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FMI vê perda de fôlego na economia global

Altamiro Silva Junior, Anne Warth e Beatriz Bulla

Buenos Aires e Washington

29/11/2018 08h05

O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai alertar os principais líderes globais durante a reunião do G-20 em Buenos Aires (Argentina), que começa nesta sexta-feira (30), que o crescimento da economia mundial prossegue, mas se tornou mais desigual. Há sinais de que a expansão pode estar ficando mais moderada e a atividade mundial pode perder fôlego mais rapidamente que o previsto, de acordo com documento preparatório para o encontro divulgado nesta quarta-feira (28).

O texto afirma que os riscos de piora da atividade mundial cresceram e fala da "necessidade urgente" de se reduzir as tensões comerciais no planeta. Indicadores recentes da atividade econômica mundial, ressalta o FMI, surpreenderam negativamente, sugerindo que a desaceleração da atividade pode se dar de forma mais rápida que o esperado, tanto nos países desenvolvidos como nos emergentes, na medida em que cresceram as tensões comerciais no planeta e as condições financeiras ficaram mais apertadas.

Países como Alemanha, Itália e Japão estão crescendo menos que o esperado, enquanto os EUA seguem avançando em ritmo forte, observa o FMI. A China já teve de tomar medidas de flexibilização monetária e de estímulo da atividade para contornar os efeitos da tensão comercial com os EUA, segundo o documento. Nas últimas semanas, o mercado financeiro mundial tem mostrado momentos de estresse, por conta das renovadas preocupações dos investidores sobre os rumos da economia mundial.

"As condições financeiras nos países desenvolvidos ainda são acomodatícias, mas podem piorar abruptamente", alerta o FMI ao falar de riscos para o cenário global. Uma das preocupações é a inflação se acelerar nos EUA por conta da política fiscal expansionista de Donald Trump, obrigando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a elevar os juros de forma mais rápida, o que aumentaria ainda mais a pressão nos mercados emergentes.

O fortalecimento do dólar e a alta de juros no exterior já afetou muitos emergentes, sobretudo os mais vulneráveis, menciona o documento, citando a Argentina e a Turquia.

O documento do FMI alerta ainda que uma escalada adicional das tensões comerciais é um dos "riscos-chave" no cenário atual e pode deteriorar a confiança dos agentes na economia mundial e provocar "perda substancial" no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. As incertezas sobre os rumos da saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, também podem ter efeito similar na confiança e na atividade, ressalta o FMI.

E o Brasil

A possibilidade de que uma desaceleração da atividade global aconteça de forma mais rápida do que o esperado, pode jogar pressão no ajuste fiscal que deverá ser feito pelo próximo governo brasileiro. A avaliação é de Christopher Garman, diretor para Américas da consultoria de risco político Eurasia. Segundo ele, durante períodos de contexto econômico global adverso, "as exigências de atacar gargalos macroeconômicos aumentam".

"Traduzindo para o Brasil, uma grande questão é qual será o tamanho do ajuste fiscal necessário que o governo Bolsonaro terá de fazer. Talvez a tolerância do mercado perante um ajuste fiscal venha a diminuir e venha a apertar mais a tensão da composição desse ajuste", afirmou Garman.

Ele destaca que o Brasil tem hoje necessidade de ajuste fiscal da ordem de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo uma reforma da Previdência "razoavelmente enxuta", que não seja capaz de representar uma economia significativa para atacar de uma só vez os problemas de déficit público do Brasil, pode ser interpretada pelos mercados como um sinal positivo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.