Crise argentina terá efeito limitado no Brasil, segundo analista do Santander
A atual crise econômica na Argentina, agravada pela incerteza sobre o resultado das próximas eleições, terá um impacto "limitado" no Brasil, cujo PIB registrou um tímido crescimento no segundo trimestre de 2019, alertou hoje a economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi.
"Trata-se de um impacto limitado, porque a economia argentina já estava frágil (antes das eleições primárias de 11 de agosto, nas quais o atual presidente, Mauricio Macri, foi derrotado pelo candidato peronista Alberto Fernández). Já sofremos perdas das nossas exportações, como no setor automotivo, embora esteja claro que sempre há algum impacto quando se agrava a crise na Argentina", disse Vescovi em um encontro com jornalistas em São Paulo.
A crise econômica na Argentina, que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, provocou no país vizinho uma forte desvalorização do peso frente ao dólar, a queda do rendimento dos títulos públicos e uma disparada do índice de risco-país.
Ontem, o problema se agravou com o anúncio do governo de uma série de iniciativas para aliviar os compromissos financeiros, como a extensão dos prazos de algumas dívidas, incluindo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A economista-chefe do Santander Brasil lembrou que o agravamento da crise na economia argentina ocorre em um momento associado à possibilidade de vitória de Fernández sobre macri - visto como pró-mercado - nas eleições presidenciais de outubro.
Vescovi, ex-secretária executiva do Ministério da Fazenda, comentou os dados do PIB brasileiro correspondente ao segundo trimestre divulgado nesta quinta-feira e segundo os quais o país cresceu um 0,4% em relação ao primeiro trimestre, acima das expectativas dos analistas e o que atenuou os temores de uma nova recessão técnica.
"Temos uma recuperação sim, mas é gradual, lenta, em função de vários fatores associados à perda de produtividade pela crise de 2015-2016", disse, referindo-se aos anos em que o Brasil sofreu sua maior recessão em várias décadas.
Para a economista, é necessário que o país mude sua "estrutura econômica", e para isso deve aprofundar o seu programa de reformas. Entre as mais urgentes, ela citou a da previdência, que está na última fase de trâmite no Senado.
"Esta (reforma) não é a última. Será uma entre muitas para chegar a um bom nível de desenvolvimento", advertiu.
"A reforma da Previdência é a solução para evitar um colapso nas contas públicas", acrescentou.
Vescovi, que assumiu o posto de economista-chefe do Santander em junho, alegou que seria muito positivo que no trâmite da reforma no Senado sejam incluídos os estados e municípios, que têm a maior parte dos funcionários públicos no Brasil.
"Incluir estados e municípios seria o maior benefício para a reforma. Eles têm um déficit de cerca de R$ 400 bilhões por ano. Estão em uma situação tão ou mais frágil que a da União", ressaltou.
Além disso, Vescovi traçou o percurso da dívida pública em relação ao PIB caso a reforma previdenciária seja aprovada. Atualmente equivalente a cerca de 80% do PIB, ela subirá para 82% em 2022-2023 e cairia para algo em torno de 60% por volta de 2040, segundo a economista.
"Países na mesma etapa de desenvolvimento que o Brasil têm uma dívida pública de 50%", lamentou.
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