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Incerteza do "pós-Brexit" coloca economia do Reino Unido em xeque

23/11/2018 15h46

Guillermo Ximenis.

Londres, 23 nov (EFE).- As dificuldades enfrentadas pelas empresas do Reino Unido para planejar o futuro após a saída da União Europeia e os temores quanto aos efeitos do Brexit sobre a libra esterlina estão colocando a economia da região em xeque.

O Banco da Inglaterra calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido deixou de crescer 2% desde o referendo que estabeleceu o Brexit em 2016. Além disso, muitos analistas alertam que os britânicos estão arriscando entrar em uma profunda recessão se romperem seus laços com o bloco europeu sem um acordo comercial.

A incerteza já se reflete concretamente em índices econômicos da região. O investimento empresarial caiu nos últimos trimestres e as vendas no varejo caíram pela falta de confiança dos consumidores.

"Não tem tanto a ver se o Brexit é ou não desejável para o Reino Unido, mas sim com a dificuldade em saber aonde estaremos daqui 12 meses ou cinco anos", afirmou a analista Laith Khalaf, da Hargreaves Lansdown, em entrevista à Agência Efe.

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, provocou uma tempestade política ao apresentar o texto do acordo sobre a saída da UE, que, por enquanto, não conta com apoio suficiente para ser aprovado no parlamento britânico.

Após o anúncio, a libra esterlina sofreu a maior queda em um único dia desde 2016 - cerca de 2% em relação ao euro e ao dólar. As ações dos bancos britânicos despencaram nas bolsas. Os papéis do RBS, o mais afetado pelo anúncio, caíram 9,63%.

Os analistas acham que esse cenário é uma advertência sobre o que pode ocorrer se May não conseguir maioria para aprovar o texto firmado com a UE na Câmara dos Comuns.

O país entraria em um clima de incerteza que poderia provocar a convocação de eleições gerais, a realização de um novo referendo ou até uma ruptura abrupta do vínculo com o bloco europeu.

"Sem uma preparação adequada para um 'Brexit' sem acordo, o mercado britânico enfrentaria uma ameaça tripla no futuro próximo: um choque político, econômico e financeiro", previu a economista-chefe da G Plus Economics, Lena Komileva.

"O Reino Unido tem uma economia muito aberta, altamente dependente das cadeias de fornecimentos europeias quanto ao mercado doméstico de bens de consumo e do mercado comunitário para a exportação de serviços financeiros", explicou a economista.

O setor bancário pode ser um dos mais afetados caso a economia britânica desacelere, ampliando os índices de inadimplência.

Um Brexit não negociado ainda deve forçar a manutenção de baixas taxas de juros no Reino Unido, o que também afetaria os resultados das instituições financeiras no curto prazo.

A queda da confiança no mercado de ações levou os investidores a ampliarem as compras de bônus de títulos da dívida pública nos últimos meses, uma movimentação que, na avaliação de analistas, pode ser prejudicada caso haja uma saída abrupta da UE.

"Apesar de ser percebido como um refúgio seguro, é preciso também admitir que existem riscos neste cenário por causa do Brexit", analisou Khalaf.

Deixar a UE com um pacto que garanta uma transição longa, com a permanência do Reino Unido nas estruturas do bloco, é o primeiro passos para afastar os riscos econômicos. No entanto, o pacto não resolverá todas as incertezas sobre o processo.

Assim que o Reino Unido deixar a UE, as partes começarão a negociar suas futuras relações comerciais, o que pode demorar vários anos. O acordo do Brexit prevê um período de transição, até 31 de dezembro de 2020, que pode ser prorrogado apenas uma vez.

"Se o acordo for aprovado pelo parlamento - e por enquanto estamos muito longe disso ocorrer -, isso aliviaria muito da pressão sobre a libra esterlina, mas a incerteza ainda persistiria", argumentou a analista da Hargreaves Lansdown.

Em uma nota enviada a investidores, a UBS alertou que deixar a UE sem acordo - ou com uma versão mais dura do Brexit - levaria o Reino Unido a uma "breve recessão". Até então, a previsão é de que a economia do país cresça 1,8% em 2019 se o pacto que está sobre a mesa seja aprovado.

No cenário abrupto, a libra esterlina pode cair para US$ 1,15 em um período de até seis meses, uma queda de 11% em relação às cotações previstas para uma saída acordada do bloco europeu.

A agência de classificação de risco S&P projeta uma "recessão moderada" em caso de um "Brexit desordenado" - uma queda de 1,2% do PIB em 2019 e de 1,5% em 2020.