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Empresa fatura R$ 20 mi reciclando fralda usada e embalagem de salgadinho

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/09/2018 04h00Atualizada em 07/05/2019 19h02

Sabe aquela embalagem de salgadinho que você joga fora depois de comer? E a fralda suja do bebê, que vai parar na lata de lixo? Itens como esses, que são descartados diariamente, viram matéria-prima para a fabricação de outros produtos na empresa Boomera, com sede em São Paulo.

Segundo a companhia, os materiais descartáveis são recolhidos de cem pontos de entrega (escolas, condomínios e supermercados), 200 cooperativas de catadores e 400 empresas clientes da Boomera em todo o país.

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Na fábrica da empresa, em Cambé (PR), esses materiais são transformados em resinas para a fabricação de outros produtos, como pallets plásticos, lonas agrícolas e displays de pontos de venda, como balcões e estantes. Outros produtos estão em desenvolvimento.

Empresa pratica 'economia circular'

Fundador e presidente da Boomera, Guilherme Brammer, 41, diz que a empresa faz a "economia circular" desde o desenvolvimento da embalagem, o recolhimento do descarte e a transformação em outro produto até a comercialização em cerca de 15 mil pontos de venda.

A companhia atua em duas áreas:

  • Logística reversa: é contratada por empresas interessadas na coleta de embalagens dos seus próprios produtos e, então, implanta e faz a gestão de cooperativas de catadores
  • Engenharia circular: a partir do material coletado e reciclado, desenvolve novos produtos, como embalagens

"A empresa atua em toda a cadeia produtiva, desde a pesquisa de qual material o cliente poderá escolher para seus novos produtos, a gestão da logística reversa dos resíduos gerados, a parceria com cooperativas de catadores, até dar nova vida a esses materiais na nossa fábrica e vender os produtos reciclados", afirmou o empresário.

Veja exemplos de materiais coletados e em que produtos eles são transformados:

  • Embalagens de salgadinho, chocolate, café, biscoito e ração: viram pallets plásticos e lonas
  • Resíduos eletrônicos, como placas e telas de celular: viram cadeiras projetadas pelo designer Marcelo Rosenbaum
  • Resíduos de produtos da marca P&G, como embalagens flexíveis: viram displays de pontos de venda
  • Embalagens de produtos da marca Sou, da Natura: viram embalagens plásticas para a própria Natura
  • Cápsulas de café Dolce Gusto, da Nestlé: viram bandejas para armazenamento de novas cápsulas e vasos para plantio de mudas de café

No caso das fraldas usadas, a parte orgânica (urina e fezes) é separada da parte plástica e descartada. O plástico, então, é transformado em resinas, mas Brammer não revelou quais produtos são produzidos a partir dela. "Estamos com um grande projeto, que será lançado em dois meses", disse.

A empresa não divulga o investimento inicial nem o lucro do ano passado. Em 2017, o faturamento foi de R$ 20 milhões. A previsão é faturar R$ 40 milhões neste ano, segundo Brammer. A empresa começou com dois funcionários; hoje, tem 140.

O empresário disse que a Boomera tem mais de 400 clientes, entre eles empresas como Nestlé, P&G, Natura, Adidas e Unilever.

Empresa fabrica lonas impermeáveis

Criada em 2011 com o nome de WiseWaste, a empresa foi rebatizada de Boomera em maio do ano passado, ao comprar uma unidade de negócio da subsidiária brasileira da norte-americana Bemis, especializada na fabricação de embalagens e lonas impermeáveis. A Boomera passou, então, a fabricar as lonas Carreteiro, marca que era da Bemis no Brasil. O valor da transação não foi revelado.

As lonas são fabricadas com uso de material reciclado, com uma tecnologia própria. "Essa tecnologia permite usarmos apenas um tipo de material na fabricação da lona, o que lhe dá mais resistência e a deixa mais leve", declarou.

Engenheiro de materiais e especialista em sustentabilidade, antes de criar a WiseWaste, Brammer trabalhou em empresas de matéria-prima para a indústria de embalagens. "Sempre ficava questionando o porquê de tanto desperdício na cadeia produtiva e no resíduo pós-consumo. Comecei a analisar o impacto ambiental e social que os produtos geravam e me especializei no tema", afirmou.

Há pouco incentivo a pesquisas no setor, diz consultora

A consultora do Sebrae-SP Dórli Terezinha Martins disse que, por causa da Politica Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, tem aumentado a conscientização das pessoas e das empresas quanto à reutilização e reaproveitamento de materiais.

"Dentro da própria lei, a logística reversa prevê que as indústrias sejam responsáveis pelo pós-consumo. Ainda não é uma política abrangente, mas há setores, como o de embalagens, que têm tido bastante atuação na reutilização de materiais. E a Boomera atua nesse nicho", disse.

A consultora afirmou, no entanto, que o crescimento da empresa pode ser lento, pois depende de mudança de postura por parte das indústrias e dos consumidores. "Outro ponto que pode prejudicar a Boomera é quanto ao desenvolvimento de novas tecnologias, pois há pouco incentivo às pesquisas nesse setor."

Segundo ela, o Sebrae está desenvolvendo uma plataforma, chamada de Waste Match, para aproximar pequenas empresas geradoras de resíduos e os interessados na compra desse material. "O nosso foco é o pequeno gerador, que tem dificuldade de se adequar à legislação para o encaminhamento desses materiais descartáveis", disse. A previsão do Sebrae é lançar a plataforma no início de 2019.

Onde encontrar:

Boomera - http://boomera.com.br/

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BBC Brasil