Ela morou de favor, sofreu homofobia e hoje é professora de finanças na XP
"Se cuida, se vira, não dependa de homem". De tanto ouvir o conselho da mãe, Clara Sodré, 25, não demorou a querer fazer dinheiro. Com o primeiro computador da família, aos 14 anos, a menina de Camaçari, cidade industrial da Bahia, aprendeu a fazer acessórios para um jogo virtual, e a vendê-los. "Meu pico foi fazer R$ 500 em uma semana e minha mãe foi comigo abrir conta em banco", diz.
Sem entender nada de mercado financeiro, viu em casa as consequências da crise de 2015: o pai, que trabalhava na indústria, perdeu o emprego e até hoje não conseguiu se recolocar. Coube à mãe, que faz artesanato, "carregar a casa" sozinha. E o orçamento, sempre certinho, ficou ainda mais apertado.
Clara Sodré é uma das convidadas do próximo Guia do Investidor UOL, que vai mostrar como investir para realizar metas e por fase de vida. O evento é gratuito e você pode se inscrever no cadastro abaixo.
"A gente não era rico, e era tudo bem certinho. Esse meu interesse por esse mundo do mercado financeiro vem muito disso e da minha própria experiência, por ter precisado muito de dinheiro em alguns momentos e não saber como me planejar para passar por momentos mais difíceis com tranquilidade", afirma.
Expectativa x Realidade
As preocupações com o futuro não partiram apenas da realidade apertada que vivia em casa, mas também da própria sexualidade, conta Clara.
"Eu procurava estudar e alinhar como eu iria entrar no mercado de trabalho. Desde nova eu tinha muito essa preocupação por ser lésbica, porque quando eu me descobri, via o que estava acontecendo com os meus amigos, que estavam se perdendo muito na fase escolar. Eu sabia que precisava fazer o meu dinheiro", afirma.
Os planos eram claros: estudar o máximo que ela pudesse, e sair de casa formada, "com tudo alinhado". A realidade foi bem diferente.
"Nesse processo, eu fui 'tirada do armário'. Infelizmente, Camaçari é uma das cidades mais homofóbicas do Brasil, e o machismo lá ainda era muito forte. Foi uma decisão minha sair de casa, e minha saída foi complicada. O ambiente não estava saudável", diz.
Clara saiu de Camaçari para Salvador (BA) sem dinheiro para cursar Engenharia Mecânica, e com ajuda de amigos para se manter na cidade.
"Eu ainda não tinha educação financeira, eu não olhava para o dinheiro como ferramenta para me ajudar, olhava para o dinheiro como compensação pelo o que sofri. Tinha muito essa mentalidade", diz.
Ela foi fazer e vender brownie
Foram seis meses na cidade trabalhando como representante comercial, ganhando dinheiro apenas quando vendia, a passagem e a alimentação do dia. O dinheiro não dava para o aluguel, e Clara contou com os amigos, com os quais morou.
"Nessa época foi sobrevivendo como dava, do jeito que dava, com amigos. Não tive ajuda de dinheiro, tive ajuda de trabalho e casa", diz.
"Chegou um momento que eu comecei a achar que a culpa era do lugar. Durante esse período, recebi muita porta na cara mesmo, com gente querendo se aproveitar da situação. Então, dei um 'chega'", afirma.
De novo, com a ajuda de amigos, Clara deixou a faculdade em Salvador para tentar a vida em outro lugar. Conseguiu um trabalho em uma fábrica de brownie em Florianópolis (SC). Trabalhava na produção dos doces, e até nas vendas da loja. Em menos de dois anos, virou supervisora e decidiu estudar Administração.
"Não quero isso para minha vida"
Na faculdade, começou a trabalhar em banco, atendendo a idosos na área de empréstimo consignado. "Foi aí que comecei a olhar para as minhas próprias finanças", diz.
Até então, Clara nunca havia feito dívidas, com receio de sujar o nome. Mas também não deixava sobrar dinheiro, até que foi impactada pelas histórias que ouvia do outro lado da mesa de atendimento do banco.
"É a coisa mais triste para se trabalhar, porque é um público que não teve educação financeira. Não faltava história para eu pensar que 'não é isso que eu quero para a minha vida'", afirma.
O primeiro bônus que recebeu do banco, de R$ 5.000, Clara colocou na poupança. No processo de organização financeira, ela percebeu que precisava ganhar mais. Sabia que se tirasse uma certificação, ela teria uma promoção. Mirou a certificação mais difícil, o CEA, para especialistas em investimentos.
Do banco a assessora de investimentos
Depois de estudar, Clara mudou seus investimentos e decidiu que poderia ajudar outras pessoas também. Saiu do banco no início de 2020 para trabalhar com assessoria de investimentos, quando veio a crise. Foi nesse momento que ele percebeu a importância de ter se organizado financeiramente.
Até entrar na XP, onde é assessora de investimentos e professora de finanças e investimentos na Xpeed School, Clara consumiu parte da reserva de emergência.
Hoje, a carteira de Clara tem bem mais do que os primeiros R$ 5.000 que investiu, e seu dinheiro está bem longe da poupança. Além da reserva, já recomposta em CDBs de liquidez diária, Clara tem parte da carteira em fundos multimercado e fundos de fundos.
No seu caminho de entender o papel do dinheiro em sua vida, a especialista tem mais claro o conselho da mãe, de fazer dinheiro para não depender de ninguém.
"Hoje eu consigo dizer que desenhei o que a Clara lá de trás sonhou. As metas ajudam nisso e por isso eu gosto delas. Pode estar um caos na sua frente, mas você consegue desenhar o amanhã", diz.
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