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Como os juros altos no Brasil e EUA afetam meus investimentos?

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/02/2023 04h00

A renda fixa, no Brasil e no mundo, está mais atraente com os juros altos. Por outro lado, a Bolsa de Valores brasileira está barata, o que é uma vantagem para quem busca rendimentos no longo prazo, dizem especialistas. Entenda o cenário de juros altos e saiba como isso afeta os seus investimentos em renda fixa, na Bolsa e em dólar.

O que os bancos centrais do Brasil e dos EUA decidiram?

A Selic, taxa básica de juros, foi mantida em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro, no início de fevereiro.

Por outro lado, nos Estados Unidos, os juros subiram 0,25 ponto percentual, para entre 4,5% a 4,75% ao ano, decidiu o o BC americano, o Fed.

Por que os juros subiram?

Os bancos centrais, no Brasil e no mundo, aumentam os juros para tentar controlar a inflação. Como o crédito se torna mais caro, os gastos dos consumidores também diminuem, o que limita o aumento dos preços. Por outro lado, os bancos centrais podem cortar os juros para impulsionar a atividade econômica, aumentar o consumo e os investimentos de empresas.

O temor do Banco Central brasileiro é que a inflação continue em alta ao longo de 2023. Nos últimos 12 meses até janeiro, o IPCA chegou a 5,77%. Para esse ano, a meta de inflação é 3,25%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Nos Estados Unidos, a inflação anual chegou a 6,5% em dezembro, muito acima da meta de 2% definida pela autoridade monetária.

O que pode acontecer com os juros daqui para a frente?

Os juros podem continuar altos no Brasil e demorar mais a cair do que o previsto inicialmente. Até meados do ano passado, boa parte dos especialistas previa a queda na Selic ainda no primeiro trimestre de 2023, o que não é mais realidade. A expectativa é que a Selic comece a cair no final do segundo semestre.

O último boletim Focus, elaborado pelo Banco Central com base em análises de diversos economistas, prevê que a taxa Selic chegue a 12,75% no final deste ano e em 10% no fim de 2024. Há algumas semanas, a expectativa de queda era maior, para 12,25% e 9,25%, respectivamente.

O mesmo deve acontecer nos EUA. O presidente do Fed Jerome Powell, o banco central americano deixou claro que teremos mais alguns aumentos nos juros, diz Fabio Fares, especialista da Quantzed em análise macro.

Como os juros altos no Brasil e nos EUA mexem com os meus investimentos?

Renda fixa brasileira

Os juros altos no Brasil tendem a manter os retornos dos títulos de renda fixa atraentes. Um bom termômetro são as aplicações do Tesouro Direto, opções de renda fixa do governo federal. O Tesouro Prefixado com vencimento para janeiro de 2026 oferece rentabilidade anual acima de 13%, enquanto o Tesouro IPCA+ 2029, que paga uma taxa prefixada mais a inflação, em remuneração em torno de 6,30% mais o IPCA.

Devemos continuar visualizando bons prêmios e boas taxas em ativos de renda fixa, tanto para os prefixados quanto para os ativos atrelados à inflação.
Renan Suehasu, planejador financeiro e sócio da A7 Capital

O sócio da A7 Capital diz, ainda, que existem ativos na renda fixa com taxas prefixadas em 15% ao ano, com ganho real de até 7,5%.

Bolsa de Valores

Os investidores tendem a migrar da renda variável para a renda fixa, para proteger a carteira de riscos.

Por isso, as ações das companhias tendem a perder valor. É ruim para o investidor que deseja resgatar o dinheiro aplicado na Bolsa hoje, mas é interessante para aquele que pensa no retorno a longo prazo.

A Bolsa brasileira tem, hoje, preços bastante atraentes, diz o sócio da Nexgen Capital, Marcos Moreira. Há um desconto no preço sobre lucro em torno de 40%, comparado à média histórica dos últimos 15 anos. O preço sobre lucro (P/L) é uma métrica utilizada pelos agentes econômicos para entender se uma ação está barata ou cara no mercado.

Com o dólar alto, hoje na casa dos R$ 5,26, investir na Bolsa também fica bem mais acessível para os estrangeiros. Dessa forma, o fluxo de capital estrangeiro na B3 ficou positivo em R$ 32,49 bilhões em janeiro, chegando ao quarto mês consecutivo de saldo positivo.

Moreira destaca que a Bolsa brasileira também é favorecida pela reabertura da economia chinesa, que demanda mais commodities. As empresas que atuam nesse setor somam 38% dos ativos na B3, ante a média de 14% em outros países emergentes e de 8% nos EUA.

Dólar

Se os juros caírem lá fora, o Brasil pode ficar mais interessante para o investidor de fora.

No boletim Focus, os economistas consultados pelo Banco Central acreditam que a moeda americana deve fechar o ano em R$ 5,25. Com o aumento da entrada de capital estrangeiro e a possível queda dos juros nos Estados Unidos ainda em 2023, já há previsões do dólar abaixo dos R$ 5. Alisson Correia, CEO da casa de análises Top Gain, diz que o dólar deve encerrar o ano em R$ 4,78.

O real foi uma das moedas que mais se valorizou em relação ao dólar em 2022, diz a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá. Isso mudou no início deste ano com as incertezas quanto a política econômica do governo Lula (PT). Na Rico, a estimativa é do dólar em R$ 5,30 em 2023 e R$ 5,40 em 2024.

O melhor é investir em ativos em dólares, seja com ações de empresas estrangeiras ou fundos internacionais, e não comprar a moeda em si, diz Rachel..

Renda fixa americana

O especialista da Quantzed em análise macro, Fabio Fares, afirma que um patamar de juros de 5% ao ano em dólar (possibilidade no próximo encontro do Fed) é algo que não ocorria em décadas.

A melhor forma de aproveitar o investimento em renda fixa nos Estados Unidos é com aplicações em ETFs (Exchange Traded Funds), fundos de renda passiva que seguem de forma fiel a composição de determinado índice, como o Ibovespa, diz Fares.

Além da disponibilidade imediata do dinheiro ao aplicar em ETFs, Fares afirma que a taxa de administração é baixa e não há a cobrança de taxa de performance.

Para quem quer a renda fixa americana, o fundador da Gava Investimentos, Ricardo Brasil, indica o BOV39, que contempla tanto títulos de longo prazo quanto de curto prazo.

Uma segunda opção é o BLQD39, fundo de renda fixa privada que investe em empresas americanas. Há, ainda, o BHYG39, com títulos de empresas que trazem um maior risco.

Outra opção são os bonds, títulos de dívida emitidos pelo governo ou empresas. Os prazos de resgate desses bonds são definidos pelas corretoras.

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