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Gringos saem da Bolsa e afetam preço das ações; você precisa se preocupar?

Mitchel Diniz

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/07/2021 04h00

Julho ainda não terminou, mas tudo aponta para um mês negativo em termos de capital estrangeiro na Bolsa brasileira. Até a última quinta-feira (22), os estrangeiros tinham vendido mais ações do que comprado, e a conta estava negativa em R$ 5,03 bilhões, segundo dados da Bolsa. Em março, abril, maio e junho deste ano os saldos mensais tinham sido positivos.

Quase 25% do volume de compra e venda na Bolsa hoje tem origem estrangeira e sempre que esses investidores saem das ações brasileiras, os preços dos papéis são impactados, segundo analistas. O que o pequeno investidor deve fazer nesse tipo de situação? Especialistas ouvidos pelo UOL dizem que não é preciso ter pânico. Veja abaixo as explicações.

Por que os gringos estão vendendo mais?

Segundo os analistas, a pandemia voltou a ser uma preocupação para os investidores por causa da variante delta. Além disso, a preocupação com gastos públicos, incertezas sobre o andamento de reformas, como a tributária, e outros riscos políticos gerados pela CPI da Covid também afugentam os estrangeiros.

Empresas mais negociadas são as mais afetadas

As ações preferidas dos estrangeiros são as das grandes empresas e que estão entre as mais negociadas na Bolsa, ou seja, as que possuem maior liquidez. Elas têm um grande volume de papéis em circulação e uma boa parte deles está nas mãos dos gringos. Logo, ao vendê-los, os preços caem.

"Dentre os segmentos mais afetados, as empresas de commodities e setor financeiro sofrem mais por terem maior peso de investidores estrangeiros na sua alocação", afirma Peterson Silva, sócio da Ébano Investimentos.

Gustavo Maders, especialista de alocação da Ável Investimentos, explica que os estrangeiros trazem um grande volume de recursos para a Bolsa e por isso miram em ações de grandes empresas.

"Um fundo estrangeiro, por exemplo, não consegue acessar uma empresa pequena porque ela negocia muito pouco e seria irrelevante para o portfólio desse investidor", diz Maders, que cita Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3) como ações que mais sofrem impacto negativo com a saída dos gringos.

IPOs não seguraram o investidor estrangeiro

Sete empresas abriram capital na Bolsa em julho: 3Tentos, Smartfit, CBA, Desktop, Multilaser, Agrogalaxy e Livetech. Mais cinco devem estrear suas ações até o final do mês. Porém, nem mesmo essa onda de ofertas foi capaz de reverter o saldo negativo de investimento estrangeiro até agora.

"As ofertas são importantes para aumentar a atratividade, mas não vivemos em uma bolha. Se aumenta a aversão ao risco de forma global, os estrangeiros poderão continuar participando dos IPOs, mas reduzindo a sua alocação em Brasil", afirma o analista da Ébano Investimentos.

Rafael Antunes, sócio da Inove Investimentos, diz que os IPOs não conseguiram desfazer o fluxo de saída de capital estrangeiro, mas as ofertas conseguiram deixar o mês de julho mais dinâmico.

"O investidor pessoa física na Bolsa e os investidores institucionais (como os grandes fundos) ajudaram bastante a dinamizar o fluxo de capital para que as ofertas não dependessem apenas da participação dos gringos", afirma Antunes.

Pequeno investidor não deve se preocupar

O economista-chefe do banco Modalmais, Álvaro Bandeira, diz que apesar do aumento de investidores brasileiros na Bolsa, os estrangeiros ainda ditam a tendência sobre quais ações valem a pena comprar ou vender.

"A gente não pode de maneira alguma desprezar o comando deles no que diz respeito à tendência do mercado e análise das empresas", afirma Bandeira.

Gustavo Maders, da Ável Investimentos, diz que o pequeno investidor, porém, não precisa sair da Bolsa só porque os estrangeiros estão saindo.

"Ativos de valor, boas empresas, tendem a se valorizar no longo prazo e é isso o que ganha o jogo. O importante é diversificar, ter ações de setores distintos", afirma o especialista.

Rafael Antunes, da Inove Investimentos, diz que tomar decisões levando em conta apenas o fluxo negativo de estrangeiros em um mês é um "olhar míope".

"Apesar de todos os riscos, a Bolsa tem se segurado nos 125 mil pontos e isso é bem positivo. Temos níveis de preço ainda bem interessantes e os investidores institucionais estão ajudando muito nisso", diz Antunes.

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