Decisão de onde investir seu dinheiro agora precisa levar eleições em conta
A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de manter a taxa Selic em 6,5% ao ano já era esperada pelo mercado financeiro. Porém, a estabilidade nos juros básicos da economia não significa que o cenário para os investimentos seja tranquilo daqui até o fim do ano. Muito pelo contrário.
A proximidade das eleições para presidente da República tornará as aplicações de risco, como ações, ainda mais instáveis. O bom desempenho da Bolsa de Valores em julho, com alta de 8,8%, não necessariamente irá se repetir nos próximos meses.
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Alguns investimentos de renda fixa, como os títulos prefixados do Tesouro Direto, também estarão sujeitos a perdas em momentos de maior nervosismo dos investidores por causa do fenômeno da marcação a mercado, que ajusta os preços dos papéis às expectativas futuras de juros.
A rigor, apenas a poupança e os investimentos pós-fixados, como os títulos do tipo Tesouro Selic e os fundos DI, estarão imunes aos altos e baixos do mercado financeiro nesse período.
Entretanto, risco menor também significa ganho baixo. E como a taxa Selic está em seu menor nível histórico, a rentabilidade da renda fixa mais conservadora deixará muito a desejar.
O melhor caminho, dizem os especialistas, é a velha e boa diversificação. Se você possui perfil muito conservador, vale a pena assumir um pouco de risco nesse momento. Já se você é um investidor mais arrojado, melhor aliviar um pouco a mão até que o horizonte político e econômico esteja mais claro.
Entenda como as eleições podem afetar seus investimentos e veja algumas sugestões para aplicar o dinheiro com uma rentabilidade superior às opções mais conservadoras, mas sem descuidar do risco.
Pesquisa eleitorais provocarão instabilidade
Com a definição dos candidatos que concorrerão à Presidência da República nos próximos dias e o início da propaganda política na televisão no fim de agosto, o mercado financeiro ficará cada vez mais sensível às pesquisas de intenção de voto até o resultado da eleição, no fim de outubro.
“A política vai mexer com as expectativas dos juros futuros. Se um candidato favorável às reformas estruturais despontar na frente das pesquisas, o mercado tende a ficar mais tranquilo e os juros futuros seguirão em baixa”, disse Eduardo Ponce, sócio e responsável pela área comercial da Genial Investimentos.
“Por outro lado, se as pesquisas apontarem o favoritismo de um candidato populista, menos comprometido com a estabilidade econômica, os investidores estrangeiros podem deixar o país, provocando alta do dólar e dos juros, o que vai afetar a rentabilidade dos investimentos”, afirmou Ponce.
Por causa do cenário incerto, o investidor deve evitar concentrar suas apostas em um mesmo tipo de aplicação. “Não dá para assumir uma posição única, concentrada. O melhor é ter uma carteira de investimento diversificada, mas com viés conservador”, declarou Gilberto Abreu, diretor de investimentos do banco Santander.
CDBs de bancos médios rendem mais do que poupança
Os CDBs e RDBs oferecidos por bancos pequenos e médios em plataformas de investimento de corretoras são boas opções para o investidor conservador que busca ganhos um pouco acima da Selic, sem abrir mão da segurança.
É possível encontrar papéis que pagam cerca de 20% a mais do que o Tesouro Selic, dependendo do prazo da aplicação. Em comparação com a poupança, o ganho pode ser ainda maior, na casa dos 30%.
O investidor deve prestar atenção ao prazo para sacar, que pode variar de um ano até sete anos. A maioria dos CDBs só permite saque no vencimento. Em geral, quanto mais longo o prazo, maior a rentabilidade.
“Os bancos médios apresentam um risco maior [de quebra] em um cenário turbulento de mercado. Por isso oferecem taxas melhores", afirmou Conrado Navarro, especialista em finanças pessoais da plataforma de investimentos Modalmais.
Mas o pequeno investidor não deve ficar preocupado com isso. "A aplicação em CDB conta com proteção do FGC [Fundo Garantidor de Crédito] até o limite de R$ 1 milhão por CPF ou de R$ 250 mil por banco”, disse Navarro.
Para quem vai precisar do dinheiro em menos de um ano, Navarro sugere as LCIs e LCAs, que também são emitidas por bancos médios. Esses títulos possuem prazo entre três e seis meses e ainda contam com a vantagem de isenção de Imposto de Renda, além da garantia do FGC contra quebra.
“Há LCIs com aplicação a partir de R$ 1.000, rentabilidade de 91% do CDI [5,8% ao ano] e prazo de quatro meses”, disse o especialista da Modalmais. A poupança, que também é isenta de imposto, rende hoje 4,5% ao ano.
Multimercados têm risco, mas oferecem rentabilidade maior
Os fundos multimercados são indicados para investidores que estão dispostos a correr um pouco mais de risco em troca de uma rentabilidade maior, mas não têm tempo para acompanhar o dia a dia do mercado financeiro, ou simplesmente não entendem como é o seu funcionamento.
Há diferentes tipos de fundo multimercado, mais ou menos arriscados, dependendo das estratégias de investimento adotadas. Quanto mais arriscado, maior a instabilidade, ou seja, a possibilidade de o investimento sofrer altos e baixos nos próximos meses.
O investidor precisa ter calma e manter a aplicação de olho no longo prazo para não sacar o dinheiro na hora errada. Antes de investir, leia a lâmina do fundo, um documento que resume a estratégia, e verifique o histórico de rentabilidade do fundo ao longo de um ano ou mais.
“O investidor pouco experiente e que busca um ganho superior ao das aplicações tradicionais, como a poupança ou o Tesouro Selic, deve investir parte dos seus recursos em fundos multimercados. Há opções com perfil de risco baixo e boa rentabilidade”, disse Navarro, do Modalmais.
“O fundo multimercado tem como vantagem a possibilidade de investir em diferentes ativos, como ações, juros e moedas, aproveitando os momentos de volatilidade para gerar maior rentabilidade”, declarou Abreu, do Santander.
“O gestor do fundo é um profissional preparado para avaliar as oportunidades de ganho disponíveis e os riscos envolvidos. O investidor deve pesquisar bons gestores e procurar se identificar com a estratégia do fundo”, afirmou Valter Police, responsável pela Academia Fiduc, que oferece treinamento de planejamento financeiro para profissionais do mercado.
Deixe o investimento em Bolsa para os profissionais
O investidor mais arrojado, que já tem alguma experiência em ações e outras aplicações de renda variável, deve redobrar o cuidado nos próximos meses. Embora a Bolsa de Valores tenha subido quase 9% em julho, nada garante que o bom desempenho vá se repetir nos próximos meses.
“O investidor arrojado não precisa tirar todo o dinheiro da Bolsa e migrar para a renda fixa. Mas é hora de reduzir as posições mais arriscadas. Descer um degrau na escala do risco. Ainda surgirão boas oportunidades, mas a volatilidade será muito maior daqui para frente”, afirmou Police.
“Volatilidade é sinônimo de risco, mas de boas oportunidades também. Mas tomar decisões de investimento sozinho, nesse momento, é complicado. A emoção pode levar o investidor a cometer erros”, disse Ponce.
O especialista da Genial Investimentos orienta seus clientes a seguir as recomendações de bons analistas de ações ou deixar o dinheiro aplicado em um fundo de ações. “O gestor tem mais acesso a informações, dispõe de mais tempo para análise e conta com ferramentas para reduzir a exposição ao risco e proteger o investimento.”
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