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Um desastre em 6 minutos: como os pilotos agiram no Boeing Max

Alan Levin, Julie Johnsson e Mary Schlangenstein

05/04/2019 10h07

(Bloomberg) -- Os alarmes começaram a soar apenas alguns segundos depois do voo 302 da Ethiopian Airlines ter decolado em 10 de março, em Addis Abeba, com 157 pessoas a bordo.

À medida que os indicadores de velocidade e altitude começaram a sair do controle, um dispositivo conhecido como stick shaker foi ativado no lado esquerdo do cockpit, onde fica o capitão. O mecanismo emite um forte ruído e sacode a coluna de controle do piloto para alertar sobre uma iminente parada aerodinâmica.

Mas o Boeing 737 Max não corria risco de uma parada. Na verdade, um computador estava recebendo leituras errôneas de um sensor instalado como um cata-vento no nariz do jato. O problema acionou um mecanismo para paradas que forçou o avião a um mergulho - o mesmo sistema relacionado a um acidente há menos de cinco meses, na Indonésia, que matou 189 pessoas.

Para suspender o mecanismo, os pilotos da Ethiopian Airlines responderam com pelo menos alguns dos passos que a Boeing e a Administração Federal de Aviação dos EUA haviam recomendado depois do primeiro acidente. Mas, em meio a uma confusão de alarmes, também fizeram uma inspeção rigorosa enquanto tentavam retomar o controle da aeronave, segundo três pilotos com experiência em investigações de acidentes: acionaram os motores quase ao máximo.

"A impulsão estava na capacidade máxima em todo o trajeto", disse Roger Cox, um ex-investigador de acidentes no Conselho Nacional de Segurança de Transporte, que pilotou modelos anteriores do 737 quando trabalhava em companhias aéreas. "Isso é extremamente curioso."

A ministra dos Transportes da Etiópia, Dagmawit Moges, disse em entrevista coletiva, na quinta-feira, que os pilotos seguiram os procedimentos apropriados recomendados após a queda de um jato da Lion Air, em outubro. A ministra recomendou que a Boeing revise seu sistema de controle de voo. As autoridades de aviação devem verificar se os problemas foram adequadamente identificados "antes da liberação da aeronave para operar", disse.

Autoridades de segurança etíopes evitaram dizer se o avião precisa ser remodelado.

Ainda assim, com dois desastres em cinco meses, a Boeing enfrenta uma das maiores crises em seus 100 anos de história. O acidente na Etiópia levou ao cancelamento mundial dos voos com o 737 Max, a versão renovada de um modelo de avião que responde por cerca de 30% do lucro operacional da Boeing. Os acidentes também levaram a múltiplas investigações e revisões - como uma investigação criminal liderada pelo Departamento de Justiça dos EUA - de como as agências reguladoras dos EUA certificaram o falho sistema antiparada, conhecido como MCAS.

A suspensão dos voos tem pressionado a Boeing a encontrar uma solução que poupe os pilotos de tomarem decisões tão complicadas, em frações de segundo, para manter o 737 Max voando. A empresa está reprogramando seu software e espera concluir os trabalhos em algumas semanas. Entre outras mudanças, uma atualização impedirá que o sistema de segurança seja acionado quando apenas um dos sensores detectar uma parada.

"Nós da Boeing sentimos muito pelas vidas perdidas nos recentes acidentes de 737 Max", disse o CEO Dennis Muilenburg em um vídeo. A empresa diz que o acidente foi causado por "uma cadeia de eventos" e reconheceu o mau funcionamento do sensor.

--Com a colaboração de Nizar Manek, Todd Shields e Lucca de Paoli.

Repórteres da matéria original: Alan Levin em Washington, alevin24@bloomberg.net;Julie Johnsson em Chicago, jjohnsson@bloomberg.net;Mary Schlangenstein em Dallas, maryc.s@bloomberg.net