Futuro da Grécia na zona do euro pode estar novamente em perigo
(Bloomberg) -- A Grécia poderia enfrentar novamente a ameaça de ser empurrada para o calote e para fora da zona do euro se a revisão do programa de resgate se estender até junho ou julho, segundo autoridades europeias responsáveis por monitorar o lento progresso das negociações do primeiro-ministro Alexis Tsipras com os credores.
A Grécia ainda não chegou a um acordo sobre pensões, administração tributária e déficit fiscal.
Outros assuntos, como empréstimos inadimplentes e a proposta de um fundo de privatização continuam desacelerando as negociações, disseram as autoridades europeias, que pediram anonimato porque as discussões estão em andamento. O Fundo Monetário Internacional apresenta outro obstáculo, disseram eles.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, se viu envolvida em uma discussão com Tsipras durante o fim de semana, quando o líder grego questionou a "boa fé" dos representantes do fundo envolvidos nas negociações depois que o WikiLeaks publicou em 2 de abril a suposta transcrição de um telefonema interno do FMI.
Em resposta, Lagarde divulgou uma carta insinuando que o governo grego havia espionado sua equipe e vazado o documento. A transcrição mostra três representantes do FMI discutindo formas de pressionar a chanceler alemã Angela Merkel para que ela cedesse aos pedidos de alívio para a dívida grega.
Terceiro pacote de resgate
O membro mais endividado da zona do euro quase foi expulso do mercado comum em julho passado antes que os líderes nacionais concordassem com um terceiro pacote de resgate após negociarem durante toda uma noite em Bruxelas.
Merkel ajudou a resolver o impasse alertando que deixar a Grécia fora da zona do euro seria uma atitude imprudente e semearia o caos.
Embora as autoridades europeias tenham se mostrado publicamente otimistas em relação às perspectivas para a revisão do resgate, todos os lados mostraram dúvidas em relação à capacidade da Grécia de cumprir os rígidos objetivos orçamentários fixados pelo programa no ano passado.
Essas preocupações aumentaram com a perda de aliados do partido de Tsipras, o Syriza, e porque a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu enfrentam mais exigências dos negociadores do FMI.
"A probabilidade de que haja outra crise grega no verão é relativamente alta", disse Carsten Brzeski, economista-chefe do ING Diba em Frankfurt.
"Considerando o ritmo extremamente lento das implementações, a revisão, a perda de popularidade do Syriza nas pesquisas de opinião e o escasso interesse pelo alívio da dívida, entendo que a próxima crise já está se formando. É apenas questão de tempo para que aconteça".
Retornos dos credores
Os chefes da missão da comissão, do BCE e do FMI deveriam retornar a Atenas no sábado para retomar o trabalho sobre a revisão do resgate, que eles antes esperavam concluir em novembro.
As finanças da Grécia precisam fazer frente a uma série de pagamentos que culmina com o vencimento de 2,3 bilhões de euros (US$ 2,6 bilhões) em 20 de julho. O governo não receberá outra infusão de seu programa de 86 bilhões de euros enquanto seu progresso no cumprimento das condições não for endossado.
Três representantes do FMI disseram que o pagamento de julho, juntamente com a crise dos refugiados e o referendo de saída do Reino Unido da UE eram acontecimentos cruciais que poderiam ajudar a forçar Merkel a aceitar seus pedidos pelo alívio da dívida, segundo a transcrição do WikiLeaks.
A Grécia disse que está disposta a aceitar medidas orçamentárias adicionais equivalentes a 3% de seu PIB (Produto Interno Bruto), um compromisso visto como suficiente pelos credores do país da zona do euro.
Poul Thomsen, chefe do departamento europeu do FMI, pediu um esforço fiscal adicional equivalente a pelo menos 4,5% do PIB grego. Dois representantes familiarizados com as negociações disseram que o FMI poderá aceitar a última proposta grega desde que a zona do euro cubra a diferença com o alívio da dívida.
"Estamos negociando duramente e as coisas estão indo bem", disse o vice-ministro das Finanças grego, Tryfon Alexiadis, em entrevista em Atenas na quarta-feira.
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