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Turbulência em Wall St pode afetar temporada de leilões de arte

James Tarmy

27/04/2018 13h02

(Bloomberg) -- Até janeiro, o mercado acionário dos EUA vinha em um galope quase ininterrupto que durou nove anos. A fase áurea parece ter terminado e renomados personagens de Wall Street alertam sobre a possibilidade de correção significativa. No mundo das artes plásticas, a pergunta é se isso vai abalar as vendas.

Uma década atrás, durante a última crise financeira, o mercado de arte reagiu ao mercado acionário com uma defasagem de aproximadamente sete meses. O Bear Stearns ruiu em março de 2008, mas a temporada de leilões em Nova York, no mês de maio, bateu recordes naquele ano. A Sotheby's nunca tinha vendido tanto: em duas semanas US$ 1,56 bilhão em obras trocaram de mãos.

"Em abril de 2008, ocorria o esfacelamento" do mercado acionário, lembra Asher Edelman, profissional de finanças que virou marchand e abriu a ArtAssure. "Quem comprava ou tinha interesse por arte pensava que era um passo seguro e não prestou atenção ao que estava acontecendo no mercado."

Quando chegou a temporada de leilões de novembro, o Lehman Brothers já tinha quebrado, os mercados de ações e títulos estavam na lona e o mercado de arte implodiu.

A Sotheby's não conseguiu vender um terço das obras modernas e impressionistas em um tradicional evento noturno. A Christie's se deu ainda pior na mesma categoria, sem vender 44 por cento de um lote que era estimado em, no mínimo, US$ 240,7 milhões, mas movimentou apenas US$ 146,7 milhões.

A pergunta do momento é se colecionadores, marchands, leiloeiros, curadores e outros que dependem do sucesso contínuo do mercado de arte devem se preocupar.

As bolsas derrapam enquanto Nova York se prepara para feiras de arte e leilões com expectativas de novos recordes. Uma das estrelas da temporada é uma pintura de Modigliani avaliada em US$ 150 milhões.
Realizando lucros

"Minha experiência é que, quando o mercado sobe e desce demais, isso é bom para as obras de arte", disse Christophe Van de Weghe, marchand que vai oferecer peças na badalada feira Tefaf, na semana que vem. "Nos últimos 30 anos, a volatilidade tem sido muito boa para nós que atuamos como intermediários porque é nessa hora que as pessoas querem comprar um ativo concreto."

Assim como o ouro, obras de arte representam um porto seguro financeiro em épocas turbulentas.

Segundo Van de Weghe, ganha-se duplamente: um grupo de colecionadores sai do mercado para realizar lucros, desmobiliza dinheiro e investe novamente em arte, enquanto outro grupo (especificamente administradores de fundos de hedge, muitos deles clientes de Van de Weghe) gasta ainda mais em arte "porque dizem que ganham mais dinheiro quando há volatilidade".

Desde o pico do mercado, em janeiro (o Dow Jones recuou 7 por cento de lá para cá), "estamos vendendo mais", ele conta. "Há muito otimismo no mercado de arte."

Liquidez de curto prazo

Outros têm uma visão menos positiva.

"Eu teria dado uma resposta diferente três anos atrás", diz Edelman, da ArtAssure. "Uns seis meses depois de o mercado acionário piorar, o mercado de arte faz o mesmo."

Não porque as pessoas não têm dinheiro, ele ressalta. "Qualquer um que tinha US$ 100 milhões em maio de 2008 provavelmente ainda tinha uns US$ 80 milhões em novembro do mesmo ano", ele explicou. "Esses mercados são muito mais influenciados pela psicologia do que por fatores econômicos."