Boatos sobre eleição são usados para especulador ganhar com Bolsa e dólar
Resultados de pesquisas eleitorais e supostas denúncias sobre candidatos deixam o dólar e a Bolsa de Valores agitados. A tendência é que esse nervosismo aumente até outubro, com a proximidade das eleições para presidente da República.
A indefinição sobre quem comandará o país nos próximos quatro anos favorece a especulação na Bolsa de Valores e no câmbio. Ela é provocada principalmente por boatos que, na maioria das vezes, não têm fundamento. Esses boatos fazem alguns ganhar muito e outros perder dinheiro.
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“Até o fim das eleições, o mercado vai viver na base do ‘ouvir dizer que’, ou de ‘uma fonte superconfiável me contou’”, declarou Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do banco Ourinvest.
Entenda melhor como funciona a lógica dos boatos e como alguns investidores aproveitam essas informações para especular, ou seja, para ganhar dinheiro rapidamente.
Eleição indefinida acentua especulação
A especulação ganha força no mercado financeiro justamente quando não é possível fazer previsões sobre o futuro político e econômico do país. Grandes investidores, como fundos, empresas e bancos, dependem de expectativas como projeções de juros, câmbio e inflação, para definir suas estratégias de investimento.
Como as informações disponíveis até o momento não permitem prever quem será o novo presidente, não há garantia de continuidade da política econômica do país. Por isso, esses grandes participantes (“players”, no jargão do mercado) preferem reduzir sua exposição ao risco, vendendo ações, e buscar proteção contra uma eventual desvalorização do real, comprando dólar.
Já os investidores que possuem perfil mais especulativo aproveitam para ganhar dinheiro no curtíssimo prazo. Esses especuladores utilizam a volatilidade (o sobe e desce nos preços) para “operar”, ou seja, comprar e vender ações, dólar e outros ativos financeiros rapidamente. Em geral, as operações de compra e venda acontecem no mesmo dia. É o que o mercado chama de “daytrade”.
Investidores menos experientes, como as pessoas físicas, podem se assustar com a onda de boatos, com o salto na cotação do dólar ou com a queda nos preços das ações e tomar uma decisão errada, perdendo dinheiro.
Informação confiável é fundamental para investidor
No mercado financeiro, a diferença entre ganhar um bom dinheiro e conquistar uma fortuna do dia para a noite depende principalmente da qualidade e da velocidade das informações a que o investidor tem acesso.
“As informações são a matéria-prima do mercado financeiro. É com base nelas que os preços dos ativos variam”, disse Glauco Legat, analista da corretora Spinelli. Quem fica sabendo antes de um fato que seja capaz de mudar os rumos da política e da economia do país pode ganhar milhões de reais em questão de minutos.
Em tempos de eleições, o fluxo de informações nas mesas de operações de bancos e corretoras aumenta consideravelmente. São pesquisas eleitorais, debates entre os candidatos, análises de cientistas políticos, entrevistas e declarações nos jornais, na televisão e nos sites. Esse volume enorme de dados provoca as mais diversas especulações sobre qual será o resultado da eleição.
“É a oportunidade da década. Quem tiver uma boa informação e conseguir acertar antecipadamente o resultado da eleição vai ganhar muito dinheiro”, afirmou Legat.
O problema é que boa parte das informações que circulam no mercado financeiro não tem nenhum fundamento. São boatos, fofocas ou “fake news” (notícias falsas). Eles são divulgados intencionalmente para provocar oscilações nos preços. Enquanto um pequeno grupo fatura alto com o boato, muitos investidores perdem dinheiro.
“Há muita gente que aproveita esse cenário de incertezas para ganhar dinheiro. Lançar um boato no mercado é uma das formas de especular”, disse Ribamar Rambourg, coordenador de análise política da Genial Investimentos.
Boatos proliferam na véspera de divulgação de pesquisas
O fluxo de boatos no mercado financeiro tende a aumentar nos dias que antecedem a divulgação de pesquisas de intenção de voto. Todos os institutos, como Ibope ou Datafolha, são obrigados a informar previamente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as datas das pesquisas que irão publicar. Especuladores se aproveitam desse calendário para plantar boatos.
“Um dia antes de a pesquisa sair, alguém ouve dizer que determinado candidato vai aparecer em uma posição pior ou melhor do que estava na pesquisa anterior. O boato se espalha de um colega para outro, de um banco para outro, por telefone, por mensagem de texto, pelas redes sociais. Não tem como saber de onde partiu. Em pouco tempo, você vê o dólar e a Bolsa reagindo ao boato”, afirmou Legat.
“Há muitos boatos que são fruto de má-fé. Não têm nenhum fundamento. Servem apenas para favorecer a posição [investimento] de quem lançou o rumor no mercado”, disse o analista da Spinelli.
“O problema é que o mercado reage por impulso. É o efeito manada. Isso acaba intensificando a alta do dólar ou a queda da Bolsa”, afirmou Fernanda Consorte, do Ourinvest.
Corretoras contratam especialistas para “filtrar” boatos
O alto grau de incerteza sobre qual será o resultado da eleição deste ano motivou diversas instituições financeiras a contratar consultores especializados em política na tentativa de traçar possíveis cenários para as eleições de outubro. O objetivo é se antecipar aos movimentos do mercado para ganhar dinheiro ou evitar prejuízos.
A existência desses profissionais, no entanto, é mantida em segredo pela maioria dos bancos e corretoras. Fontes ouvidas pelo UOL garantem que eles estão em contato permanente com as mesas de operações para orientar a tomada de decisões de investimento dos principais clientes.
O cientista político Ribamar Rambourg foi contratado recentemente pela Genial Investimentos para coordenar a área de análise política da instituição. “O meu papel aqui é filtrar todas as informações políticas que chegam para construir um cenário atualizado e preciso das eleições.”
Rambourg é responsável por fazer a análise de todas as pesquisas de intenção de voto e “apagar o incêndio” provocado pelos boatos. “Tentamos esclarecer, reduzir o ruído.”
O especialista lembrou que esta não é a primeira eleição acompanhada de perto pelo mercado financeiro. Em 2014, quando a disputa estava dividida entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), Bolsa e câmbio oscilavam bruscamente a cada divulgação de pesquisa.
“Poucas vezes vimos uma eleição tão indefinida como a deste ano para presidente”, disse.
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