Análise: O que esperar do Banco Central com Temer presidente
(Bloomberg) -- Mesmo sem ver necessidade de mudanças nas políticas monetária ou cambial do Banco Central no curto prazo, alguns dos principais consultores do mercado não veem espaço para a continuidade da diretoria comandada por Alexandre Tombini.
O fracasso da atual equipe em manter a inflação na meta e intervenções vistas como excessivas no câmbio são considerados um passivo de credibilidade que poderia dificultar o objetivo de recuperar a confiança dos investidores.
"O BC foi usado no estelionato eleitoral" do governo Dilma, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da consultoria Tendências.
Para Blanche, o BC, ao não priorizar a elevação dos juros na medida necessária para conter a inflação, optou por atuar no câmbio, evitando uma alta mais acelerada do dólar no primeiro mandato de Dilma. "Assim como houve 'pedalada fiscal', também houve 'pedalada cambial'", diz o consultor.
Blanche considera que o BC, nos últimos meses, vem adotando políticas mais alinhadas com o mercado, mas ainda assim vê como negativa a hipótese, considerada na mídia recentemente, de manutenção de Tombini à frente do BC para além do período normal de transição.
Diante do desgaste da equipe atual, um novo presidente será fundamental para reconquistar a confiança do mercado, embora não suficiente, afirma Blanche. "É preciso mexer em time que está perdendo", diz o consultor.
Mudanças na equipe
"A equipe tem de mudar. A credibilidade do BC é muito baixa", diz Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados e diretor do BC na gestão de Henrique Meirelles. Para ele, além do presidente, também os demais principais postos da diretoria do BC precisam ser renovados.
O ex-diretor tem sido um crítico contumaz da gestão de Tombini no primeiro mandato de Dilma, que derrubou a taxa de juros para nível recorde em 2012.
Para Schwartsman, o fato de a inflação estar há quase seis anos acima do centro da meta pode gerar dúvidas no mercado quando o BC começar a cortar a Selic, no caso de a diretoria ser mantida.
"Quando o BC reduzir os juros, o mercado pode questionar se não há uma motivação política por trás", diz Schwartsman. O questionamento não ocorrerá, diz o economista, se o banco central estiver sob comando de uma equipe que tem histórico de pulso forte contra a inflação.
Evitar que o real seja novamente apreciado excessivamente deve ser uma preocupação do governo e do BC caso Michel Temer assuma, disse o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto.
"Não tenho a menor dúvida de que o BC terá de continuar intervindo no câmbio", disse o ex-ministro em entrevista à agência de notícias Bloomberg.
Para comandar o BC, Delfim prefere Carlos Kawall, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo". Ilan Goldfajn, Afonso Bevilaqua, Eduardo Loyo e Mário Mesquita são outros nomes citados na mídia.
Atuação no mercado de câmbio
Blanche também defende que o BC prossiga com os leilões de swap cambial reverso para desmontar a posição construída com as atuações dos anos anteriores. O consultor da Tendências, porém, alerta contra excessos de intervenção.
Para ele, um dos maiores problemas decorrentes das intervenções no governo Dilma é tornar praticamente impossível para o mercado determinar qual o nível correto do dólar com base nos fundamentos. "Não é possível calcular o câmbio de equilíbrio se o BC intervém em excesso".
Para Blanche, a condução correta das políticas monetária e cambial pelo BC terá de ser complementada pela redução do deficit fiscal para a economia retomar o crescimento sustentado.
"Será preciso recuperar a confiança no tripé macroeconômico", diz Blanche, referindo-se à combinação de câmbio flutuante e metas de inflação e de superavit primário, sistema implementado por Fernando Henrique Cardoso, mantido por Lula e que, segundo o consultor, foi enfraquecido por Dilma, resultando na crise atual. "A credibilidade da política econômica precisa ser restaurada".
(Com a colaboração de Gerson Freitas Jr. e Daniela Milanese)
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