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Com dificuldades em rede, Advent pode acabar com marca Walmart no Brasil

Fernando Scheller e Mônica Scaramuzzo

São Paulo

07/08/2019 12h07

Um ano após adquirir a operação de 400 lojas e faturamento de R$ 28 bilhões, o fundo americano Advent enfrenta uma corrida ladeira acima para colocar nos eixos a complicada operação do Walmart Brasil. Para facilitar o trabalho --que envolve questões financeiras, administrativas e de imagem --, o Advent chegou a tentar a compra do Grupo Pão de Açúcar no país, mas o negócio não foi adiante, apurou o 'Estado'.

Agora, o fundo se debruça na redução do complexo portfólio de marcas. A tendência, nesse processo, é que o nome Walmart perca força e possa até ser descartado.

Em distante terceiro lugar em relação a Carrefour e GPA no varejo de alimentos, o grupo tem sete marcas: Big, Bompreço, Mercadorama, Sam's Club, Maxxi e Todo Dia, além do próprio Walmart.

Segundo fontes, do enxugamento devem surgir quatro carros-chefe: Maxxi (atacarejo), Sam's Club (clube de compras), Bom Preço (no Nordeste) e Big (no Sul). O Walmart, concentrado em hipermercados, deve naturalmente perder espaço. Parte das lojas já estão sendo convertidas em Maxxi ou Sam's Club. Entre elas, o Walmart em frente ao Ceagesp, na Vila Leopoldina.

A possibilidade reflete a série de erros que o Walmart cometeu desde o início de suas operações por aqui, em 1995, diz Alexandre van Beeck, sócio-diretor da GS&Consult.

O lema "preço baixo todo dia" nunca foi entendido pelo consumidor brasileiro. "A estratégia promocional é incentivo para o consumidor ir à loja. Sem ela, a frequência fica comprometida", diz. "Além disso, o cliente não achava que, na soma do carrinho, o Walmart era mais barato que as outras."

O Advent não comprou o Walmart no escuro. Ao se comprometer a investir cerca de R$ 2 bilhões na varejista nos próximos anos, o fundo sabia dos gargalos. Antes de fechar o negócio com o fundo no ano passado, a matriz americana vinha tentando se desfazer das operações do Brasil havia dois anos. O negócio chegou a ser oferecido ao Pão de Açúcar e ao Carrefour.

Conversões

Sob o comando de Luiz Fazzio --que teve passagens por GPA, Carrefour e C&A e é sócio minoritário do Walmart Brasil--, a varejista está seguindo a estratégia das líderes do setor no que se refere à reorganização de lojas.

Uma das táticas é a conversão de hipermercados --segmento de baixo retorno-- em atacarejos. Até agora, a empresa anunciou 20 conversões, além de reformas nas 45 lojas existentes. A marca Maxxi deve ancorar esse processo, ao lado do Sam's Club, clube de compras de estrutura semelhante.

Entre as 400 lojas do Walmart, mais de 100 unidades são no formato de hipermercados. Fontes do setor duvidam que a estratégia de priorizar o atacarejo possa resolver os problemas do grupo até porque Assaí e Atacadão - do GPA e do Carrefour, respectivamente - são marcas maduras e que continuam a se expandir. "A concorrência percebeu a rejeição ao hipermercado antes e está mais adiantada no processo de reformatação de lojas", diz Beeck.

Em março, o Walmart também fechou a operação na internet --hoje, o site se resume a uma lista das lojas físicas. Segundo apurou o Estado, a ideia é retomar a venda online, com a entrega de alimentos. Em 2017, ainda sob a gestão anterior, a rede fechou seu site próprio de venda de eletrodomésticos, enquanto o Advent encerrou o marketplace em março.

Abertura de capital

Para o Advent, a "virada" do Walmart do Brasil deverá ser um trabalho de longo prazo, até porque o desempenho do setor como um todo não tem sido positivo. A abertura de capital do grupo na Bolsa depois do processo de reorganização está no radar do Advent, segundo fontes.

Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a receita do setor teve alta de apenas 0,7% em 2018. Segundo apurou o Estado, porém, a "porta de saída" vislumbrada pelo fundo também emula as rivais GPA e Carrefour: a ideia é abrir o capital da operação quando a casa estiver arrumada.

Procurados, Advent, Walmart e GPA não comentaram.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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