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Investigação na Petrobras transforma ações brasileiras nas mais instáveis do mundo

Julia Leite

30/12/2014 14h11

30 de dezembro (Bloomberg) -- As ações brasileiras estão encerrando o ano como as mais voláteis (instáveis) do mundo depois que os investidores passaram por uma recessão, por uma eleição e pelo maior escândalo de corrupção da história do país.

As oscilações do Ibovespa impulsionaram a volatilidade neste ano para 26%, nível mais alto entre os 20 maiores mercados de ações monitorados pela Bloomberg. Os altos e baixos, incluindo dois bear markets (tendência de queda nos mercados) e um salto de 38% no meio, foram mais extremos que em países como Nigéria e Israel.

A recessão do primeiro semestre e uma campanha presidencial disputada até o final, da qual Dilma Rousseff saiu reeleita, decepcionando investidores que haviam apostado que um novo governo impulsionaria o crescimento, aumentaram as oscilações no mercado acionário.

A confiança no Brasil tem sido ainda mais prejudicada porque uma queda das commodities reduziu as perspectivas para os exportadores, ao mesmo tempo em que as acusações de corrupção colocaram a gigante Petrobras no centro da maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro da história do país.

"Existe uma incerteza a respeito da direção da economia, sobre qual será o crescimento, e agora você tem essa queda do petróleo", disse Paul Zemsky, chefe de estratégias multiativos da Voya Investment Management LLC, que gerencia US$ 213 bilhões, por telefone, de Nova York. "Há uma série de questões deixando os investidores temerosos no Brasil. E ter um problema de corrupção certamente não ajuda".

Os traders usam a volatilidade para determinar o risco de manter um determinado título porque ela mede a taxa pela qual os preços vão variam. Em geral, uma volatilidade maior é associada a ativos de maior risco, porque indica que os preços podem oscilar drasticamente ao longo de um período curto de tempo.

Desaparecem os ganhos

O Ibovespa entrou em um bull market (tendência de alta) em 7 de maio, completando uma recuperação de 20% em relação à mínima registrada em março, com a especulação de que Dilma perderia a eleição em meio ao pior desempenho econômico de um presidente brasileiro em duas décadas.

O índice começou a mudar de rumo após atingir, em 2 de setembro, a maior cotação em 19 meses, com a campanha de reeleição da presidente ganhando força antes da eleição, em outubro, e o Banco Central elevando as taxas de juros para conter a inflação.

As perdas do Ibovespa se aprofundaram em meio à ampliação da investigação de empresas construtoras que supostamente formaram um cartel para ganhar contratos, que incluem R$ 59 bilhões (US$ 22 bilhões) em trabalhos para a Petrobras.

A queda colocou o Ibovespa em um bear market (tendência de queda) em 12 de dezembro, levando sua volatilidade de 90 dias ao nível mais alto em três anos.

O Brasil tem quatro das ações mais voláteis entre as 500 maiores empresas do mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg. A volatilidade de 90 dias do Banco do Brasil SA, do Banco Bradesco SA e do Itaú Unibanco Holding SA, os três maiores bancos do país em capitalização de mercado, saltou para mais de 58% neste ano.

Investigação de corrupção

As oscilações da Petrobras, cujas ações estão sendo negociadas próximo à mínima registrada em uma década, mais que dobraram em 2014, para 86%. A produtora de petróleo com sede no Rio de Janeiro disse em 12 de dezembro que atrasaria a divulgação de seus resultados financeiros pela segunda vez, enquanto a investigação de corrupção continua.

A companhia disse ontem, em um fato relevante, que divulgará os resultados não auditados do terceiro trimestre em janeiro.

Além do inquérito da Petrobras, a queda de 46% no preço do petróleo bruto neste ano intensificou as oscilações acionárias devido à preocupação de que o crescimento do país exportador de commodities será ainda mais lento.

A expansão da maior economia da América Latina provavelmente será menor que a média da região pelo quinto ano seguido em 2015, segundo analistas consultados pela Bloomberg.

As oscilações do Brasil foram três vezes maiores que as de Israel, onde o conflito com o Hamas prejudicou o turismo e a força do shekel freou as exportações. A volatilidade do índice de referência das ações da Nigéria foi 9 pontos porcentuais mais baixa do que a do Ibovespa mesmo após a queda de 12% do naira neste ano e o aumento dos ataques de militantes islâmicos.

"A entrada dos preços do petróleo no cenário adiciona muita volatilidade à perspectiva econômica para o Brasil", disse Lu Yu, gerente financeira da Allianz Global Investors, que supervisiona US$ 511 bilhões em ativos, por telefone, de San Diego, EUA.

"Considerando que a economia é tão dependente de commodities, a volatilidade permanecerá por um tempo".