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ANÁLISE

Entenda por que você é consumista

Você é consumista? A culpa pode ser dos ciclos econômicos do país - Getty Images/iStockphoto
Você é consumista? A culpa pode ser dos ciclos econômicos do país Imagem: Getty Images/iStockphoto

Letícia Braga de Andrade

11/11/2022 04h00

Nossa vida é movida pelo dinheiro: trabalho, consumo, objetivos, sonhos... Por isso, se você não conseguir controlar o seu dinheiro, a falta dele controlará sua vida.

A questão é que controlar o dinheiro exige duas tarefas bem desafiadoras: 1) Moderar nosso consumo; e 2) Organizar nossas receitas e despesas. A segunda tarefa se refere a anotar e registrar tudo o que entra e sai de dinheiro. Mas a primeira tem a ver com o nosso comportamento do dia a dia, e aí o desafio é maior porque é cultural, ou melhor, histórico. Vou explicar.

Nos últimos 40 anos, os diversos ciclos econômicos foram interferindo na nossa realidade e moldando nossas decisões financeiras. Aos poucos, fomos adotando crenças e comportamentos que hoje nos definem.

Década de 1980: "Gaste, garanta seu consumo"

Os anos 1980 ficaram marcados na história do Brasil como a década perdida em que o país conviveu com a hiperinflação.

Nesta época, os preços dos produtos e serviços subiam de valor da manhã para a tarde. A aceleração de preços era tão grande que foi instituído o "overnight", isto é, o dinheiro depositado em conta corrente nos bancos recebia uma correção monetária (juros) durante a noite para garantir a manutenção de um mínimo de poder de compra daquele dinheiro.

A mensagem registrada no comportamento das pessoas nessa época foi: "Dinheiro guardado perde valor, garanta seu consumo".

Década de 1990: "Compre, você pode"

Durante os anos 1990 aconteceu a abertura comercial do nosso país. Foi uma avalanche de produtos importados no Brasil. Quando antes tínhamos cerca de duas ou três opções de um determinado produto para escolher, de repente passamos a ter 5, 6, 7 opções.

Na mesma época, tivemos o Plano Real que possibilitou que o poder de compra de um real fosse igual ao de um dólar. No economês representou a paridade do poder de compra.

Em síntese, tínhamos poder de compra e variedade de produtos tanto nacionais quanto importados. A mensagem registrada foi: "Compre, agora você pode".

Década 2000: "Não tem dinheiro? Financie"

A política de crédito expansionista dos anos 2000 permitiu que muitas pessoas e famílias pudessem adquirir bens que, até então, eram impossíveis no horizonte delas.

Empréstimos e financiamentos foram facilitados, e o consumo cresceu significativamente. Foi nessa época que os financiamentos de veículos, por exemplo, foram estendidos para 60 meses. Nesse contexto, a mensagem foi: "Financie".

Década 2010: "Seus recursos estão comprometidos? Pegue um empréstimo"

Os anos 2010 foram um período de redução da taxa de juros do Brasil. A taxa Selic, que é referência para a definição de todas as demais taxas de juros do país, em 2010 estava em 9,27%, alcançou 13% em janeiro/2017, mas a partir daí foi reduzindo até chegar em 2% em dezembro/2020.

A mensagem econômica para a população: "Acabou o seu dinheiro e precisa consumir? Não tem problema, pegue emprestado a juros baixos e atenda suas necessidades."

Década 2020: "Poupe, para aproveitar oportunidades"

No segundo semestre de 2019 surgiu o coronavírus e instaurou a pandemia no mundo. Com lockdowns em todos os países, a produção parou, e os estoques de mercadorias foram usados. A escassez de mercadorias e manutenção do consumo aumentou o nível geral de preços alimentando a inflação global. Para complicar, no início de 2022, quando a pandemia foi controlada, a guerra entre Ucrânia e Rússia trouxe nova onda de tensão mundial.

Aqui no Brasil, o aumento da inflação, ainda que menor do que em diversos outros países, exigiu significativo aumento das taxas de juros em um curto período de tempo. A mensagem que temos é: "Reduza seu consumo porque os preços estão altos e poupe seu dinheiro pois os juros estão remunerando bem".

Todo esse desenrolar da história econômica que nos influenciou a gastar, comprar, financiar e endividar explica, em boa parte, o comportamento consumista da maioria dos brasileiros. Contudo, a recomendação agora é poupar.

E o que você está fazendo para isso? Enquanto você não controlar seus ganhos, seus gastos e suas economias, você será mais um refém da história.

Então, assuma agora o domínio das suas finanças. Por menor valor que seja, comece a poupar, pois essa será a ação que mudará o seu futuro para melhor.

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