Confiar na relação com Trump é um risco muito grande, diz Sheinkman
Confiar na relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um risco muito grande, na avaliação do economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Columbia, em Nova York, e professor emérito da Universidade de Princeton.
"O problema do Trump é que ele vira contra ou a favor dos amigos muito rapidamente. Qualquer pessoa que vai confiar na sua futura relação com Trump corre um risco muito grande", disse Scheinkman, sobre a relação do presidente Jair Bolsonaro com o líder americano.
Em entrevista à BBC News Brasil, Scheinkman defende que o governo brasileiro "trabalhe em todos os lados" do ponto de vista comercial e procure construir relações com diversos países.
"Isso não é uma política de Estado", diz, sobre relação dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. "A política de Estado do Brasil tem que ser aquela que beneficia o país. Evidentemente, há relações pessoais e elas podem ajudar em determinados momentos, mas você não pode contar com elas como sendo o motor da integração do país no mundo. O Brasil precisa se integrar mais no mundo."
Bolsonaro, que tem o posicionamento ideológico de direita em comum com Trump, defende que o bom relacionamento entre os dois poderia garantir benefícios aos brasileiros.
Em 2019, no entanto, o governo Trump adotou decisões que prejudicaram diretamente o Brasil, em contraste com o discurso de grande amizade e proximidade entre os dois países. Em dezembro, por exemplo, Trump anunciou a restauração de tarifas sobre as importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina, diante da desvalorização do real e do peso frente ao dólar.
Sobre a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, as duas maiores economias do mundo, Scheinkman diz que há "uma certa saia justa para o Brasil" porque o mercado brasileiro também tem interesse na relação com a China, importadora de produtos brasileiros.
"Não adianta ficar tomando partido numa briga que você não tem necessidade de tomar partido. Você não vê outros países escolhendo lado. Você pode muito bem escolher o lado político, mas do ponto de vista de relações comerciais você tem que trabalhar em todos os lados."
Política ambiental
Para construir e fortalecer relações comerciais com outros países, Scheinkman aponta que as medidas do governo nas áreas ambiental e de combate à pobreza são fundamentais.
"Uma coisa que me preocupa muito em relação ao governo Bolsonaro e que tem reflexos na economia é toda a questão da política de meio ambiente", diz. "Para se integrar com grandes economias mundiais no cenário atual, não basta só você ter produtos que eles queiram comprar. Você precisa também demonstrar que tem uma atitude em relação à questão climática e à pobreza condizentes com o que essas outras economias demandam."
Além de abrir espaço para acordos comerciais, esses temas também são importantes para atrair empresas e investidores estrangeiros, ele diz.
"Quando você participa de discussão com investidores aqui nos Estados Unidos, na Europa e no resto do mundo, há um interesse muito grande em entender qual é o impacto no meio ambiente da atividade econômica. Então, um governo que tem uma atitude sobre o meio ambiente como a do governo Bolsonaro, evidentemente isso custa bastante em termos de possíveis investimentos no Brasil."
Na avaliação do economista, o governo deve levar em conta esses impactos para a economia e se reposicionar. Ele diz acreditar que o governo "vai agir de maneira racional" e garantir a potenciais investidores que o Brasil "tomará as medidas adequadas nessa área".
'Perda de tempo'
Ao avaliar o desempenho da economia brasileira em 2019, Scheinkman diz que ela "tem melhorado", o que ele considera um resultado de medidas tomadas durante o governo do ex-presidente Michel Temer, como ajuste das contas do governo e reforma trabalhista, além de ações promovidas pelo atual governo.
Questionado sobre as melhorias que viu serem implementadas na gestão do ministro Paulo Guedes (Economia), Scheinkman diz que se trata "mais de uma direção do que uma coisa realizada".
"A ideia de diminuir a atividade do governo em setores para os quais o governo não é necessário é uma direção boa", afirmou.
Sobre a reforma da Previdência, ele diz que, embora fosse "um projeto que já estava amadurecido e que foi levado principalmente pela Câmara", teve contribuição do atual governo.
No entanto, Scheinkman diz que houve "muito atraso" em relação ao que se esperava do primeiro ano de governo, especialmente a reforma tributária.
"A reforma tributária estava mais ou menos encaminhada, havia um projeto do (Bernard) Appy que já tramitava na Câmara, com muitos pontos positivos. O governo perdeu muito tempo tentando discutir a CPMF, que é um imposto ruim, e finalmente —e felizmente— provou-se impossível de passar. Ao mesmo tempo, a gente não tem ainda proposta do governo. Acho que foi perda de tempo."
Veja mais economia de um jeito fácil de entender: @uoleconomia no Instagram.
Ouça os podcasts Mídia e Marketing, sobre propaganda e criação, e UOL Líderes, com CEOs de empresas.
Mais podcasts do UOL no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.