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Combina preço agora, mas só paga no futuro; veja como é esse investimento

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, de São Paulo

03/02/2022 04h00

Você pode fechar agora um investimento com um preço combinado hoje e apostar o que vai acontecer com ele no futuro para tentar lucrar. Esses são os contratos futuros. Um exemplo é o boi gordo: você fecha o preço hoje para receber depois.

O valor que você combinou não muda. E aí é torcer para que ele valorize e você ganhe. Pode acontecer o contrário e haver prejuízo, mas é do jogo. Quer conhecer mais desses investimentos? Especialistas mostram como funcionam e os cuidados a tomar. Leia a seguir.

O que são contratos futuros

Os contratos futuros são acordos financeiros em que preços são definidos hoje para uma negociação que só acontecerá futuramente. São também conhecidos como derivativos, porque suas negociações dependem de outros itens negociados em Bolsas de Valores (como dólar, o índice Ibovespa, milho, café, soja, boi gordo, entre outros).

Samuel Sampaio Chagas, assessor de investimentos da 3A Investimentos, afirma que "a ideia do contrato futuro é a seguinte: negociar a expectativa futura de um determinado ativo" e ganhar a partir disso.

Ou seja, investidores fazem um acordo com base em suas expectativas para o mercado: o comprador acredita na valorização do investimento ao longo do tempo (preço futuro em alta), enquanto o vendedor acha que o preço vai cair (preço futuro em baixa).

Os preços são negociados na data atual, mas a compra e venda é efetivada no vencimento do contrato. Enquanto o contrato estiver válido, há ajustes diários que mostram os lucros e prejuízos dos envolvidos (compradores e vendedores).

Boi gordo - Reprodução/Asergeev - Reprodução/Asergeev
Contratos futuros permitem negociar expectativas de preços do boi gordo e até da pontuação do Ibovespa
Imagem: Reprodução/Asergeev

Quem ganha e quem perde

O comprador tem lucros quando, no vencimento do contrato futuro, o investimento está com um preço mais alto do que o valor da negociação. Assim, como houve uma valorização do derivativo ao longo do contrato, ele pagará um preço abaixo do que o derivativo passou a ter. Caso contrário, terá prejuízo.

"Ao comprar um contrato futuro, o investidor está apostando que o preço do ativo seguirá subindo", explica Arthur Wanderley, analista de operações da gestora PetraGold Investimentos.

O contrário ocorre com o vendedor. Ele ganha quando, no final do contrato, o investimento está com um preço menor do que o valor da negociação. Logo, como houve desvalorização do derivativo, ele fará uma venda por um preço maior do que o derivativo passou a ter.

Exemplo prático de ganhos e perdas

Tracemos uma situação com futuro de Ibovespa, o tipo de contrato futuro mais comum entre os investidores. Suponha que o Ibovespa esteja em 111 mil pontos e um contrato futuro foi negociado em 121 mil pontos para determinada data. O comprador só terá ganhos com a operação se, no dia do vencimento do contrato, o índice da Bolsa tiver subido para este valor (ou além dele).

Se no dia do vencimento o Ibovespa estiver em 111 mil pontos, o comprador terá prejuízos —afinal, pagou por uma negociação de 121.000 pontos. Mas se o índice estiver alcançado os 121.000 pontos, ele terá lucros.

Já o vendedor irá lucrar se a operação estiver abaixo dos 121.000 pontos. Por exemplo: caso o índice se mantiver em 111.000 pontos no dia de vencimento e o vendedor negociou por 121.000 pontos, ele terá ganhos.

Quanto vale a pontuação do Ibovespa em dinheiro?

Existem dois tipos principais de contratos futuros: o contrato cheio e o minicontrato (que são frações do contrato futuro e permitem que investidores comuns possam operar por preços menores).

No contrato cheio, cada ponto do Ibovespa vale R$ 1. Se o Ibovespa estiver em 111.000 pontos, o contrato cheio valerá R$ 111 mil.

Como o valor é alto para o investidor comum, foram criados os minicontratos. Com o minicontrato, cada ponto do Ibovespa vale R$ 0,20. Com o Ibovespa em 111.000 pontos, o minicontrato seria de R$ 22,2 mil, com lote mínimo de um minicontrato.

Quando há lucros?

A fórmula para verificar ganhos e perdas com o Ibovespa futuro é a seguinte:
(Venda - compra) x valor por ponto x nº de contratos

Como exemplo, um comprador negociou 10 contratos cheios de Ibovespa futuro a 111.000 pontos (por R$ 1 cada um). A posição foi encerrada no dia do vencimento a 111.300 pontos.

O resultado seria, portanto:

(111.300 - 111.000) x 1,00 x 10 = R$ 3.000 (Lucro)

Quando há prejuízos?

Um investidor vende, por exemplo, cinco minicontratos futuros de Ibovespa a 111.000 pontos. No dia do vencimento, a maioria das ações do índice caíram e o Ibovespa, então, fechou em 111.500 pontos. O valor de cada pontuação é R$ 0,20.

(111.000 - 111.500) x 0,20 x 5 = R$ -500,00 (Prejuízo)

Cuidados ao operar contratos futuros

Operação de risco

Para investir em contratos futuros é preciso fazer previsões sobre a economia. Mas o mercado é repleto de sobe e desce, com diferentes fatores que podem influenciar em seus resultados —desde interferências políticas à inflação, acidentes, balanços de empresas presentes na Bolsa e diversos outros aspectos.

Por isso, o investimento em contratos futuros costuma ser mais recomendável para quem pode se arriscar. "São operações extremamente arriscadas, mas que têm uma assimetria de retorno gigantesca", disse Chagas, da 3A Investimentos.

Depósito de garantia

O investidor não precisa desembolsar o valor da negociação no momento do acordo —apenas no vencimento do contrato. Mas os especialistas apontam que é necessário oferecer um depósito de garantia, chamado também de "garantia de margem". Isto é, um critério estipulado pela B3 para concretizar o negócio.

Essa garantia pode ser em dinheiro, títulos públicos (como o Tesouro Direto), títulos privados (como os CDBs) ou posições em ações.

O depósito é necessário para arcar com os ajustes diários dos contratos futuros em caso de perdas (oscilações negativas dos investimentos) até o momento de encerramento da operação.

Alavancagem

Como os contratos futuros são feitos sobre expectativas do mercado, é possível também "operar alavancado" —jargão do mercado financeiro para quando o investidor movimenta valores acima dos que possui em conta. No entanto, especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que tal movimento não é recomendável.

Por mais que o investidor possa ter lucros ao vender ou comprar um derivativo, ele também pode ter perdas sobre algo futuro —e, assim, acumular prejuízos.

Impostos

Os analistas recomendam que o investidor observe a cobrança do Imposto de Renda sobre os contratos futuros.

Para negociações iniciadas e encerradas no mesmo dia (chamadas de day trade), a incidência do IR é de 20%. Para operações superiores a um dia, a cobrança é de 15%.

É também necessário arcar com os custos de corretagem que variam conforme a instituição escolhida pelo investidor para operar os contratos futuros.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.