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Opinião

Bitcoin subiu 120% nos últimos doze meses. É tarde demais para investir?

Após o bitcoin atingir uma nova máxima histórica de US$ 73.000 em meados de abril, muitos investidores se perguntaram se o momento ideal para investir já passou, preocupados que o momento de alta já entrou para o retrovisor..

Lançado em janeiro de 2009, o bitcoin ainda apresenta uma amostra relativamente pequena de dados históricos — especialmente quando comparado com veículos de investimento mais tradicionais.

Diante das incertezas que acompanham uma nova classe de ativos, a volatilidade histórica acentuada do seu preço, e após uma alta tão significativa, é natural que os investidores se sintam reticentes. Neste artigo, exploraremos algumas narrativas que podem sustentar a trajetória de alta do bitcoin.

Halving

Começando pelo mais óbvio, acabamos de passar (19/04) pelo halving, um evento programático que reduz a taxa de expansão da base monetária do bitcoin. Isto significa que o número de novos bitcoins introduzidos no mercado foi cortado pela metade. Mais especificamente, cerca de 900 bitcoins eram criados diariamente até o último sábado, e agora esse número foi reduzido para 450.

O racional por trás do impacto deste evento é simples: o preço do bitcoin tende a crescer quando seus tokens se tornam mais escassos. Com uma base de investidores em expansão e um número decrescente de tokens sendo introduzidos ao mercado, a dinâmica de oferta e demanda que impacta o preço do bitcoin tende a se tornar cada vez mais favorável.

Analisando os movimentos de preço após os três halvings anteriores, o corte no subsídio de bloco nunca gerou impactos expressivos imediatos. No entanto, nos seis meses subsequentes, o preço do bitcoin registrou aumentos de 1808%, 38% e 76% em 2012, 2016 e 2020, respectivamente.

O mesmo ocorrerá nos próximos seis meses? É impossível afirmar com certeza. Com cada halving, a redução no fluxo de novos bitcoins torna-se proporcionalmente menor em relação à oferta circulante, o que, em teoria, poderia levar a retornos decrescentes. Por outro lado, a narrativa do halving está cada vez mais disseminada, e o número de investidores apostando em uma alta do bitcoin nos próximos meses é maior do que nunca. Essa simples expectativa em torno dos retornos pós-halving pode manifestar a alta esperada, tornando a crença nos altos retornos do período pós-halving uma profecia auto-realizável."

Impacto do ETF dos EUA

Um dos grandes diferenciais do atual ciclo de criptoativos é a disponibilidade de ETFs (fundos negociados em bolsa) à vista nos EUA, liberados no início do ano. Com isso, algumas das maiores gestoras de fundos do mundo, incluindo a Blackrock, que gerencia mais de US$1 trilhão em ativos, começaram a competir para se estabelecer como o ETF de bitcoin mais líquido no maior mercado do mundo.

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Em janeiro, a notícia da liberação desencadeou uma temporada de alta, impulsionada pelos bilhões em capital novo direcionados para o bitcoin. Atualmente, mais de 4% da oferta circulante deste token está concentrada sob custódia das gestoras americanas.

Os fluxos parecem ter diminuído em meados de março, mas isso não significa que os ETFs dos EUA deixarão de exercer pressão compradora sobre o bitcoin. Apesar do volume significativo já captado por esses veículos de investimento, a comercialização dos ETFs ainda enfrenta restrições devido às políticas internas de diversas corretoras americanas, que têm regras próprias sobre quando um novo ativo pode ser disponibilizado e quando pode ser ativamente recomendado por seus analistas e vendido por seus assessores de investimentos.

À medida que esse processo se desdobra, investidores que anteriormente não consideravam criptoativos são introduzidos ao bitcoin através de um veículo regulado, numa plataforma familiar, e vinculado ao mesmo portfólio que os demais ativos financeiros.

Corte de juros nos EUA

Após a escalada mais íngreme da taxa de juros nos EUA em mais de vinte anos, o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) interrompeu a sua sequência de altas da taxa básica de juros, a Fed Funds Rate, em julho do ano passado. Na virada do ano, o mercado precificou seis cortes para esta taxa ao longo do ano, enquanto os próprios governadores do Fed previram três cortes durante o mesmo período.

Atualmente, a trajetória dos juros americanos tornou-se menos previsível. Dados indicando uma taxa de inflação mais resiliente e um mercado de trabalho robusto adiaram os esperados cortes para o último trimestre do ano. Se esses indicadores continuarem a mostrar uma economia forte, já se discute a possibilidade de postergar esse ciclo de cortes até o próximo ano.

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Essa narrativa de 'juros altos por mais tempo' tem impactado negativamente o preço do bitcoin nos últimos meses. No entanto, para o investidor que visa um horizonte de investimento mais longo, um possível atraso no ciclo de cortes do Fed não deve ser um fator decisivo para investir ou não em bitcoin.

Independentemente da deterioração do cenário de juros no curto prazo, comprar ativos de risco em antecipação a uma série de cortes do Fed tende a ser uma estratégia de investimento bem-sucedida. Além disso, para quem ainda está considerando investir em bitcoin, esta recente piora no cenário pode representar uma oportunidade de compra.

Se os dados de inflação começarem a indicar que a política restritiva do Fed está surtindo o efeito desejado, o otimismo em torno dos ativos de risco que predominava na virada do ano pode voltar à tona, e essa sequência de cortes pode ser antecipada pelo mercado, beneficiando ativos de risco como o bitcoin já no curto prazo.

Bitcoin voltado a inovar

No universo dos criptoativos, o bitcoin é visto como uma blockchain séria. Sua resistência à mudança é um dos seus maiores atrativos, com a previsibilidade e imutabilidade do seu protocolo sendo aspectos fundamentais da sua tese de investimento. Embora esta característica o destaque dentre outros criptoativos, a escassez de novos desenvolvimentos tecnológicos por vezes desvia a atenção dos investidores para blockchains que apresentam inovações contínuas, em busca de narrativas que possam influenciar os preços de seus tokens.

Entretanto, desde o ano passado, o Bitcoin tem gradualmente retomado esse protagonismo tecnológico com uma série de inovações. Soluções de escalabilidade, tokens não fungíveis (NFTs) e até meme tokens — tradicionalmente associados a plataformas de contratos inteligentes como Ethereum — foram ou, em breve, serão implementadas na blockchain mais antiga.

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Na prática, isso significa que o núcleo de investidores de criptoativos, sempre em busca de novas fronteiras, deve alocar mais capital nesta rede para explorar tais novidades. Além do maior interesse entre os entusiastas de criptomoedas, esses desenvolvimentos devem manter o Bitcoin sob os holofotes da mídia, gerando mais manchetes e atraindo novos investidores para o seu token nativo.

Uma jornada ainda em curso

Apesar da rápida ascensão do preço do bitcoin desde seu ponto mais baixo no ciclo, a US$ 16.000 no início de 2023, históricos de ciclos anteriores sugerem que ainda há espaço para altas no curto e médio prazo. Com mais um corte na taxa de criação de novos tokens, a força da máquina de vendas das maiores gestoras de fundos do mundo, a perspectiva de uma sequência de cortes do Fed e o retorno do espírito de inovação ao Bitcoin, as perspectivas em torno do bitcoin como um investimento continuam promissoras.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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