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Nova era de mobilidade não ajuda transporte público em Detroit

Sarah Gardner

20/08/2018 15h57

(Bloomberg) -- Eric Jones está quase desistindo de dirigir em Detroit.

O executivo bancário, de 25 anos, da área de hipotecas, mora a 800 metros do escritório. Ele vai andando para o trabalho todos os dias. Se ele for se aventurar para fora do bairro, perto de Greektown, ele pega um Uber. É bom, diz ele, poder ir andando para a maioria dos lugares, mas ele também se sente um pouco preso. Os engarrafamentos das estradas não lhe dão muitas opções no sistema de transporte de Motor City, focado nos carros.

"Esta é a primeira vez que eu pego o carro em um mês mais ou menos", disse Jones no seu Jeep Compass que quase nunca usa. Ele estava indo visitar amigos nos arredores da cidade, às 20h, e o trânsito da hora do rush ainda não tinha diminuído muito. "Não sei como as pessoas aguentam isso todos os dias."

Detroit está dentro dos 7 por cento superior do ranking de congestionamento de trânsito das quase 300 cidades dos EUA classificadas pelo Inrix, um grupo de pesquisa de transporte, com o motorista passando, em média, 35 horas em engarrafamentos no ano passado. O que diferencia Detroit de cidades ainda mais lotadas -- como Nova York, Boston e Chicago -- é uma falta quase total de transporte público confiável.

Abandono

O abandono do sistema de transporte de massa remonta ao século 20, resultado da presença ameaçadora das três gigantescas montadoras que restam e que estão instaladas na região de Detroit há muito tempo. Agora, essas mesmas empresas querem mudar a maneira de o mundo se locomover, transformando-se em empresas que fornecem serviços de transporte futurista, além de fabricar veículos. Mas na cidade natal delas, o progresso é lento.

O futuro da Ford, da General Motors e da Fiat Chrysler poderia depender de uma transição bem-sucedida da fabricação de carros para a venda de "serviços de mobilidade", um termo abrangente para a melhoria do transporte com tecnologia que vai além da direção convencional e da posse de carros.

Em junho, como um sinal de seu compromisso com essa visão, a Ford anunciou a compra da Estação Central de Michigan em Detroit, abandonada há muito tempo, onde planeja empregar 2.500 pessoas até 2022 para trabalhar em tecnologia autônoma, veículos elétricos e conectividade para automóveis. A GM criou uma unidade separada de veículos autônomos, a GM Cruise, e recentemente atraiu um investimento de US$ 2,25 bilhões do SoftBank Vision Fund. A Ford criou uma empresa similar com foco na autonomia e estruturou-a para receber investimentos externos.

Analistas e pesquisadores acreditam que essa será a maior transformação da indústria automobilística em um século. O investimento em mobilidade como serviço desde 2014 chegou a US$ 70 bilhões, segundo a Bloomberg New Energy Finance.

Mas em Detroit, onde a moderna indústria automobilística nasceu e onde ainda tem sua sede, essa transformação ainda não é visível. São poucas as iniciativas para melhorar o trânsito e os novos projetos das montadoras já estão esbarrando em problemas. A coordenação em matéria de trânsito nunca foi o ponto forte de Detroit.