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Arábia Saudita planeja megafundo de US$ 2 trilhões

John Micklethwait, Glen Carey, Alaa Shahine e Matthew Martinez

01/04/2016 14h58

(Bloomberg) -- A Arábia Saudita se prepara para o declínio da era do petróleo, ao criar o maior fundo soberano do mundo para os ativos mais cobiçados do reino.

Durante uma conversa que durou cinco horas, o príncipe Mohammed bin Salman, segundo na linha de sucessão do trono, explicou a visão dele para o Fundo de Investimento Público, que eventualmente controlará mais de US$ 2 trilhões e ajudará a reduzir a dependência do reino em relação ao petróleo. Como parte da estratégia, o príncipe diz que os governantes venderão ações da controladora da Aramco e transformarão a petrolífera em um conglomerado industrial. A abertura de capital pode ocorrer já no ano que vem, com a venda de uma participação que, no momento, é planejada em menos de 5 por cento.

"Abrir o capital da Aramco e transferir suas ações para o Fundo de Investimento Público tecnicamente fará dos investimentos a fonte de renda do governo saudita, não o petróleo", o príncipe afirmou durante uma entrevista no complexo real em Riad que terminou às 4 da manhã de quinta-feira. "O que resta agora é diversificar investimentos. Assim, dentro de 20 anos, seremos uma economia ou estado que não dependerá principalmente do petróleo."

Quase oito décadas após a primeira descoberta de petróleo no reino, o filho de 30 anos do rei Salman pretende transformar o maior exportador de petróleo do mundo em uma economia preparada para a próxima era. À medida que a estratégia dele é delineada, a velocidade das mudanças pode chocar uma sociedade conservadora acostumada a décadas de subsídios.

Comprando Microsoft e Berkshire

A venda da Saudi Arabian Oil Co. (Aramco) é planejada para 2018 ou até antes, de acordo com o príncipe. O fundo então desempenhará papel importante na economia, investindo internamente e no exterior. Seria grande o bastante para comprar a Apple, a Alphabet, a Microsoft e a Berkshire Hathaway - as quatro maiores empresas de capital aberto do mundo.

O Fundo de Investimento Público tem planos para ampliar a participação de ativos estrangeiros de 5 por cento atualmente para 50 por cento da carteira até 2020, de acordo com Yasir Alrumayyan, secretário geral do comitê do fundo.

As mudanças estruturais programadas vêm após diversas medidas tomadas no ano passado para cortar gastos e impedir que o déficit público ultrapassasse 15 por cento do produto interno bruto. No fim de dezembro, as autoridades subiram os preços de combustíveis e eletricidade e prometeram combater desperdícios após o tombo da cotação do petróleo.

Haverá mais desses "acertos rápidos" como parte do "Plano Nacional de Transformação" que será anunciado dentro de um mês, incluindo providências para aumentar a receita não proveniente do petróleo de forma consistente, como a aplicação de tarifas e imposto sobre valor agregado.

"Estamos trabalhando para aumentar a eficiência dos gastos", disse o príncipe Mohammed. O governo costumava gastar até 40 por cento a mais do que o orçamento previa e cortou para 12 por cento em 2015, ele afirmou. "Por isso não acho que temos um problema real quando se trata de preços baixos do petróleo."