Que ações devem subir com a recuperação da economia? E quais devem cair?
A economia brasileira desabou no segundo trimestre deste ano, recuando 9,7% na comparação com o primeiro trimestre, um tombo histórico provocado principalmente pelas medidas de isolamento social adotadas para conter o novo coronavírus no país.
Mas, como dizem os economistas, prestar atenção apenas ao PIB é como dirigir olhando para o retrovisor, pois esses indicadores refletem o passado. Por esse ponto de vista, há o alento de que o pior ficou para trás —pelo menos segundo projeções predominantes entre economistas.
Se o negócio é olhar para a frente, a dica é começar já a procurar na Bolsa quais são os setores que devem apresentar um desempenho mais positivo na retomada da economia.
Segundo semestre deve ser melhor
Olhando de perto os indicadores que compõem o PIB, é possível ver que alguns já sinalizam melhoras, em especial a partir de maio.
Dados da produção da indústria, vendas no varejo e produção de serviços apontam para uma recuperação no final do segundo trimestre, que deve adentrar o terceiro, destaca a equipe de economia do BTG Pactual.
Como esperamos que esses fatores permaneçam presentes no terceiro e, em menor grau, no quarto trimestre, vemos o PIB registrando fortes resultados no terceiro e no quarto trimestre.
Álvaro Frasson e Luiza Paparounis, em relatório
Como escolher as ações
Vale começar a busca por setores que podem apresentar uma recuperação mais rápida já neste ano, na esteira da atividade econômica no país. Segundo gestores de recursos, são empresas:
- De setores que devem vender mais na retomada econômica;
- Cujas ações tiveram queda muito forte no pior momento da crise. Com a flexibilização do isolamento social, elas vão voltar a vender, e seus preços estão defasados.
Por outro lado, evite ações de empresas que devem andar mais lentamente, seja porque sofreram um grande baque na crise ou porque terão que suportar o impacto da recessão por mais tempo.
Esses setores têm potencial de alta
Shopping centers: Durante a crise, as ações dessas empresas caíram mais que o Ibovespa, o que abriu espaço para uma recuperação mais rápida à medida que as vendas voltam à normalidade, com a reabertura dos shopping.
O consumo terá uma recuperação gradual, mas sustentável. Podemos chegar próximo ao que tínhamos antes da covid lá para o fim do ano. E se tivermos uma vacina antes, o que não espero, mas não pode ser descartado, esse movimento pode até ser antecipado.
Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos
Varejo de vestuário: Muita gente comprou pela internet, mas ainda há demanda reprimida. Datas como Black Friday e Natal também podem impulsionar ações de redes de lojas que caíram na pandemia.
A expectativa é que empresas do setor tenham desempenho acima da média do mercado no curto e médio prazos.
Setor financeiro: O aumento da inadimplência de famílias e empresas e o receio de redução nos lucros fizeram as ações de bancos, por exemplo, recuar no ano.
Até agosto, o índice da Bolsa que acompanha ações do setor financeiro acumulou baixa de 24,4%, maior que a do Ibovespa no mesmo período, de 14%.
Com o pior da crise ficando para trás, o setor pode andar mais rápido que a média da Bolsa para recuperar o espaço perdido.
Exportadoras: O dólar alto e a retomada da economia em países que são grandes compradores de commodities (soja, minérios etc) devem manter as exportadoras brasileiras em alta na volta do PIB, apontam analistas.
O índice que acompanha empresas do setor de materiais básicos já subiu 11,5% no ano, e deve continuar em alta.
As exportadoras vão continuar aproveitando o real depreciado e a retomada rápida da China e dos EUA.
Jerson Zanlorenzi, do BTG Pactual digital
Construção civil: Foi um dos poucos setores que conseguiram manter o motor funcionando mesmo no pior momento da crise. Os juros baixos em níveis historicamente baixos estimulam o lançamento de novos empreendimentos.
O cenário de juros vai manter um ambiente de baixos custos de financiamento e condições melhores para os compradores de imóveis, o que tende a beneficiar os negócios de construção civil ao longo dos próximos meses e anos.
Paloma Brum, economista da Toro Investimentos
Mas esses ainda devem sofrer
Transportes: A pandemia pode deixar marcas permanentes no padrão de consumo de famílias e empresas. O volume de viagens e de deslocamentos pode nem voltar mais ao nível pré-pandemia, já que muitos usuários perceberam alternativas às reuniões ou eventos presenciais, por exemplo.
Nesse caso, empresas de locação de veículos ou de atividades relacionadas à mobilidade urbana devem demorar mais para recuperar sua receita.
Setor aéreo: Dentro dos transportes, o setor aéreo merece um alerta especial, dizem analistas de mercado. Além de ter sido um dos mais afetados pela pandemia, ainda não tem no radar como será de fato a volta à normalidade.
A valorização do dólar é outro problema, porque as empresas de aviação civil faturam em reais, mas têm dívidas e custos operacionais em dólar.
Turismo e entretenimento: Empresas de turismo, viagens e entretenimento também devem estar entre as últimas a voltar aos patamares de preços vistos antes da pandemia.
No entretenimento, por exemplo, a volta é dificultada pelos rígidos protocolos exigidos por governos, no caso de cinemas, bares, restaurantes, hotéis, shows etc.
Educação: O desemprego e a queda da renda das famílias vão continuar aumentando as taxas de evasão e de inadimplência de escolas e instituições de ensino superior.
O avanço do ensino à distância até pode ajudar na recuperação das receitas dessas companhias, mas num horizonte de mais longo prazo, aponta Paloma Brum, da Toro.
Preste atenção à empresa também
O setor de uma empresa é um dos elementos que o investidor deve considerar antes de comprar uma ação, mas não o único, destacam analistas de mercado.
Os dados de cada companhia são valiosos. Até porque uma das características da Bolsa brasileira é que ela negocia principalmente ações de empresas líderes de setores.
Busque escolher as melhores empresas dentro de cada setor. É importante se posicionar em companhias vencedoras, porque são elas que têm poder de consolidação.
Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Corretora
E não custa repetir: Bolsa é investimento de risco e, por isso, de longo prazo. "Há várias maneiras de ganhar dinheiro na Bolsa, mas a melhor é entrar nesse mercado com a visão de ser sócio de grandes empresas no longo prazo", diz Villegas, da Genial.
Espiada no retrovisor
Veja como estão alguns índices setoriais da Bolsa este ano, no acumulado de janeiro a agosto:
- Imobiliário: -30,68%
- Ifinanceiro: -24,41%
- Ibovespa: -14,07%
- Índice do setor industrial: -6,24%
- Iconsumo: -5,53%
- Índice materiais básicos: +11,48%
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