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Ferrari perde parte de sua famosa potência: Bloomberg Opinion

Chris Bryant

23/07/2018 15h27

(Bloomberg) -- A perda de Sergio Marchionne pode representar um duro golpe para a Fiat Chrysler Automobiles, mas para a Ferrari é uma calamidade.

Os investidores se acostumaram com a ideia de que Marchionne se aposentaria como CEO da Fiat no ano que vem, mas calculavam que ele comandaria a fabricante de carros esportivos até 2021, pelo menos. No entanto, Louis Camilleri -- ex-chefe da Philip Morris International -- receberá as chaves da Ferrari (desde que os acionistas concordem com isso). Trata-se de um executivo experiente, mas sem a experiência de Marchionne na indústria automotiva e, talvez, sem a capacidade dele de seduzir os mercados de capital.

Marchionne comandou a separação da Ferrari da Fiat em 2015. Houve quem duvidasse, inclusive eu, mas o desempenho da empresa desde o IPO nos deixou um pouco em ridículo. O cuidadoso posicionamento da Ferrari como grife de luxo em vez de fabricante ajudou a garantir uma avaliação condizente com a de uma Hermès International.

A ação quase triplicou desde o IPO. A alta recorde do mês passado avaliou uma empresa que produz apenas 9.000 carros por ano em surpreendentes 24 bilhões de euros (US$ 28 bilhões). O valor é quase equivalente ao da Fiat-Chrysler. Mesmo após uma queda, nesta segunda-feira, com a notícia da doença de Marchionne, as ações da Ferrari valem 37 vezes os lucros esperados da empresa. Para efeito de comparação, o múltiplo preço/lucro da BMW é de sete vezes.

Camilleri assume uma empresa que funciona sem problemas. Graças a modelos de edição especial, à ampla personalização e aos preços elevados, a Ferrari gera muito dinheiro. A dívida líquida deverá ser erradicada em breve, o que significa que os investidores podem esperar recompras de ações.

Mas a defesa dessa avaliação de luxo não é fácil, especialmente porque a Ferrari acaba de entrar em uma fase crítica de gastos. A Ferrari planeja um veículo utilitário esportivo para o ano que vem e o sucesso dele é fundamental para a meta da empresa de dobrar o Ebitda para 2 bilhões de euros até 2022 e elevar o fluxo de caixa livre para 1,2 bilhão de euros -- cerca de quatro vezes o total do ano passado.

A Ferrari também está investindo em tecnologia híbrida e algum dia possivelmente apostará em um carro elétrico. Além disso, precisa lidar com a complicada e cara relação com a Fórmula 1 e também com o lançamento de uma série de produtos luxuosos da marca que está em discussão há muito tempo. Marchionne não fez muito progresso nesta frente.

E embora ele considerasse a Ferrari inigualável, empresas como Aston Martin, Lamborghini e McLaren estão desesperadas para igualar o sucesso recente da marca. A guerra comercial de Donald Trump talvez não prejudique a demanda por supercarros de luxo, mas pode derrubar as avaliações do setor de luxo.

Nada disso estaria além do que Camilleri é capaz de gerenciar, mas a história da Ferrari contada por Marchionne não se resumia à excelência operacional ou até mesmo de engenharia da empresa. O cavalo empinado atingiu uma valorização tão vertiginosa essencialmente porque um homem quis que fosse assim. Sem ele, hoje a Ferrari parece um pouco mais comum.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.