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Inflação baixa nos EUA abala justificativa para alta de juros

Richard Miller

18/07/2017 14h08Atualizada em 21/07/2017 09h48

(Bloomberg) -- Quando o banco central dos EUA debatia a meta de inflação cinco anos atrás, os diretores de perfil mais agressivo defendiam que 1,5 por cento seria a melhor maneira de cumprir o mandato de estabilidade de preços. O então presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, e a vice dele, Janet Yellen, resistiram aos argumentos de seus colegas com fobia de inflação e conseguiram que aceitassem um objetivo de 2 por cento, já adotado por outros bancos centrais.

Yellen, que mais tarde assumiu a presidência da instituição, venceu aquela batalha, mas talvez perca a guerra.

Desde que o Fed estabeleceu a meta, em janeiro de 2012, a inflação média ficou em apenas 1,3 por cento, contida pela expansão lenta da economia dos EUA e pela fraqueza no exterior. O risco é que consumidores e empresas continuem esperando que o índice de preços permaneça abaixo da meta, prejudicando os esforços de Yellen para atingir o objetivo.

"Expectativas de inflação mais baixas dificultam muito o alcance do objetivo de inflação pelo banco central", afirmou Charles Evans, responsável pelo escritório regional do Fed em Chicago, em comentário publicado no website da instituição, em 14 de julho.

Por sua vez, isso pode sabotar os planos do Fed de elevar os juros gradualmente porque é difícil elevar a inflação - ou as expectativas de inflação - enquanto a política monetária está sendo apertada.

Após três altas nos juros nos últimos três trimestres, as autoridades sinalizaram mais um acréscimo neste ano e três em 2018. O mercado aposta que o Fed manterá os juros inalterados após a reunião dos dias 25 e 26 de julho.

Na semana passada, Yellen disse a parlamentares que elevações futuras nos juros dependem da contínua confiança de que o Fed atingirá eventualmente seu objetivo para os preços. "Estamos observando isso muito de perto e estamos prontos para ajustar nossa política se parecer que a inflação ficará persistentemente abaixo da meta", ela declarou em depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Deputados, em 12 de julho.

As expectativas são importantes porque determinam as atitudes de consumidores e empresas e podem influenciar bastante o patamar concreto de inflação. Consumidores acostumados a ajustes mínimos de preços vão relutar em pagar mais por bens e serviços. Já as empresas se recusarão a pagar salários maiores aos funcionários por medo de perderem vendas se subirem preços para cobrir o aumento dos custos trabalhistas. É um ciclo vicioso difícil de ser rompido pela política monetária.

'Bastante ciente'

Em 13 de julho, Yellen declarou ao Comitê de Bancos do Senado que o Fed está "bastante ciente" de que a inflação tem estado abaixo da meta há anos e está "muito focado" em elevar a taxa para 2 por cento. Ela voltou a insistir que o banco central é igualmente avesso à inflação ficar abaixo ou acima da meta e que 2 por cento não é um teto para o trabalho da instituição.

Contudo, o fato de os índices de preços ficarem persistentemente abaixo da meta coloca em xeque a afirmação de que o objetivo é simétrico, disse Narayana Kocherlakota, que foi responsável pelo escritório regional do Fed em Minneapolis entre 2009 e 2015.

"O comitê de política monetária realmente se abriu a um problema", disse Kocherlakota, que hoje é professor da Universidade de Rochester e colunista da Bloomberg View. "O que realmente importa para o público é o que já se fez", não o que se diz.

--Com a colaboração de Christopher Condon