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Com interferência de Bolsonaro, Petrobras tem perda histórica de valor de mercado

Suamy Beydoun/AGIF/Estadão Conteúdo
Imagem: Suamy Beydoun/AGIF/Estadão Conteúdo

22/02/2021 20h21Atualizada em 22/02/2021 20h41

A Petrobras perdeu mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado desde a última quinta-feira (18), em meio à crise gerada pela decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de trocar o comando da empresa para conter a alta de preço dos combustíveis.

Nesta segunda-feira (22), as ações ordinárias da empresa fecharam em queda de 20,48%, cotadas a R$ 21,55. Já as ações preferenciais recuaram 21,51%, para R$ 21,45. Com isso, o valor de mercado da empresa chegou a R$ 278 bilhões, comparado a R$ 383 bilhões no fechamento do pregão na quinta — uma perda de valor de 27%.

Ações ordinárias são aquelas que dão ao investidor direito a voto e a participar nas decisões da companhia. Já as preferenciais não têm direito a voto, mas têm preferência para receber dividendos, que são os lucros distribuídos aos acionistas pelas empresas.

Na semana passada, a empresa havia anunciado o quarto aumento de combustíveis deste ano. Com o novo reajuste, a gasolina acumula alta de 34,78% nas refinarias desde o início de 2021 e o diesel já subiu 27,72% no mesmo período.

Na noite de quinta-feira, Bolsonaro anunciou em uma live no Facebook sua intenção de intervir na empresa diante da alta de preços.

"Eu não posso interferir, nem iria interferir. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Você tem que mudar alguma coisa, vai acontecer", disse Bolsonaro, durante a transmissão.

A resposta do mercado veio já no dia seguinte. Na sexta-feira (19), as ações ordinárias da Petrobras fecharam o pregão em queda de 7,92%, cotadas a R$ 27,10. Já os papéis preferenciais recuaram 6,63%, para R$ 27,33.

Com a queda da sexta-feira, a Petrobras já havia perdido naquele dia mais de R$ 28 bilhões em valor de mercado. E então Bolsonaro falou novamente.

Naquela noite, o presidente anunciou nas redes sociais a intenção de substituir o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, hoje presidente da usina de Itaipu.

Embora a decisão ainda precise do aval do conselho de administração da empresa, a interferência de Bolsonaro contrariou - mais uma vez - seu discurso de campanha, e as promessas do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que este seria um governo liberal (e portanto não intervencionista).

Com isso, diversos bancos e corretoras de valores pioraram suas avaliações sobre as ações da Petrobras. Foi o caso, por exemplo, da XP Investimentos que passou a recomendar aos investidores que vendam os papéis da empresa.

"O anúncio coloca em xeque a independência administrativa da Petrobras", escreveram os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado, em relatório publicado no domingo (21). "Não há mais como defender", disseram.

"Ao invés de propor claramente uma política pública voltada à modicidade dos preços do diesel e do gás de cozinha, por exemplo, com instrumentos e subsídios explícitos, [Bolsonaro] atuou de modo a desmoralizar a governança da Petrobras e seu valor de mercado", escreveu o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em relatório. "Não cabe a uma empresa listada em bolsas resolver problemas sociais."

Não foi só a Petrobras que sofreu com o rompante intervencionista de Bolsonaro. As ações do Banco do Brasil também tiveram queda de mais de 11% nesta segunda feira, enquanto os papéis da Eletrobras sofreram com volatilidade ao longo do pregão.

No fim de semana, o presidente disse que pretende interferir também no setor elétrico.

"Assim como querem nos derrubar na pandemia pela economia fechando tudo, agora resolveram atacar na energia. Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema", disse Bolsonaro no sábado a apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, sem dar mais detalhes sobre o que pretende fazer.

Ao longo do fim de semana, também cresceram as especulações sobre uma possível troca no comando do Banco do Brasil, com a saída do atual presidente André Brandão.

As divergências entre Bolsonaro e Brandão começaram depois que o presidente do banco estatal anunciou um programa de reformulação administrativa que incluía, além do fechamento de agências, um PDV (programa de demissão voluntária) para 5 mil funcionários.

"A notícia expõe, mais uma vez, os riscos de ingerência política na estatal e coloca em xeque qualquer possibilidade do BB assumir uma gestão mais liberal no atual governo", escreveram os analistas da Ativa Investimentos, em comunicado.