Ação barata na Bolsa: quando é um bom investimento ou uma furada?
Para investidores sem muita experiência na Bolsa de Valores, pode parecer que comprar ações de empresas cotadas a centavos no mercado é um bom negócio, pensando que elas podem subir com força em um futuro próximo. Mas nem sempre o valor nominal do papel indica que aquele é um bom negócio.
O que olhar antes de comprar uma ação
Uma ação negociada a centavos na Bolsa pode apresentar alguns problemas. Um deles é a empresa em questão estar em recuperação judicial - é o caso das Americanas. Ainda pode ser uma empresa com crescimento alto e lucro mais baixo ou até prejuízo, comum no setor de tecnologia. Dessa forma, quais indicadores observar antes de investir? O valor da ação deve de fato ser descartado? Como mensurar o valor real de uma companhia?
Preço sobre lucro é a métrica mais conhecida. De maneira simples, a conta divide o valor da ação pelo lucro da empresa. Quanto maior for o P/L, pode ser maior a disposição do mercado em pagar pelos papéis.
Duas ações de mesmo valor podem ter preço sobre lucro diferentes. Uma ação que custa R$ 10 e tem lucro de R$ 10 por ação terá um P/L de 1. Por outro lado, outra companhia que custa os mesmos R$ 10 mas tem um lucro de R$ 20 terá o indicador em 0,5. Isso pode significar que a empresa está barata na Bolsa e pode ser uma boa chance de ter rentabilidade, explica Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
O preço sobre lucro pode, às vezes, esconder algumas coisas. Se uma empresa tem um preço-lucro mais alto, mas o lucro dela cresce mais rápido, é normal que ela negocie com um múltiplo mais elevado. A gente tenta entender esses múltiplos, esses números, mas como um filme, não como uma foto.
Felipe Cima, analista do Grupo Manchester
Preço sobre valor patrimonial (P/VPA) também é importante. Ao comparar o preço das ações naquele momento com o valor contábil da companhia, o investidor consegue entender se está pagando um valor justo com base no patrimônio ou se a ação está desvalorizada, por exemplo.
Ação com P/VPA menor do que 1x pode mostrar um valor menor do que o real - isso pode ser uma oportunidade ou significar que o mercado enxerga algum risco. É o que explica Matheus Falci, sócio da One Investimentos. Entretanto, empresas com queima de caixa acelerado para investimentos tendem a apresentar um P/VPA baixo por um período determinado, até que o lucro comece a aparecer nos resultados, por exemplo. Por isso, é sempre importante olhar para o indicador em meio ao contexto.
Compare ações diferentes no mesmo setor
Comparação deve ser feita entre empresas com atividades similares. Ao verificar de forma individual o preço sobre lucro de uma empresa de tecnologia, a maioria deve apresentar valores bem superiores às empresas de utilities, que por característica são mais consolidadas. Além disso, uma companhia de tecnologia pode ser mais volátil. "Só é possível saber se as ações estão caras ou baratas quando comparadas entre si", diz Falci.
Indicadores podem variar inclusive conforme o segmento de atuação. Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, lembra que empresas de tecnologia possuem pouco ou nenhum lucro, o que faz com que o preço sobre lucro não seja o indicador mais adequado para essas ações, por exemplo.
Nível de endividamento. Segundo Felipe Martins Passero, especialista em investimentos, mensurar o tamanho da dívida e o quanto da receita operacional é desembolsado para o pagamento desses compromissos ajudam a compreender se aquela é uma companhia financeiramente saudável e quais suas perspectivas futuras.
Gestão, segmento de atuação e tamanho de mercado. Entender qual a experiência do presidente e do Conselho de Administração, se a companhia está inserida em um setor mais sensível a crises em determinada atividade (como commodities) ou mesmo à inflação (caso do varejo) são pontos a serem observados.
Investidor também deve pesar na balança o seu perfil de risco e portfólio. Outra dica é buscar uma alocação que esteja alinhada com o nível de risco e horizonte de investimentos para uma diversificação apropriada, visando a redução da exposição a riscos extremos no mercado.
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