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Escândalos perseguem poderosos homens (e uma mulher) em Davos

Denis Balibouse/Reuters
Imagem: Denis Balibouse/Reuters

Jeff Green

21/01/2019 15h06

(Bloomberg) -- São tempos incômodos para os arquetípicos homens de Davos --e para pelo menos uma mulher.

Estabelecido em 1971 para apoiar uma perspectiva capitalista e global do futuro, o Fórum Econômico Mundial em Davos neste ano também dará visibilidade à humilhação pública de alguns de seus maiores defensores. Dezenas de executivos do passado e do presente sofreram acusações como assédio sexual, má gestão e má conduta financeira.

Em vez de circular novamente pelo evento, Carlos Ghosn está preso no Japão, acusado de mau uso de dinheiro da Nissan Motor, o que ele nega. Martin Sorrell, outra figura carimbada do evento ao longo da última década, não está na lista de participantes. Ele se afastou de sua agência de publicidade, a WPP, em abril, sob alegações de que fez mau uso dos recursos da empresa.

Outros estão de volta, apesar dos escândalos. Sheryl Sandberg, do Facebook, marcará presença no que seria pelo menos o 11º ano consecutivo, mesmo enfrentando perguntas sobre seu papel em diversas polêmicas.

Greg Jensen, da Bridgewater, que negou aos brados as acusações de assédio sexual, também está na lista, assim como o bilionário chinês Richard Liu, que foi detido, mas não indiciado em um caso de violência sexual no Estado americano de Minnesota.

"Davos reflete e define a cultura", disse Davia Temin. Sua consultoria de gestão de crise fez um levantamento que identificou mais de mil indivíduos, a maioria do sexo masculino, acusados de assédio ou outras infrações no último ano.

O levantamento incluiu pelo menos 25 homens que irão ou já foram ao evento na Suíça. "Eles refletem a cultura de liderança e olhar no espelho às vezes ajuda a iniciar essa discussão."

Relações no trabalho está entre temas mais buscados

Embora as atenções se voltem para os participantes mais famosos, toda a comunidade global de negócios representada em Davos foi alvo de acusações abrangentes, incluindo sexismo, assédio, falta de proteção à privacidade, ambiente de trabalho hostil, além das queixas crescentes de preconceito contra profissionais mais velhos.

Nesta semana, cerca de 3.000 executivos, celebridades, líderes mundiais e agentes de mudança estarão buscando soluções. O segundo tema de aprendizado mais procurado nesta edição envolve questões de capital humano, o que incluiria assédio, de acordo com uma participante que está montando a agenda dela no evento. O tema mais popular é segurança cibernética.

"O ponto de partida de tudo o que Davos já vez, segundo nossas pesquisas, é algum tipo de crítica ao capitalismo ou à elite global", disse Markus Giesler, especialista em sociologia do consumidor que dá aula de marketing na Faculdade de Administração Schulich da Universidade York, em Toronto.

Neste ano, o movimento MeToo e má conduta corporativa se juntam à mudança climática e à desigualdade entre as questões nas quais Davos tem oportunidade de demonstrar liderança, disse o professor.

Apenas 22% dos que vão a Davos são mulheres

Neste ano, 22% dos participantes em Davos são do sexo feminino, vindo de 15% em 2014, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Essa composição reflete o quadro geral de oportunidades globais para mulheres.

De acordo com estudo divulgado pelo fórum no mês passado, ainda deve demorar um século para haver igualdade de gêneros em termos de salário e poder.

Por outro lado, as mulheres presentes são mais poderosas do que as que vinham no passado porque agora conseguem cargos mais altos em empresas e governos, ressalta Pat Milligan, sócia sênior e líder global da plataforma When Women Thrive, da consultoria de recursos humanos Mercer.

As alegações de má conduta terão pelo menos um impacto tangível em Davos neste ano. O bilionário russo Oleg Deripaska, que bate ponto lá há pelo menos 11 anos, aparentemente está fazendo concessões após suspeitas sobre o vínculo dele com o presidente Vladimir Putin, que por sua vez é acusado de interferir nas eleições nos EUA.

Após passar boa parte do ano passado sob sanções econômicas impostas pelo governo americano, Deripaska talvez apareça no Fórum Econômico Mundial nesta semana.

De todo modo, há relatos de que foi suspensa a balada que o bilionário regularmente oferecia a executivos e líderes mundiais, convidando sempre lindas mulheres russas para animar a festa.

(Com a colaboração de Yuliya Fedorinova)