Coronavírus se espalha por frigoríficos da Europa ao Brasil
(Bloomberg) -- Os surtos de coronavírus que fecharam frigoríficos nos Estados Unidos agora atingem outros gigantes do setor da Europa ao Brasil.
Por enquanto, os cortes da oferta não provocaram falta de hambúrgueres e alta dos preços como nos EUA. Em parte, porque em outros países as unidades de abate tendem a ser menores, o que amortece o impacto no mercado quando alguma é fechada. Mas, como agora os frigoríficos também se tornam focos do novo vírus, levantam preocupação de autoridades locais, levando ao fechamento de unidades.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e uma interrupção relevante na produção dessas proteínas no país pode levar a um agravamento no quadro de aperto na oferta global.
Na Europa, um frigorífico irlandês foi fechado, enquanto na Alemanha autoridades culparam as condições de trabalho e aglomeração em dormitórios para trabalhadores sazonais pelos surtos de vírus que fecharam duas instalações. A chanceler alemã Angela Merkel classificou a situação de "alarmante". No Brasil, BRF e JBS tiveram que fechar uma unidade de produção de frango cada em meio a uma investigação devido ao aumento dos casos.
"O Brasil não está imune à pandemia", disse Lorival Luz, presidente da BRF, maior exportadora de carne de frango e suína do país. "Dependendo das medidas que possam ser tomadas pelas autoridades, podemos ter algumas dificuldades que podem trazer escassez de oferta".
Enquanto algumas poucas empresas dominam o setor nos EUA, os 15 maiores produtores da União Europeia respondem por menos de um terço da produção. Isso minimiza o impacto quando algum frigorífico é fechado. E em contraste com o sistema de confinamento nos EUA, o gado no Brasil é engordado em amplas pastagens espalhadas por diferentes regiões do país, o que exige mais abatedouros menores perto das fazendas.
"A questão da escala é uma espécie de marca do tamanho da indústria dos EUA", disse Justin Sherrard, analista global de proteína animal do Rabobank Group. "Isso também cria certa vulnerabilidade nesta situação de pandemia."
Taxas de infecção
Processadoras na Europa também reduziram operações durante a pandemia por causa das fracas vendas de carne e restaurantes fechados, disse Karsten Maier, secretário-geral da European Livestock and Meat Trades Union.
No Brasil, o setor de carnes ainda opera em grande parte em ritmo normal. Logo no início do surto, as empresas tomaram medidas para reduzir o contágio, como limitar grupos em refeitórios, distribuir máscaras e reforçar a higienização.
A Minerva, que lidera as exportações de carne bovina na América do Sul, implementou distância mínima de 2 metros entre trabalhadores dentro dos frigoríficos e aumentou os turnos, segundo o diretor financeiro Edison Ticle.
"Reforçamos os EPIs (equipamentos de proteção individual) de todos os funcionários", disse Ticle a jornalistas no mês passado. "Parecem astronautas indo trabalhar."
Até agora, o maior impacto foi visto nos EUA, onde mais de 30 trabalhadores do setor de carne morreram por Covid-19 e pelo menos 30 frigoríficos foram fechados em algum momento nos últimos dois meses.
Um setor que se assemelha à escala dos frigoríficos nos EUA é a indústria avícola brasileira. As processadoras do país são enormes, com abate de até 500 mil aves por dia que exige 2 mil ou mais trabalhadores.
As processadoras inicialmente relutaram em compartilhar informações e adotar recomendações do Ministério Público do Trabalho, disse Priscila Schvarcz, procuradora do trabalho no Rio Grande do Sul, onde os dois frigoríficos foram fechados. Seis empresas, incluindo a BRF, já assinaram protocolos para conter a propagação do vírus, disse Priscila.
"No setor de carnes, muita gente acompanha o que está acontecendo no Brasil, porque o país é um grande fornecedor para o mundo inteiro", disse Max Green, analista de gado e carne da IHS Markit, em Londres. "Se tiverem um impacto sério na produção, isso afetaria mais o suprimento global de carne."
©2020 Bloomberg L.P.
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