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Não perca: crise dá chance rara de ganhar dinheiro investindo pouco tempo

Investimento de renda fixa com títulos do Tesouro tem oportunidade rara, mas também risco e custos -
Investimento de renda fixa com títulos do Tesouro tem oportunidade rara, mas também risco e custos

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

29/06/2022 04h00

O normal no mercado é um investimento de renda fixa ter um rendimento melhor se o dinheiro ficar mais tempo aplicado. Mas, neste momento de crise, há uma rara situação que as pessoas podem aproveitar: dá para ganhar mais no curto prazo do que no longo. Isso é bom para quem precisa logo do dinheiro.

Há aplicação no Tesouro Direto com vencimento já em agosto próximo oferecendo um rendimento maior que outros que vencem nos próximos anos. Essa oportunidade de receber uma taxa maior por uma aplicação de menor prazo acontece por causa das incertezas iminentes que provocaram aumento da inflação no país, dizem profissionais de mercado, que chamam atenção para os custos e riscos desse negócios. Veja o que dizem especialistas sobre essa tática de investimento.

Taxas de juros de longo e de curto prazos

Quanto mais tempo até o vencimento tem uma aplicação, maiores os riscos de mudanças na economia afetarem inflação e juros, por exemplo. É por isso que o normal no mercado é um investimento oferecer ao aplicador rendimentos maiores para prazos mais longos.

Mas há momentos em que os juros de curto prazo se equiparam ou até superam as taxas projetadas pelo mercado para o longo prazo. Isso acontece quando algum fenômeno do presente se torna mais forte que os riscos provocados pelas incertezas relacionadas ao futuro.

No mercado de juros, os vencimentos curtos são mais influenciados pela política monetária, ou seja, do que o mercado espera para a inflação e para as taxas de juros que o Banco Central vai praticar. Já a parte longa dos juros tem mais relação com o risco de solvência do governo, ou seja, com o comportamento da dívida pública.
Mario Kepler, sócio da Portofino Multi Family Office

Inflação mais alta hoje afeta rendimento de aplicações

Neste momento no Brasil, o mercado está bastante preocupado com a inflação, que atingiu os maiores patamares em 19 anos. E para retomar o controle sobre a alta dos preços, o Banco Central começou a subir os juros com mais força este ano.

A taxa básica Selic, que estava em 2% em março de 2021, já atingiu agora 13,25%, a mais alta desde janeiro de 2017. Segundo comunicado do Banco Central, após o último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), os juros ainda vão subir mais um pouco, antes de estacionarem por algum tempo e, depois, começarem a cair.

Para 2023, por exemplo, o mercado projeta inflação de 4,5% e taxa básica de juros Selic de 9,75% —ambos abaixo dos atuais patamares, segundo o último Boletim Focus, do Banco Central.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta semana que o pior momento da inflação no Brasil deve ter passado. Por isso, o mercado enxerga uma taxa de juros no futuro menor que a praticada atualmente.

Para os próximos anos, os investidores esperam que o Banco Central consiga controlar a inflação e cortar a taxa Selic. Portanto, os investidores esperam que as taxas de juros caiam ao longo do tempo, o que faz com que as taxas de juros de longo prazo fiquem abaixo das taxas de curto prazo.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos

As taxas praticadas no mercado futuro, onde instituições financeiras negociam contratos de juros que servem de base para aplicações e empréstimos, apontam esse cenário até um horizonte de dois anos.

A partir dai, os juros projetados voltam a ficar mais elevados nos contratos mais longos. Veja abaixo taxas de juros prefixadas para alguns prazos, de acordo com dados da Anbima, em 24 de junho.

Taxas prefixadas

  • 4 meses: 13,75%
  • 12 meses: 13,25%
  • 21 meses: 12,74%
  • 29 meses: 12,61%
  • 38 meses: 12,63%
  • 59 meses: 12,82%

Taxas prefixadas atreladas ao IPCA, de acordo com dados da Anbima.

  • 4 meses: IPCA + 7,69%%
  • 12 meses: IPCA + 6,08%
  • 21 meses: IPCA +5,78%
  • 29 meses: IPCA + 5,65%
  • 38 meses: IPCA + 5,59%
  • 59 meses: IPCA + 5,60%

Veja os rendimentos em algumas aplicações

O comportamento dos juros praticados nos mercados futuros determina os rendimentos das aplicações, como a de alguns títulos do Tesouro negociados no mercado.

Tesouro IPCA:

  • Tesouro IPCA 2022: IPCA + 12%
  • Tesouro IPCA 2026: IPCA + 5,52%
  • Tesouro IPCA 2035: IPCA + 5,80%
  • Tesouro IPCA 2045: IPCA + 5,80%

Tesouro Prefixado:

  • Tesouro Prefixado 2023: 13,75%
  • Tesouro Prefixado 2025: 12,62%
  • Tesouro Prefixado 2029:12,70%
  • Tesouro Prefixado: 2033: 12,96%

Existe a expectativa de que as medidas que estão sendo tomadas pelo governo para reduzir a inflação segurem o IPCA. Assim, para que os títulos públicos indexados à inflação tenham o mesmo retorno que uma aplicação pós-fixada para um mesmo período, é necessário que a taxa acrescida ao IPCA no curto prazo fique mais elevada.
Ulisses Nehmi, CEO da Sparta Fundos de Investimento

Duas desvantagens na aplicação de curtíssimo prazo

O rendimento nos títulos de curtíssimo prazo pode ser uma oportunidade para o aplicador, mas ele precisa considerar dois fatores que podem corroer o ganho extra, dizem profissionais de mercado.

  1. Impostos: O investimento de curtíssimo prazo paga mais Imposto de Renda na hora do resgate porque a alíquota em saques com menos de seis meses é de 22,5%, a mais elevada na tabela regressiva de tributação. Para comparar, uma aplicação que aguarda um ano paga alíquota de 17,5% e se o resgate for após dois anos, o IR cai para 15%.
  2. Custo de reaplicar: Se o investidor não for utilizar o dinheiro resgatado, ele terá que reaplicar o capital. E pode ser que as taxas oferecidas nos títulos disponíveis de mercado em agosto, por exemplo, sejam menos vantajosas que as praticadas hoje. Se colocar nessa conta ainda o imposto a mais que ele pagou e eventuais taxas de corretoras, se houver, a vantagem extra que havia no título de curtíssimo prazo pode sumir.

Investimento de curtíssimo prazo tem impostos mais elevados e custo de transação maior, se comparado a aplicacões de longo prazo. Então, é mais uma operação de perfil especulativo do que uma alocação de carteira.
Mario Kepler, sócio da Portofino Multi Family Office

Para quem investimento vale a pena

O investimento em títulos de curtíssimo prazo é mais indicado para turbinar parte da carteira, e não como estratégia para toda a carteira, apontam em relatório Camila Dolle, head de Renda Fixa do Research da XP Investimentos, e Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP.

Ou seja, é uma oportunidade para quem separa uma fatia da carteira de renda fixa para os chamados movimentos táticos, que buscam capturar oportunidades pontuais de mercado.

E atenção porque, quanto mais curto for o tiro, maior deve ser o cuidado com os riscos, pois nesse caso não há muito tempo de reação ante grandes oscilações de preços e outros riscos.
Camila Dolle

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