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Fed define o que precisa para seguir paciente com juros nos EUA

Craig Torres

01/03/2019 15h02

(Bloomberg) -- Os grandes figurões do banco central americano dizem que a economia de lá vai bem e sugerem que acréscimos adicionais na taxa básica de juros dependerão de dados que aliviem preocupações sobre os riscos ao cenário futuro.

Comentários feitos nos últimos três dias pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e seu vice, Richard Clarida, delinearam claramente o debate para o encontro do comitê de política monetária (FOMC) no final do mês.

"A perspectiva básica deles é sólida, mas a discussão evidente é que os riscos pendem para a decepção'', disse Michael Hanson, estrategista-chefe de macroeconomia dos EUA da TD Securities, em Nova York.

Projeções trimestrais atualizadas serão divulgadas na reunião do FOMC, marcada para os dias 29 e 30 de março. O que está claro é que a expectativa das autoridades para a expansão econômica pode piorar e levar à reversão da sinalização de dezembro, de dois acréscimos nos juros em 2019.

"Mesmo na comparação com dezembro, provavelmente eu reduziria" minha projeção para o crescimento global, afirmou Clarida diante da Associação Nacional de Economia de Negócios, na quinta-feira. Entre as principais preocupações das autoridades estão a desaceleração da economia mundial, o aperto das condições financeiras e incertezas relativas ao comércio internacional e à saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit).

Palavra-chave

A nova palavra-chave no comitê do Fed é "paciente". A expressão foi usada no comunicado de janeiro e seu significado foi detalhado em discursos e durante os dois dias de audiência de Powell ao Congresso nesta semana.

Powell e Clarida estão claramente dispostos a permitir que os índices de inflação decidam se a taxa básica de juros está baixa ou alta demais e eles não estão convencidos de que precisa subir.

"A visão deles sobre a proximidade do território restritivo dependerá de como evolui a inflação'', disse Robert Martin, diretor executivo da UBS Securities, em Nova York. "Eles querem que os dados ensinem.''

O conceito é tão importante que foi repetido voluntariamente por Powell na conclusão da audiência ao Senado, na terça-feira.

"Seremos pacientes. O que isso significa realmente é que não temos pressa para fazer um julgamento sobre mudanças'' na política monetária, disse o comandante do Fed ao presidente do comitê de bancos do Senado, Mike Crapo. "Vamos permitir que a situação evolua.'' Ele repetiu a ideia em outro discurso, na quinta-feira em Nova York.

Mesmo as projeções que as autoridades fizerem em março estarão cobertas de incerteza. Foi assim com as projeções de dezembro, como mostrou a ata daquela reunião. No entanto, os mercados se assustaram na ocasião com a comunicação que sugeria compromisso com aumentos adicionais nos juros. Por isso, nos últimos dois meses, as autoridades se empenham para reverter o estrago.

"Foi uma rota tortuosa e desastrosa até chegar onde eles estão, mas eles estão contentes por estarem ali", disse Mark Spindel, dono da Potomac River Capital, se referindo à pausa recente nos acréscimos de juros. "Eles realmente acham que estão em um ponto ótimo.''

Outra característica da doutrina de paciência foi desistir da ideia de elevar juros com base em previsões de aceleração da inflação. Clarida explicou que, mesmo se um modelo apontar para a disparada da inflação adiante, a decisão em torno dessa previsão teria de levar em conta o "custo considerável'' incorrido se a previsão estiver errada.

"Diante da inflação contida e da estabilidade das expectativas de inflação, acredito que podemos ser pacientes e permitir que os dados cheguem a nós enquanto decidimos os possíveis ajustes futuros" no intervalo da meta para a taxa básica de juros, disse Clarida.

(Com a colaboração de Alex Tanzi)