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Quarto maior produtor de petróleo não consegue deixar luz acesa

Exército iraquiano anda em rua de Tal Afar, no Iraque - IVOR PRICKETT/NYT
Exército iraquiano anda em rua de Tal Afar, no Iraque Imagem: IVOR PRICKETT/NYT

Mohammed Aly Sergie

22/10/2018 11h48

(Bloomberg) -- O Iraque está rapidamente se tornando uma potência global do petróleo, ganhando estatura na Opep após ultrapassar o Canadá neste ano como o quarto maior produtor mundial. Mas o país devastado pela guerra tem pouco a mostrar por sua façanha.

Em um momento que os mercados de petróleo se preocupam com a capacidade da Arábia Saudita de aumentar a produção, porque as iminentes sanções impostas pelos EUA restringem as exportações iranianas, o Iraque aumentou discretamente as remessas para a Ásia, a Europa e a região do Mediterrâneo a fim de compensar os barris perdidos do Irã.

O Iraque está produzindo um recorde de 4,78 milhões de barris de petróleo por dia, disse o ministro do Petróleo do país, Jabbar Al-Luaibi, no sábado (20). A produção subirá para 5 milhões de barris por dia em 2019 e para 7,5 milhões em 2024, disse ele.

A consultoria Wood Mackenzie projeta que o Iraque poderá extrair 6 milhões de barris por dia até 2025 e que sua produção deverá crescer mais rapidamente do que nos outros países, à exceção dos EUA, nos próximos seis anos.

Apesar de toda essa riqueza petroleira, o Iraque não tem um abastecimento constante de eletricidade e não consegue manter as luzes acesas –nem atrair os tipos de investimentos necessários para criar empregos e estimular as empresas locais.

"Um aumento na produção é uma boa notícia, mas o Iraque ainda não fornece serviços básicos, como água limpa e energia, para seus cidadãos, inclusive em Baçorá, de onde a maior parte do petróleo é extraída", disse Ziad Daoud, economista-chefe da Bloomberg no Oriente Médio.

Tensões políticas

À exceção do petróleo, a maioria dos indicadores no Iraque mostra pouca promessa. As tensões políticas continuam presentes devido ao impasse de Bagdá com os curdos semiautônomos do país, a um sentimento de marginalização entre a minoria sunita e ao descontentamento da maioria xiita com serviços públicos não confiáveis em Baçorá, província da região sul.

Os preços do petróleo dobraram desde 2016, o que fortaleceu as finanças do Iraque, mas o índice de ações do país caiu 30% no mesmo período. Mais de US$ 32 bilhões de investimento estrangeiro direto foram embora do país nos últimos cinco anos, segundo dados da ONU.

Quinze anos depois que os EUA lideram uma coalizão militar para derrubar o regime de Saddam Hussein, "as pessoas estão frustradas por não terem eletricidade 24 horas por dia e porque a infraestrutura e os serviços de saúde são precários", disse Ali Al-Mawlawi, chefe de pesquisa do "think tank" Al-Bayan Center, com sede em Bagdá. "A riqueza não está sendo distribuída de maneira justa e equitativa."

Melhorias de segurança e esforços para formar um novo governo são motivo de otimismo, disse Al-Mawlawi, em entrevista por telefone. No entanto, a corrupção persistente e a burocracia complicada deixam "as empresas estrangeiras apreensivas em relação a investir", disse ele.