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Empresas ligam alarmes com a proximidade do Brexit

Joe Mayes

22/02/2019 12h02

(Bloomberg) -- A grife de David Keyte, a Universal Works, vende roupa masculina de vanguarda em todo o mundo.

A empresa com sede em Nottingham, Inglaterra, tem na União Europeia o maior mercado para suas elegantes jaquetas de camurça, cardigans e calças de pregas duplas. Mas a perspectiva de que ocorra uma ruptura caótica entre o Reino Unido e a União Europeia levou Keyte a transferir parte das operações de distribuição para Portugal para evitar possíveis tarifas -- o que custou empregos no Reino Unido.

"Faltam cinco semanas e eu ainda não tenho ideia do que vai acontecer", disse Keyte, cujas roupas são vendidas em mais de 150 lojas em todo o mundo, da Áustria a Taiwan. "É terrível."

A experiência dele se repete em todo o setor corporativo britânico: faltam 35 dias para a separação do Reino Unido de seu maior parceiro comercial e o risco de um Brexit sem acordo parece cada vez maior. A primeira-ministra Theresa May ainda briga para extrair concessões do bloco para ajudar a aprovar seu plano de saída no Parlamento antes do vencimento do prazo de 29 de março.

Preparação de fornecedores

Empresas como Nestlé, Bayer e Airbus já vêm estocando alimentos, remédios e máquinas e transferindo operações para o exterior. Agora as empresas estão ativando os estágios finais de seus planos de contingência, disse Brian Connell, consultor de cadeia de abastecimento da KPMG que assessora corporações com os preparativos para o Brexit.

"Elas estão implementando coisas que nunca pensaram que precisariam implementar", disse Connell. "Estão tendo que gastar um dinheiro considerável."

Entre as medidas estão a criação de "salas de situação", espaços físicos nos quais altos executivos se reunirão para tomar decisões táticas a respeito das demandas do dia a dia geradas por uma saída repentina, disse Connell.

As empresas também estão consultando freneticamente o estado de preparação de seus fornecedores para o Brexit. A BV Dairy, uma empresa com sede em Dorset, Inglaterra, que produz queijo cremoso de alta qualidade e cremes fermentados para clientes como a Pret A Manger, disse que tinha sido inundada de e-mails pedindo provas de seu estado de preparação para o Brexit.

Os preparativos aduaneiros também estão se intensificando. As empresas estão construindo novos sistemas de tecnologia da informação para lidar com tarifas extras para importações e exportações e a demanda de experiência em aduanas atualmente é tão elevada que corretoras e agentes de carga estão recusando negócios por falta de capacidade, disse Ross Denton, advogado especializado em comércio britânico da Baker McKenzie.

"Os executivos estão começando a acordar para alguns problemas bastante incomuns", disse.

A ABB, fabricante suíça de equipamentos industriais, adotou recentemente medidas que esperava evitar, como aumentar o capital de giro e contratar pessoas com experiência aduaneira e em compliance comercial, disse o diretor-geral para o Reino Unido, Ian Funnell, em entrevista.

"Francamente, é uma bagunça", disse ele a respeito do Brexit. "Nós nos preparamos para uma falta de acordo nos últimos nove meses. E esse é o único cenário confiável em que podemos trabalhar. A questão é, especialmente, gerenciar a cadeia de abastecimento, mas não é só isso exclusivamente. Tem a ver também com contratos e com transferência de pessoas para lá e para cá."

--Com a colaboração de Alex Morales.