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O que torna tecnicamente impossível abrir a porta de um avião comercial em pleno voo

Há alguns dias, passageiro da British Airways tentou abrir a porta dianteira de um avião - Getty Images
Há alguns dias, passageiro da British Airways tentou abrir a porta dianteira de um avião Imagem: Getty Images

23/12/2019 10h07

É provável que você, se algum dia tiver viajado em um assento perto da porta de emergência de um avião, tenha se perguntado o que aconteceria se alguém abrisse a porta durante o voo, como em um filme do James Bond.

Esse tipo de situação já aconteceu mais de uma vez. Um dos casos mais recentes foi há alguns dias em um voo da British Airways de Londres, Reino no Unido, para a Arábia Saudita, quando um homem entrou em pânico e tentou abrir a porta dianteira da aeronave.

"Eu quero sair!", ele gritava enquanto puxava a porta. Vários passageiros trataram de impedi-lo e finalmente conseguiram levá-lo de volta ao seu lugar, onde foi forçado a permanecer até o fim do voo. O homem estava bêbado.

"Nossa tripulação atendeu a um homem que sofreu um ataque de pânico durante o voo", afirmou a companhia em comunicado. "Lamentamos as preocupações que isso causou aos nossos clientes."

Mas, embora certamente muitos tenham ficado assustados, na realidade, o passageiro não poderia ter feito nada: a pressão da cabine o teria impedido.

Fecho hermético

A primeira razão é que as portas são trancadas mecanicamente. De fato, o piloto controla o sistema que as mantém bem fechadas.

A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) diz que "devem ser tomadas precauções no projeto para minimizar a possibilidade de uma pessoa abrir intencionalmente a porta durante um voo". É por isso que a barra das portas do avião é automatizada.

"Quando o avião pousa e vai para o portão de embarque, você pode ouvir o piloto dizer 'portas em manual'. Somente então o piloto libera o controle, quando elas podem ser abertas por uma pessoa", disse Steve Wight, professor-adjunto de engenharia aeroespacial da Universidade do Oeste da Inglaterra, à revista americana Wired.

O piloto Patrick Smith escreve em seu blog AskThePilot (Pergunte ao Piloto, em tradução livre) que elas podem ser abertas após o pouso, caso o avião precise ser esvaziado com urgência.

Mas, quando o avião está em pleno voo, a história é um pouco diferente.

O papel da pressurização

A pressurização é a única maneira possível de permitir que os aviões voem acima de 10 mil metros sem comprometer a saúde da tripulação e dos passageiros.

Quanto mais subimos na atmosfera, menos pressão é exercida sobre as moléculas de oxigênio, por isso é mais difícil respirar. É o que diz a lei de Boyle-Mariotte, que também explica por que nossos ouvidos ficam entupidos no avião.

E o que isso tem a ver com portas? Muito simples: a pressão da cabine as mantém fechadas, como a tampa do ralo em uma banheira.

David Birch, professor sênior de engenharia aeroespacial da Universidade de Surrey, no Reino Unido, disse à BBC que as portas da aeronave foram projetadas para serem bloqueadas pela alta pressão.

No entanto, "a pressão da cabine é normalmente mais baixa que as condições normais do nível do mar, de modo que a força da pressão realmente começa a funcionar em altitudes mais altas".

Dentro da cabine, há uma pressão muito maior do que fora, diz um artigo da revista Fortune. Isso exigiria uma "força extrema" para abrir a porta.

"A pressurização interior na realidade sela a porta na estrutura", disse Douglas Moss, piloto da United Airlines há 20 anos, à Fortune.

"Quando você sair do avião, repare bem na porta", explicou Wright. "Você notará que tem uma forma cônica bastante interessante. Isso é porque ela realmente é fechada como uma rolha. Quando a tripulação da cabine a abre, isso deve ser feito com um tipo especial de alavanca."

E não importa quão forte seja quem tente abrir a porta: será fisicamente impossível.

De fato, Wright diz que as janelas (e não as portas) são o ponto mais fraco do avião. Se uma janela ou porta se abrir em pleno voo, você seria automaticamente arrastado em sua direção devido à diferença de pressão, algo que aconteceu em um voo da Aloha Airlines em 1988 (e que causou a morte de uma pessoa).

Nesse caso excepcional, houve uma "descompressão explosiva" que fez com que parte do teto do avião se soltasse, exigindo um pouso forçado (e sem teto!).

E embora seja difícil - praticamente impossível - que isso aconteça, é outra razão para usar sempre o cinto de segurança se você ainda pensa em James Bond quando olha para as portas de emergência.

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