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Investir em árvore? Até o best-seller Augusto Cury plantou mogno africano

Vinicius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/09/2018 04h00

Augusto Cury pode ser considerado alguém com, no mínimo, faro para boas oportunidades. Além de médico psiquiatra, empreendedor e um dos escritores mais lidos do Brasil, com mais de 25 milhões de livros vendidos, Cury é também um investidor de mogno africano -uma árvore que vem sendo chamada de "ouro verde" e está despertando o interesse de muita gente como forma de investimento a longo prazo.

O escritor tem cerca de 800 hectares plantados da árvore, que começou a cultivar há dez anos. "Acreditamos que seja um bom investimento. Além de ajudar a natureza, acreditamos no potencial rendimento da madeira", disse Cláudia Cury, agrônoma, filha do escritor e responsável pela administração da plantação.

Analistas ouvidos pelo UOL dizem que há riscos, como instabilidade do preço e demora para a árvore crescer e o investimento ter um eventual retorno (leia mais abaixo as advertências dos especialistas).

Cury não teve nenhum rendimento ainda

A família do escritor, famoso por suas dicas de autoajuda, ainda não teve nenhum rendimento, mas o primeiro corte da primeira safra da madeira deve ser realizado em dois ou três anos.

"Acreditamos muito no valor. Nós não acreditamos que dará milhões de reais por hectare como as pessoas falam, pois ainda não se sabe, já que ninguém vem colhendo. Mas acreditamos que vai ter, sim, um bom rendimento", afirmou Cláudia.

O rendimento citado é atrelado ao valor da madeira no mercado internacional. Assim, é considerado um investimento de renda variável, pois pode mudar durante os anos -para mais ou para menos.

Pelos preços atuais, um investimento inicial de R$ 25 mil por hectare pode gerar uma receita de quase R$ 1 milhão no corte final -se tudo der certo, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Isso daria um rendimento bruto de 20% ao ano.

Árvore de madeira nobre originada da África ocidental

O mogno africano é uma árvore de madeira nobre, originária da costa africana ocidental, e com um bom uso comercial, principalmente para a construção de móveis, construção naval e peças sofisticadas.

Como tem alto valor no mercado internacional, o metro cúbico de sua madeira vale R$ 2.500. Só no Brasil, estima-se que haja entre 10 mil e 12 mil hectares da árvore, que começaram a ser plantados há cerca de dez anos, principalmente em regiões do Pará e de Minas Gerais.

Ele vem sendo plantado como uma alternativa ao eucalipto -outra árvore comumente escolhida como forma de investimento no interior do país-, ou ao mogno brasileiro, que tem extração em florestas nativas proibidas por lei.

Corte principal tem de esperar de 17 a 21 anos

O corte principal ocorre entre 17 e 21 anos após o plantio. Antes disso, é possível, porém, que um percentual de árvores seja cortado antes, entre oito e dez anos, além da comercialização de sementes, mas essas receitas servem apenas para abater os custos da produção.

Despesas com plantio e manutenção também variam de acordo com localidade, irrigação, opção de adubo, preços de insumos e mão de obra, entre outros fatores.

Riscos do investimento

Como um investimento de longo prazo, há poucas chances de o investidor conseguir dinheiro antes do tempo de corte. Portanto, a plantação é indicada para quem não irá precisar do valor investido tão cedo.

Além disso, há alguns riscos. O primeiro, como qualquer aplicação financeira de renda variável, é a inconstância de preço. Hoje, por ser um produto ainda pouco explorado, os preços estão elevados. Mas, ao final do corte, o valor pode estar muito mais baixo ou muito mais alto -a depender do mercado.

Além disso, há outros perigos exclusivos para quem investe em plantações. O primeiro é o de pragas que podem atacar a madeira. Segundo especialistas, contudo, como é uma árvore relativamente nova no país, não houve nenhum registro grande de que isso esteja ocorrendo.

O segundo é de incêndio -que poderia transformar o investimento literalmente em cinzas. Para a proteção, portanto, é necessário que o investidor deixe corredores entre as árvores e opte por assinar uma apólice de seguros contra o fogo que cubra os investimentos.

Especialistas também não recomendam cultivar poucas unidades, pois os custos podem ser maiores. Além disso, o investidor não deve plantar próximo a residências, já que há risco de acidentes porque as árvores são grandes.

Pequenos investidores podem alugar terra

Quem não dispõe de terras para o plantio, pode optar por arrendar, ou seja, alugar um pedaço de terra pagando uma mensalidade ao dono real do local. Tempo e valores devem ser dispostos em contrato, assim como outras condições.

Além disso, algumas empresas também começam a oferecer o plantio como negócio. É o caso da Radix, companhia que oferece a possibilidade de investir em mogno africano por meio de crowdfunding (financiamento coletivo) e por cerca de R$ 500 iniciais.

Segundo a empresa, que opera desde 2015, plantar poucos hectares do mogno pode sair muito caro ao produtor, já que os custos para a manutenção e o corte das árvores serão grandes. Dessa forma, ela oferece cotas dentro de módulos florestais. O investidor compra a cota, a empresa cultiva a árvore e, depois do corte, os lucros são divididos.

"A empresa é sócia no plantio. Na segunda oferta que fizemos, colocamos de 40% a 50% do total a venda. O restante fica para a empresa. É assim que a Radix vai ganhar, ela ganha junto com os investidores [no momento do corte]. O dinheiro do investimento é utilizado para manter a floresta durante o ciclo", disse Gilberto Derzer, sócio-fundador da empresa, que teve 32 investidores na primeira oferta, em maio do ano passado, e 104 na segunda, em janeiro deste ano.

De acordo com ele, em uma previsão bem conservadora, o investimento irá render 12% anuais durante os anos de plantio -pouco abaixo do projetado por outros produtores. Deixando claro que o rendimento é variável, e o percentual é apenas uma projeção. Pode não acontecer nada disso e haver prejuízo.