Desânimo com Previdência persiste no pós-Lula
(Bloomberg) -- A condenação do ex-presidente Lula é insuficiente para melhorar as expectativas de aprovação da mudança na Previdência, ainda que a decisão do TRF4 possa ajudar a enfraquecer a oposição e favorecer um candidato alinhado ao governo nas eleições. Analistas continuam céticos, embora admita-se que o esforço mais recente do presidente Michel Temer pode gerar alguma melhora pontual nas perspectivas para a reforma.
A condenação de Lula pode enfraquecer a esquerda e ampliar as chances de um candidato de centro vencer a eleição presidencial, mas tem pouco efeito sobre as chances da reforma, diz Lucas de Aragão, analista político e sócio da Arko Advice. "A reforma nunca deixou de andar devido à oposição, mas sim pela falta de união da base governista."
Para o analista, o nível de compreensão da reforma entre deputados aumentou, mas ainda assim há muita "resistência corporativista" e receio de votar a favor da mudança em ano eleitoral.
Aragão não vê mudança substancial no cenário para a reforma, que continuaria com 40 votos a menos que os 308 necessários, mas reconhece alguns avanços circunstanciais. Uma essas mudanças "subjetivas" seria o fato de novos líderes da Câmara este ano serem mais favoráveis à reforma do que os do ano passado. Além disso, a bateria de entrevistas do presidente e as campanhas publicitárias defendendo mudança na Previdência podem ter efeito positivo.
O déficit da Previdência de 2017 subiu para um valor recorde de R$ 268,8 bilhões, informou o governo no dia 22. O rombo é visto como um dos principais fatores que pressionam a dívida pública. O atraso de reformas para reduzir as despesas públicas foi uma das razões citadas pela S&P Global Ratings ao cortar neste ano nota do Brasil para três degraus abaixo do grau de investimento, que o país já havia perdido no governo Dilma, em 2015.
Entre analistas do mercado, além do ceticismo com as chances ainda baixas da reforma, há dúvidas sobre a possibilidade de o governo enxugar ainda mais o texto da proposta, para vencer resistências na Câmara em um ano eleitoral. A reforma já foi "muito esvaziada" e, se for desidratada ainda mais, terá pouco efeito no mercado mesmo que seja aprovada, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da CM Capital Markets. "O cenário pós-Lula melhora, mas o mercado não está precificando a aprovação."
Para Rafael Ihara, economista da Ethica Asset, a esperança de uma reforma ainda este ano é mais desejo do que realidade, pois o governo não tem os 208 votos necessários. "A realidade é que falta voto e o assunto deve ficar para 2019."
Ceticismo à parte, a demonstração de força política que Temer já deu na aprovação de outras medidas, como o teto dos gastos e a reforma trabalhista, leva o mercado a não descartar complemente as chances sobre a Previdência. "A situação fiscal continua desafiadora e as chances da reforma são bastante baixas, mas não zero", diz Andres Abadia, economista-sênior da Pantheon Macroeconomics. "A administração Temer tem surpreendido positivamente o mercado no front das reformas, e, portanto, nós não vemos nenhuma razão para descartar complemente o cenário."
--Com a colaboração de Vinícius Andrade Patricia Lara e Felipe Saturnino
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