Alpargatas espera captar R$ 2 bi com novas ações; é hora de comprar?
No final de 2021, a Alpargatas (dona das marcas Havaianas e Dupé) anunciou a compra de quase metade da Rothy's, empresa norte-americana de calçados, por US$ 475 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões). Agora, a companhia anuncia que irá emitir novas ações no mercado para captar R$ 2 bilhões, concluir o negócio e não comprometer seu caixa. Mas, para o investidor, é uma boa hora para comprar as ações da Alpargatas (ALPA3 e ALPA4)?
De forma geral, especialistas ouvidos pelo UOL entendem que as perspectivas são positivas para a companhia. Mas ainda há questões importantes a serem resolvidas. Confira abaixo a análise completa.
Primeiramente, é preciso entender o que é o esse processo a ser realizado pela Alpargatas. Follow-on é um recurso em que uma companhia já listada na Bolsa de Valores decide emitir novos papéis.
É uma estratégia bastante utilizada por diferentes companhias para financiar novos projetos —como a aquisição de uma nova companhia, investimento em novas tecnologias ou construção de uma nova fábrica, por exemplo.
Com uma maior quantidade de ações disponíveis na Bolsa é possível atrair um maior número de investidores e, portanto, mais recursos para o crescimento da empresa.
Otimismo a longo prazo
O analista da Guide Investimentos Rodrigo Crespi lembra que o mercado não viu com bons olhos a compra da Rothy's. Não por conta da empresa, mas porque o preço acordado foi considerado alto. Porém, ele entende que há perspectivas interessantes no médio e longo prazo.
"É mais um passo para a internacionalização da Alpargatas como um todo. Significa uma maior penetração do mercado americano, que tende a ter um poder de compra mais elevado do que o brasileiro", diz Crespi.
Em 2021, a receita líquida da Alpargatas registrou crescimento de 25,6%, saltando para R$ 3,9 bilhões. No mesmo período, o lucro bruto (sem contabilizar as despesas) avançou 21,4%, resultando em R$ 1,9 bilhão.
No entanto, Crespi adota certa cautela. Ele declara que os resultados operacionais recentes têm sido pressionados pelo avanço nos custos de produção, sobretudo com matéria-prima, além de gargalos na cadeia logística, que impactam todo o varejo.
No último ano, as despesas operacionais da Alpargatas aumentaram 1,7% (chegando a R$ 1,3 bilhão), o que levou a questionamentos sobre os resultados —mesmo em meio à redução das despesas em 20,3% no quarto trimestre ante igual período de 2020, para R$ 325 milhões.
"No 4º trimestre, vimos a empresa dizendo que tem realizado reestruturações, o que deve levar à redução dos custos. Conforme a cadeia se recupera da pandemia, as margens operacionais da Alpargatas, tanto no Brasil, quanto no exterior, devem melhorar", afirma.
Vale a pena comprar ações da Alpargatas (ALPA3 e ALPA4)?
O analista da Guide diz que mantém a intenção de compra para Alpargatas, com preço-alvo de R$ 45 por ação.
Em comparação, no mês de agosto as ações da empresa (ALPA3 e ALPA4) chegaram a ser negociadas em R$ 52,7 e R$ 61, respectivamente. Atualmente, estão avaliadas na casa dos R$ 24,4 e R$ 27,6. Isso significa que houve recuos de 166% e 121%, o que é positivo para o investidor que quer começar a investir na companhia.
O chefe de renda variável da Levante Ideia de Investimentos, Flávio Conde, concorda com Crespi. Para ele, é positiva a compra de ações da Alpargatas diante de um follow-on.
"A empresa está indo muito bem. A administração mudou desde a compra de participação da Itaúsa [atual holding controladora] e vem numa crescente de resultados, com vendas, lucros e geração de caixa", afirma Conde.
Ele declara que a compra da Rothy's ajudará a Alpargatas a expandir o mercado nos EUA. Afinal, o país é o maior importador de calçados do mundo, com cerca de 2,5 bilhões de pares por ano.
Em 2021, a receita da Havaianas, por exemplo, cresceu 19,5% no Brasil (resultado de R$ 2,6 bilhões) e mais do que o dobro no exteior —41,5%, atingindo R$ 1,2 bilhão.
João Gabriel Abdouni, analista da Inversa, também lembra do bom histórico de gestão da Itaúsa e afirma que o mercado calçadista no país norte-americano gira entre US$ 9 a US$ 11 bilhões (cerca de R$ 46 a R$ 56 bilhões).
Entretanto, diferente dos outros dois analistas, Abdouni possui uma posição neutra para a Alpargatas. Segundo o especialista, a grande questão a respeito da companhia é seu valor de mercado, considerado alto.
"Ela está sendo negociada a 25 vezes o lucro. A média do Ibovespa gira entre 7 a 8 vezes [o lucro]. A Grendene [empresa concorrente dona de marcas como Melissa e Ipanema] é negociada a 11 vezes o seu lucro, ou seja, menos da metade", diz.
O preço sobre o lucro é uma métrica usada por analistas para avaliar se determinada companhia está barata ou não. A Alpargatas é avaliada em R$ 15 bilhões na B3.
"Acredito que na parte operacional o acionista não deve ter problemas, tanto no aspecto da gestão quanto na integração da Rothy's. É mais uma questão sobre encontrar pontos de entrada [no papel]", declara o analista da Inversa.
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