Desemprego diminuiu? Para economistas, agricultura e informalidade salvaram
O desemprego no país teve a primeira queda estatisticamente significativa desde o final de 2014, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira (28). A taxa chegou a 13%, com 13,5 milhões de desempregados no segundo trimestre.
O governo tem comemorado os dados sobre emprego. O presidente Michel Temer disse que "estamos crescendo no emprego" e que a crise econômica no Brasil "não existe". O porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, declarou que a "volta do emprego" é uma conquista do atual governo.
Para economistas consultados pelo UOL, porém, o Brasil está vivendo um processo de estabilização do desemprego. Os dados positivos do primeiro semestre foram impulsionados pela agricultura e pelo aumento do trabalho informal, sem carteira assinada.
Mais emprego, mas sem garantias trabalhistas
Os dados do IBGE mostram que a taxa de desemprego caiu, mas também houve queda das vagas com carteira assinada. "Infelizmente, a ocupação cresceu pelo lado da informalidade, ou seja, há mais pessoas sem carteira e por conta própria, que não têm garantias trabalhistas", disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Essa também é a avaliação de Carlos Alberto Ramos, professor da UnB (Universidade de Brasília). "A [leitura] positiva é que é melhor que a pessoa esteja empregada sem carteira, do que desempregada", diz. "A negativa é que a taxa de desemprego está caindo pela informalidade."
Para ele, os empregos com carteira só devem aumentar significativamente quando a economia crescer mais, estimulando os empresários a investir e a contratar.
Empresas pararam de demitir, mas ainda não contratam
Os dados divulgados agora mostram que o total de pessoas com trabalho (com ou sem carteira) está praticamente igual em relação ao começo do ano, mas que a taxa de desemprego aumentou, aponta Hélio Zylberstajn, professor da USP (Universidade de São Paulo).
"O que acontece é que continuam a chegar novos trabalhadores, mas como o mercado está parado, ele não absorve essas pessoas."
Por outro lado, de acordo com ele, esses dados trazem um bom sinal: aparentemente, as empresas pararam de demitir. A questão é que, por enquanto, ainda não estão contratando.
Agricultura segurou as pontas
Os números do IBGE não são os únicos sobre emprego no país. O Ministério do Trabalho divulga mensalmente dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mede somente o trabalho com carteira assinada.
O último levantamento divulgado pelo Ministério mostrou a criação de 67.358 vagas com carteira no primeiro semestre. O país havia fechado vagas no primeiro semestre de 2016 (-531.765) e de 2015 (-345.417).
Os economistas, porém, afirmam que o resultado positivo foi puxado pela agricultura: sem ela, o país teria perdido 50 mil vagas com carteira de janeiro a junho. "Nesse número do Caged é importante tirar a agricultura, porque no primeiro semestre ela se expande muito. Então, isso afeta o resultado por causa da sazonalidade", afirma Zylberstajn.
Além de normalmente gerar mais empregos no primeiro semestre, a agricultura também teve uma safra recorde e é beneficiada pela alta do dólar, que beneficia as exportações. "(...) O clima foi totalmente favorável, a safra veio com tudo. Então, é uma bonança para o pessoal da agricultura", diz George Sales, professor da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Para Sales, a perspectiva geral do emprego não é boa e falta a construção civil parar de demitir. Foram 33 mil vagas a menos no semestre. "Para mim (a construção) seria o mais importante desses grupos porque move uma cadeia (produtiva) muito grande."
Situação está se estabilizando
Mesmo com essa perda de empregos com carteira, Zylberstajn vê um lado positivo, que é a estabilização do desemprego. Apesar de, sem a agricultura, o país ter perdido vagas com carteira, perdeu bem menos que no ano passado (-622 mil).
"Isso mostra claramente que está havendo uma estabilização, porque 50 mil empregos a menos, em um universo de 40 milhões de empregados (com carteira), é próximo de zero", diz o professor. "Então o que posso dizer neste momento, e a pesquisa do IBGE também confirma, é que o mercado de trabalho estabilizou."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.