Xepa da Bolsa: que ações vale comprar nessa onda de preços baixos?
Os investimentos em Bolsa foram castigados desde o começo do ano. O Ibovespa sofreu uma queda de 11,5% em junho e de quase 6% no semestre no Ibovespa. Essa desvalorização, porém, abre espaço para oportunidades. Quase todas as 65 ações do Ibovespa estão sendo negociadas com desconto. Nessa xepa, o que vale comprar? O que pode se recuperar primeiro?
As maiores quedas estão no setor de consumo, varejo e serviços. Algumas empresas, como a Clearsale (CLSA3), de tecnologia antifraude, caíram dramaticamente de valor. Em julho do ano passado, após sua abertura de capital, a empresa chegou a valer R$ 1,3 bilhão. Agora, esta custando quase a metade: R$ 700. O preço das ações caiu de R$ 28,50 para R$ 3,85.
Na semana passada, em um evento em São Paulo, o bilionário Luís Stuhlberger, dono do fundo Verde Asset Management, que tem o Credit Suisse como acionista, disse que está aproveitando a temporada de preços baixos e comprando ações na Bolsa de Valores de São Paulo. "Se o Stuhlberger está comprando, é porque vale a pena", disse Phil Soares, analista da Órama Investimentos.
Por que as ações caíram tanto?
Basicamente, porque os juros subiram. "A Bolsa tem uma relação inversamente proporcional aos juros", diz Gustavo Pazos, analista da Warren. Mas o setor de consumo, varejo e serviços é mais prejudicado porque suas atividades são mais fortemente atingidas pela alta dos preços e o custo maior do dinheiro.
As exceções são as petroleiras e empresas de gás. "Enquanto durar a guerra e o boicote ao petróleo da Rússia, viveremos um cenário de menor demanda e maior preço", explica Pazos. Por isso, essas companhias continuam valorizadas.
E o que vale comprar?
Aí depende: você pode escolher entre as ações que devem se recuperar primeiro ou as que podem subir mais, quando esse ciclo de juros e inflação alta passar. Isso porque a recuperação vai ser gradual.
"Ninguém sabe quando tudo isso vai passar. Diferentemente de outras épocas, estamos vivendo um ciclo de inflação que a gente brinca que é importada, o mundo inteiro está sofrendo coma alta de preços, por conta da pandemia, da guerra na Ucrânia, da alta do petróleo", diz Pazos.
Mas, em algum momento, isso deve ser superado. O próprio presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, afirmou recentemente que o pior momento da inflação no Brasil já passou e que o Brasil está muito perto de finalizar todo o trabalho de elevação de juros para domar a alta de preços.
Nesse primeiro momento da recuperação, segundo Phil Soares, da Órama, irão reagir as empresas que agora estão sofrendo menos: as do setor elétrico, as de produtos básicos (commodities), os bancos. "Todas essas empresas que tem resultados mais estáveis caíram menos de preço que as outras e vão ser as primeiras a se recuperar. Mas não vai ser um grande ganho", explica ele.
Então, se você quer resultados mais rápidos, aposte nelas. Mas sabendo que o potencial de alta não é tão grande.
Sem pressa
Quem não tem pressa e pode esperar mais deve procurar empresas que estão com a ação em baixa, mas que são boas companhias, com uma gestão enxuta. Elas estão em queda por motivos macroeconômicos e não por problemas em casa.
É o acaso, por exemplo, de acordo do Soares, da indústria de alimentos M.Dias Branco (MDIA3) e da fabricante de bebidas Ambev (ABEV3). "As maiores empresas, mais bem consolidadas vão voltar antes das que ainda estão em crescimento", diz o analista da Órama.
Outras que prometem um bom ganho são as focadas no consumo das classes A e B, que são menos suscetíveis aos efeitos da inflação.
Ganhos gordos
Agora, se você quer valorizações fortes o jeito é apostar em quem caiu mais: o setor de consumo, varejo e serviços. "Elas perderam muito e tem bastante terreno para recuperar", diz Pazos. Soares acredita que elas poderão gerar ganhos gordos quando os juros caírem e a inflação arrefecer. Mas até lá, continuarão a perder valor.
Depois das companhias de varejo, consumo e serviços, as últimas a se recuperar serão as do setor imobiliário, que são bem mais dependentes da taxa de juros. Após elas, as de tecnologia e só mais tarde as empresas endividadas. "O problema é que isso não vai acontecer tão cedo. Para tudo isso mudar de direção, além do PIB crescer, a população precisa ter aumento real de salário", diz Pazos.
E no próximo semestre?
Para os próximos meses, o cenário não é dos melhores. A recessão global deve continuar afetando as economias dos países e a brasileira não fica de fora, segundo ele. O preço das commodities (produtos agrícolas, minérios) poderão ter menor demanda e os preços devem cair, assim como as ações.
Uma boa aposta, nesse caso, são os ativos de banco. Mesmo que não rendam muito, diz Pazos, eles pagam bons dividendos.
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