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Venezuelanos não podem comprar criptomoeda de Maduro com bolívar

Camila Russo

23/02/2018 12h37

(Bloomberg) -- A Venezuela está anunciando sua inovadora criptomoeda estatal como uma forma de "promover o bem-estar, aproximar o poder ao povo". O objetivo é nobre, mas é difícil ver um empoderamento se os cidadãos do país não podem sequer comprá-la.

O website por meio do qual a chamada pré-venda do token digital petro foi iniciada, na terça-feira, aceita apenas dólares americanos e euros, além das moedas rivais bitcoin e ether. A oferta termina em 19 de março. O presidente Nicolás Maduro diz que a criptomoeda será lastreada pelas reservas de petróleo da Venezuela.

A Venezuela proíbe que seus cidadãos comprem moeda estrangeira. Por causa dessa restrição, não aceitar bolívares na pré-venda do petro na prática deixa de fora os residentes do país. A venda é uma última tentativa de levantar recursos, considerando que as sanções decorrentes do calote da dívida da Venezuela dificultam a capacidade do país de emitir títulos tradicionais.

Os usuários do Twitter mostraram irritação ou fizeram piadas quando descobriram que não poderiam comprar a criptomoeda de seu próprio país. A usuária @JanethMcc escreveu: "Só tenho minha moeda, o bolívar, e não tenho acesso ao petro. Exijo uma explicação como venezuelana."

Os venezuelanos poderão comprar petros com bolívares no mercado secundário, que, assim como a negociação de bitcoins nas Bolsas on-line P2P, provavelmente será negociado em linha com a taxa do mercado paralelo. A posse de criptomoedas é atraente em países de inflação elevada com controles cambiais, como a Venezuela, porque oferecem uma forma de proteger as economias.

O bolívar é negociado a cerca de 200 mil por dólar no mercado paralelo, cerca de sete vezes acima da taxa oficial, em meio a uma hiperinflação que está na casa dos milhares.

Governo já levantou US$ 735 mi

O governo, que deve cerca de US$ 60 bilhões a credores estrangeiros, levantou cerca de US$ 735 milhões até o momento com a venda de petros. O montante máximo é de cerca de US$ 4,9 bilhões, isso se o governo conseguir vender os 82,4 milhões de petros emitidos na pré-venda e na oferta pública a US$ 60 por token, valor baseado no barril de petróleo. Cerca de metade do montante arrecadado será destinado a um "fundo soberano", enquanto o restante irá para o desenvolvimento do projeto, segundo o chamado livro branco que descreve o plano.

Não está claro por que os investidores comprariam a esse preço, disse Russ Dallen, diretor-gerente da Caracas Capital. Não há garantia de que poderão trocar petros por petróleo. O país vive uma escassez de recursos tão grande que não consegue pagar itens básicos, como alimentos e remédios.

Os investidores terão que ignorar a confusão a respeito da operação da moeda. O livro branco diz que o petro foi criado com base na rede do ethereum, enquanto o guia do usuário publicado pelo governo diz que usa a rede nem. Existem também dúvidas quanto à autenticidade dos US$ 735 milhões que o governo afirma ter levantado até o momento porque o blockchain público do petro mostra a entrada de cerca de metade desse valor.

Por outro lado, especuladores estiveram dispostos a comprar criptomoedas com base em um meme e no autoproclamado "token inútil do ethereum", então tudo é possível.

"Pelo preço certo, as pessoas comprarão qualquer coisa. Até mesmo a última piada da Venezuela", disse Dallen.

Maduro certamente espera por isso, desde que não seja com bolívares.