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Otimismo com Bolsonaro é maior dentro do que fora do Brasil

O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) faz gesto de atirar com as mãos em frente ao Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino/Reuters
O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) faz gesto de atirar com as mãos em frente ao Palácio do Planalto Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Daniel Cancel, Vinícius Andrade e Aline Oyamada

26/10/2018 12h48

(Bloomberg) -- Às vésperas da tão esperada eleição que pode eleger Jair Bolsonaro (PSL), o clima no distrito financeiro de São Paulo é de muito entusiasmo.

Isso ficou explícito durante um encontro com um analista de mercados na semana passada, que, ao entrar na sala, estendeu a mão direita, abriu um grande sorriso e declarou: "Estou 'bullish' (otimista)".

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Há sinais dessa adoração em todos os lugares: o frenesi de compras de ações que levou o Ibovespa a subir 20% desde meados de junho foi apelidado de "rali Bullsonaro" e um GIF chamado "minions comandam o 'bull market' (termo usado quando o mercado está em alta)" --um trocadilho com o apelido pejorativo dado a seus apoiadores, bolsominions-- circula nos grupos de WhatsApp do mercado financeiro.

    ara muita gente na comunidade internacional, testemunhar à distância este caso de amor tem sido um pouco incômodo. Bolsonaro pode ter modificado seu discurso ultimamente, mas, no fim das contas, ele continua sendo um nacionalista de direita que criou sua imagem de durão disparando comentários intolerantes sobre homossexuais e mulheres e elogiando a ditadura do final do século 20.

    Os estrangeiros, não por acaso, estão decididamente menos otimistas que os brasileiros. Eles retiraram R$ 1,1 bilhão (US$ 297 milhões) do mercado de ações durante as três primeiras semanas de outubro. (Os locais, por sua vez, injetaram R$ 3,7 bilhões no mercado durante esse período).

    Eles também têm aumentado as apostas contra o real --a moeda com o melhor desempenho do mundo nos últimos 30 dias-- e hoje detém uma grande posição líquida vendida no mercado de futuros.

    Essa postura, na verdade, tem tanto a ver com a questão financeira quanto com defender uma espécie de questão ética. Paul Greer, gestor de recursos da Fidelity International em Londres, espera que o discurso polarizado de Bolsonaro inibirá sua capacidade de obter a aprovação no Congresso de leis fundamentais para reduzir o déficit.

    "Não acreditamos na possibilidade de uma reforma fiscal significativa", disse Greer. Ele está pessimista em relação à moeda e aos títulos do Brasil.

    Mercado rejeita volta do PT

    Esse ceticismo, e o julgamento que muitas vezes o acompanha, por sua vez, soa curioso para os investidores locais. Na opinião deles, as razões para ficar entusiasmado com Bolsonaro são óbvias. E, o que é ainda mais importante, sua vitória impedirá que o Partido dos Trabalhadores volte ao poder apenas dois anos depois de ter levado a economia à pior recessão em um século.

    O grupo de endinheirados de São Paulo rejeita o PT. Em dezenas de conversas sob a condição do anonimato nas últimas semanas, isso foi repetido constantemente. Qualquer candidato de qualquer outro partido seria melhor neste momento. E, em Bolsonaro, eles veem alguém que realmente defende políticas econômicas de que eles gostam: a privatização de empresas estatais ineficientes, a redução dos gastos, a desregulamentação.

    Claro, algumas das posições dele em relação às políticas sociais podem lhes parecer um pouco inadequadas, mas, até mesmo nessa frente, uma de suas propostas centrais é muito mais bem recebida nos círculos locais do que no exterior: sua postura linha-dura em relação à criminalidade.

    Quando os estrangeiros veem o capitão da reserva fazendo o gesto de metralhadora com as mãos nos comícios que se tornou sua marca registrada ou prometendo instruir a polícia a atirar para matar, a reação, normalmente, é de espanto. Ele está incitando a violência, dizem.

    E rapidamente surgem as comparações, não apenas com o presidente dos EUA, Donald Trump, uma comparação que, na verdade, o próprio Bolsonaro gosta de fazer, mas também com Rodrigo Duterte, das Filipinas, e com o falecido Augusto Pinochet, do Chile.

    A revista "The Economist" declarou que Bolsonaro é uma "adição particularmente desagradável" ao clube de populistas que está tomando o poder em todo o mundo. E quando a publicação Americas Quarterly expôs o que espera de uma presidência de Bolsonaro, o primeiro item de sua lista foi "derramamento de sangue".

    Violência colabora para sentimento de revolta

    Para muitos investidores locais, no entanto, suas propostas de aplicação rigorosa da lei, especialmente via ação policial, parecem ótimas. Isso também foi repetido diversas vezes naquelas conversas --que eles já não aguentam mais a criminalidade crescente, que já não aguentam mais viver com medo, que já não aguentam mais ter que circular em carros blindados.

    Ocorrem cerca de 60 mil homicídios no Brasil a cada ano, mais que nos EUA, México e Rússia juntos.

    O número é impressionante. E é por isso que, quando os brasileiros são questionados sobre como eles justificam moralmente o apoio a Bolsonaro e a comemoração pelo rali que ele inspirou, eles normalmente ficam perplexos. Às vezes, até indignados.

    Isso não quer dizer que nenhum brasileiro esteja preocupado com o fato de Bolsonaro se transformar em um valentão autoritário. Milhões de brasileiros receiam isso, na verdade. Mas, em todo o país em geral, e nas ruas frondosas do centro financeiro de São Paulo em particular, essa é uma visão minoritária hoje em dia.

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