma folga extra de R$ 40 bilhões, segundo fontes ouvidas pela reportagem do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Aliada à limitação do pagamento de precatórios (dívidas judiciais), que já era uma medida apresentada pela equipe econômica ao Congresso Nacional, o espaço total em 2022 ficará em R$ 83,6 bilhões.

É esse espaço que Bolsonaro terá para acomodar os R$ 51,1 bilhões de gastos adicionais com as mudanças no Auxílio Brasil (reajuste permanente de 20% mais a parcela temporária para chegar aos R$ 400) e também gastos com emendas parlamentares, preciosas para congressistas que também buscarão novo mandato em 2022.

Guedes: 'Licença para gastar fora do teto'

Ontem, Guedes defendeu o rompimento do teto de gasto, regra fiscal que limita a despesa pública ao orçamento do ano anterior corrigido pela inflação.

Para bancar o auxílio de R$ 400, Guedes admitiu a necessidade de uma "licença para gastar" R$ 30 bilhões fora do teto de gastos.

Desde o início das negociações envolvendo um benefício temporário para turbinar o Auxílio Brasil (que vai substituir o Bolsa Família), foi a primeira vez que Guedes, antes defensor ferrenho do teto de gastos, reconheceu publicamente que precisará driblar a regra para entregar o que Bolsonaro determinou.

O teto é considerado pelo mercado financeiro a "âncora fiscal" do país. O temor é que, se ele for rompido, haja descontrole das contas públicas.

É a primeira vez que o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinaliza nessa mesma direção [de desrespeito ao teto de gastos], ao dizer que ou irá antecipar uma revisão do teto de gastos ou pedir um 'waiver', uma licença para gastar com essa camada temporária de proteção. Para completar, Bolsonaro ainda disse que irá dar um auxílio aos 750 mil caminhoneiros para compensar a alta do diesel. Com isso, o Ibovespa cai mais de 4%.
João Beck, economista e sócio da BRA Investimentos.

"A elevação do risco fiscal como resultado dessas incertezas tem levado as apostas de um ajuste mais duro na próxima reunião do Copom", afirmou a XP em nota a clientes. Ou seja, analistas já consideram um aumento maior na taxa básica de juros, a Selic.

O JPMorgan passou a prever alta 1,25 ponto percentual da Selic na próxima reunião do comitê de política monetária do Banco Central, com a taxa básica de juro chegando a 9,75% ao ano em fevereiro.

Desenvolvimentos recentes na frente fiscal contaminam os preços dos ativos, prejudicam a credibilidade da política e aumentam o risco de alta para nossas perspectivas de inflação de médio prazo.
JPMorgan

Com Reuters e Estadão Conteúdo