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Setor aéreo da América Latina levará anos para se recuperar do efeito coronavírus

Aeronave da Latam com as turbinas cobertas - Divulgação
Aeronave da Latam com as turbinas cobertas Imagem: Divulgação

29/05/2020 14h11

A pandemia de covid-19 cortou as asas das companhias aéreas da América Latina, que levarão até três anos para se recuperarem plenamente e pedem ajuda dos governos para sua necessária reinvenção.

A decisão da Latam e da Avianca, as maiores companhias aéreas da região, de recorreram à recuperação judicial nos Estados Unidos evidenciou a gravidade da crise.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) estima que deve levar até três anos para que se recupere o ritmo de voos domésticos e regionais de 2019, e até 2024, no caso dos voos para Estados Unidos e Europa.

"É uma corrida de longo alcance, não será de curto prazo. Será preciso trabalhar muito", disse à AFP o vice-presidente da IATA para as Américas, Peter Cerdá.

A perda devido à paralisia dos voos, que despencaram 93%, é estimada em US$ 18 bilhões, afirmou o executivo, acrescentando que a sangria deve continuar.

Essa situação, que Cerdá considera pior do que a sequela dos ataques do 11 de Setembro nos EUA, deixará perdedores.

"Vamos ter companhias aéreas que não vão conseguir se recuperar, que terão que fechar suas operações para sempre", antecipa.

Após quase três meses de fechamento de fronteiras e de restrições ao movimento regional, a maioria dessas empresas já esvaziou o caixa, e o apoio governamental é "urgente", defendeu Cerdá.

O recurso é controverso em uma região, onde a pobreza e o emprego informal afetam milhões de pessoas, altamente vulneráveis à pandemia.

"Não é um resgate"

"O que estamos pedindo não é um resgate financeiro, é apoio, alívio imediato que permita à indústria sustentar" suas operações, alega Cerdá.

As opções incluem a redução de impostos, mas também que os governos garantam os créditos reivindicados pelas companhias aéreas em crise.

A ajuda do governo ao setor no mundo já chega a US$ 123,1 bilhões, de acordo com a IATA, sendo US$ 300 milhões na América Latina.

"Tanto aeroportos quanto companhias aéreas, governos, estão perdendo neste momento", reforça Fernando Gómez Suárez, analista independente no México, ao comentar o papel crucial da aviação comercial na conectividade do continente.

No caso da Latam, o governo do Chile, país de origem da empresa transnacional presente no Peru, na Colômbia, no Equador, na Argentina, no Brasil e no Paraguai, contempla um resgate, considerando-o "estratégico".

A empresa anunciou a demissão de 1.800 de seus 42.000 funcionários em todas as suas subsidiárias. Com o resgate, o governo de Sebastián Piñera estaria buscando preservar os 10.000 empregos diretos e 200.000 indiretos que a LATAM gera no país. A empresa também conversa com os governos de Brasil, Peru e Colômbia.

Negociações

No Brasil, o maior mercado doméstico da região, com 90 milhões de passageiros por ano, bancos privados coordenados por um banco de fomento administram um empréstimo de cerca de US$ 1,1 bilhão para as três maiores companhias aéreas: Gol, Azul e Latam.

Para ter acesso ao crédito, Gol e Azul aceitaram cortar salários de seus executivos, e todas preparam tarifas e pacotes especiais para aumentar a reativação.

No México, o maior destinatário de visitantes estrangeiros da região, o ministro do Turismo, Miguel Torruco, disse que o país continuará a ter "companhias aéreas sólidas, fortes".

Embora o governo mexicano tenha se recusado, insistentemente, a resgatar empresas de qualquer setor em meio à crise da saúde, a IATA confirmou que há um diálogo para buscar alívio dos encargos financeiros das companhias aéreas.

Na Argentina, a estatal Aerolineas Argentinas anunciou no início de maio uma fusão com sua subsidiária Austral para reduzir infraestrutura e pessoal e economizar até US$ 100 milhões.

Para o analista Gómez Suárez, o mercado das companhias aéreas que desaparecerem poderá ser rapidamente absorvido por outras. O desafio será modificar as formas de viagem e harmonizar os novos protocolos de saúde entre os países - o que vai gerar custos mais altos para o passageiro.