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Programas do BCE sofrem efeitos de riscos políticos na Europa

28/01/2016 14h46

Jeff Black e Lucy Meakin (Bloomberg) - Mario Draghi pode ser o grande protetor da zona do euro, mas os investidores ainda podem se machucar.

Dos bonds do governo português às ações de bancos italianos, as regiões com maiores problemas na zona do euro estão funcionando como lembretes de que os programas de estímulo e as redes de proteção do presidente do Banco Central Europeu não significam imunidade a perdas. É um alarme que pode se revelar oportuno se uma série de riscos políticos da Espanha até a Grécia se materializar.

Com o programa de Transações Monetárias Definitivas (TMD) do BCE, que acabou com a crise, em 2012 e o plano de flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês) desde março do ano passado, os mercados até agora ficaram em grande parte anestesiados em relação à política. Apesar de não se parecerem em nada ao que eram durante o colapso de cinco anos atrás, os investidores que se perguntam quando as drogas vão deixar de fazer efeito poderiam ter uma resposta.

"Assim que houver uma motivação real para vender, não importa se alguém está comprando bonds por meio de QE", disse Charles Diebel, diretor de taxas da Aviva Investors em Londres, que administra cerca de US$ 351 bilhões. "Enquanto nada realmente mudar, pode-se dizer que a QE fornece certo apoio, mas na verdade, ela, por si só, não oferece".

Riscos persistentes

Na verdade, os países que caracterizaram a crise da dívida soberana da Europa entre 2010 e 2012 nunca deixaram de ser fontes potenciais de turbulência para os mercados financeiros.

Há a chegada de um governo hostil às reformas de seu predecessor em Portugal, a possibilidade de que um governo assuma na Espanha e a ameaça iminente de que o programa de resgate da Grécia fracasse.

A crise dos refugiados, que se cozinha a fogo lento, também tem o potencial de romper o consenso que sustenta a União Europeia e bancos como o Credit Suisse Group AG estão alertando que os mercados estão subestimando o impacto da votação no Reino Unido sobre a permanência do país no bloco. Tudo isso acontece enquanto a economia global preocupa até mesmo a Apple.

De Portugal à Grécia

O yield sobre os bonds portugueses com vencimento em dez anos subiu desde que o primeiro-ministro António Costa formou um governo em novembro com a promessa de diminuir a austeridade. O ágio sobre os bunds alemães de referência na semana passada foi o mais amplo desde o começo do programa de QE.

Na Itália e na Espanha, foram os bancos que sofreram porque os investidores venderam ativos ligados aos pontos fracos das finanças dos países.

Os bonds do governo grego estão caindo de novo porque o primeiro-ministro Alexis Tsipras está prestes a enfrentar seus credores europeus mais uma vez sobre as reformas de pensões atreladas aos pagamentos do resgate.

Na semana passada, Draghi sinalizou um impulso à QE logo em março por causa da continuação do declínio nos preços do petróleo neste ano e da perspectiva global incerta. Em vez de aceitar as críticas de que o BCE não consegue atingir sua perspectiva de inflação há três anos e mudar a meta, Draghi parece estar pronto para aumentar o estímulo o tempo que for necessário.

"Nós temos muitos instrumentos", disse o presidente do BCE na semana passada no Fórum Econômico Mundial na Suíça. "Nós temos a determinação e a vontade e a capacidade do Conselho do BCE para agir e implementar esses instrumentos".

Nuvens sombrias

Mesmo assim, as nuvens estão voltando a pairar sobre a zona do euro.

A chegada de mais de um milhão de refugiados nos últimos doze meses esgotou o capital político alemão em particular e a liderança da chanceler Angela Merkel agora é questionada. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, temendo um colapso do consenso e o fechamento das fronteiras internas da Europa, disse que a crise dos refugiados poderia colocar em perigo a própria existência do euro.

De repente, a eleição de um governo antiausteridade na Espanha ou a ascensão da extrema direita na França parecem interruptores viáveis para que investidores nervosos vendam dívida de governos ou ativos relacionados - a ponto de obrigar o BCE a intervir, segundo Nick Kounis, diretor de pesquisa macroeconômica do ABN Amro em Amsterdã.

"O risco periférico persistirá", disse ele. "É muito imprevisível e existem disparadores possíveis em todo lugar".

Título em inglês: 'Draghi's Shield Under Attack as Politics Exposes European Risks'

Para entrar em contato com os repórteres: Jeff Black, em Frankfurt, jblack25@bloomberg.net; Lucy Meakin, em Londres, lmeakin1@bloomberg.net